Desde o dia 15 de outubro, cerca de 150 militantes mantêm suas barracas sob o Viaduto do Chá. É a versão paulistana do movimento global que vem ocupando diversas cidades, inclusive Nova Iorque, em Wall Street, onde as barracas foram retiradas pela polícia nesta segunda, 14. São milhares de pessoas que, em comum, tem a crença que a democracia representativa fracassou.
Em São Paulo, o acampamento se mantém organizado em comissões rotativas – de boas-vindas, de programação, de comunicação, de alimentação e de comunicação. Todas as segundas e quartas acontecem assembleias às 20 horas, onde os gestos com as mãos servem para dizer se concordam com o interlocutor, se ele está enrolando ou ainda se está desviando do assunto, entre outros sinais.
“O que nos une é o fato de sermos um movimento anti-capitalista, mas não necessariamente socialista”, disse a estudante Julia Spindel, que está acampada há um mês. Segundo ela, viver esses dias no centro está sendo um aprendizado muito grande. “Aqui é uma escola de militância”, afirmou. O movimento é apartidário e defende a democracia direta e a não-violência.
Diversas atividades, como aulas públicas e debates, têm sido realizadas no local. Nesta segunda, 14, o professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP Pablo Ortelado falou sobre segurança pública e democracia na universidade. Nesta terça, 15, a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl discute “desencanto em tempos de capitalismo”, às 17h.
Apesar da resistência dos acampados, na opinião de Pedro Miguel Camargo, também estudante, há um silêncio absoluto por parte dos veículos tradicionais de comunicação sobre o movimento. Ele faz parte das pessoas que frequentam o acampamento, mas não estão necessariamente acampados. A maioria dos que se mudaram para o local é estudante, mas há também pessoas mais velhas e moradores de rua.
Segundo militantes, policiais civis teriam espalhado entre as pessoas em situação de rua da região central da cidade que havia um grupo com equipamentos caros e distribuindo comida. “Muitos moradores de rua entenderam que a gente está lutando por uma sociedade mais justa, explicamos isso a eles, e muitos aderiram ao movimento”, disse Julia. Para ela, as pessoas mais velhas, da geração de seus pais, “passaram por muitas desilusões e acabam desincentivando os jovens a lutar por um mundo melhor”.
O acampamento também atrai pessoas como Holandina Arruda Rezende, que, na segunda, estava há dois dias cozinhando as três refeições diárias como voluntária. “Eu me mudei pra cá porque eu acho que o mundo pode melhorar, né?”, disse. No acampamento, a comida é vegetariana, até por conta da dificuldade de conservação da carne, na segunda, 14, o cardápio era arroz integral com vagem e cenoura, batata e berinjela empanada.
Até quando eles vão ficar sob o Viaduto do Chá? “Aqui tudo é decidido por consenso”, explicou Julia. “Ainda não sabemos, mas é difícil conseguir repercussão da maneira que a gente quer.”
O movimento divulga em seu site uma lista de necessidades e pede doações.
* Publicado originalmente no site da Revista Fórum.