Não consigo entender a lógica do governo nesse enfrentamento da crise.
Blindou-se relativamente a economia brasileira, graças às reservas cambiais e ao mercado interno. E só. Cadê a visão estratégica para aproveitar oportunidades?
No plano externo, permite-se que, com o câmbio apreciado, as exportações asiáticas e europeias se apropriem da maior parte do crescimento do mercado de consumo em diversos setores.
No plano interno, o BNDES tonou-se o financiador de empresas estrangeiras em dificuldades, à custa do consumidor brasileiro.
A matriz da empresa entra em dificuldades, por conta da crise mundial. A empresa então rapela o cofre, envia para a matriz 100% do lucro e ainda juros sobre capital próprio. Desvia recursos que deveriam estar investindo aqui.
Parte desse desvio resulta em deterioração dos serviços, um custo indevido pago pelo consumidor. Hoje em dia, algumas operadoras de celulares estão em estágio pré-pane.
Parte dos investimentos mínimos é garantido pelo BNDES: a empresa remete o lucro total e se financia no BNDES.
Não tem lógica. O papel do BNDES sempre foi o de suplementar o investimento, de agregar novos ativos ao país. Esse papel substitutivo não é da lógica do banco nem do interesse nacional.
Se o banco continua com o sonho da grande empresa nacional, que monte pools de investidores para adquirir o controle de algumas dessas empresas cambaleantes, ou lá fora ou aqui dentro. Se a matriz não dá conta de garantir os investimentos internos, nem à custa de reinvestimento de lucros, que venda o controle para grupos em condições.
Agora, amparar multinacionais dessa maneira é uma ação antinacional.
* Publicado originalmente no Luis Nassif Online e retirado do site da revista Carta Capital.