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Ativistas pedem por saneamento no Sul

Madri, Espanha, 22/11/2011 – Quase 40% dos sete milhões de pessoas que povoam a Terra carecem de banheiro e outros sistemas básicos de saneamento, enquanto 1,1 bilhão delas defecam diretamente ao ar livre, dando lugar a uma verdadeira pandemia de diarreia mortal, alertam ativistas. A diarreia ocasiona a morte de mais crianças do que o vírus HIV, causador da aids, a malária e o sarampo juntos, “algo terrível de imaginar”, destacou Alberto Guijarro, responsável pela campanha organizada pela Ongawa Engenharia para o Desenvolvimento Humano, por ocasião do Dia Mundial do Saneamento, celebrado no dia 19.

Anualmente são registrados no mundo quatro bilhões de casos de diarreia, sendo que 1,8 milhão dessas vítimas morrem por essa causa, sendo 90% menores de cinco anos, afirma a organização não governamental a partir de dados da Organização Mundial da Saúde. “O mais terrível é que, se tivessem acesso a saneamento, essas mortes teriam redução superior a 30%”, disse Guijarro à IPS.

As soluções são possíveis e simples, mas falta vontade política para destinar recursos financeiros necessários e impulsionar políticas de cooperação com os países afetados, acrescentou o ativista da Ongawa, organização não governamental nascida em Madri que “coloca a tecnologia a serviço do desenvolvimento humano e do combate à pobreza no Sul”.

A Ongawa e outras entidades da sociedade civil organizaram no dia 17, na Praça 2 de Maio, em Madri, uma mobilização para sensibilizar as pessoas, e especialmente o governo, sobre este drama e a necessidade de cooperar com o desenvolvimento. Abrigos e vasos sanitários foram expostos para exigir soluções efetivas para o déficit registrado em sistemas básicos de saneamento, especialmente em vários países da África e da Ásia.

Antonio, um senhor que vive na pequena propriedade agrária familiar onde nasceu, na província de Guadalajara, recorda que, até a década de 1970, a maioria dos camponeses tampouco tinha vaso sanitário e nem mesmo um rústico banheiro. “As mulheres se escondiam entre as árvores quando estavam fora de casa, e se estavam dentro o faziam em uma escarradeira ou uma lata”, acrescentou.

Cada um dos 26 abrigos e vasos sanitários que a Ongawa e seus colegas colocaram no calçadão central de Madri levam impressa uma letra da frase “Direito Humano ao Saneamento”, fazendo com que cada abrigo represente cem milhões de pessoas. Guijarro lembrou que a falta de saneamento afeta o direito reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em julho de 2010.

A seu ver, algo muito importante é aumentar a informação sobre como este problema afeta o desenvolvimento humano. “É urgente que todos comentem uma e outra vez esta situação, para ajudar com eficiência a criar uma consciência social sobre o que acontece”, afirmou. “Poderão ser impulsionadas mais medidas políticas se houver um forte apoio da população, para apoiar iniciativas que apostem no Direito Humano ao Saneamento”, acrescentou.

Em um comunicado, a Ongawa afirma que o saneamento deve estar acompanhado de hábitos de higiene, já que o simples ato de lavar as mãos diminui quase pela metade a incidência da diarreia e de outras doenças. Por isto, considera que “a promoção da higiene é a intervenção em saúde pública mais rentável”. Se não houver acesso a saneamento, em geral, implica que os investimentos governamentais se desviem para tratamentos sanitários urgentes, em lugar de se investir em planos de desenvolvimento para o país.

Como exemplo, a organização diz que somente no sudeste asiático são lançados 13 milhões de toneladas de fezes por ano nas fontes de águas interiores. No lado positivo, a Ongawa diz que, nos países em desenvolvimento, o saneamento melhorado, ou seja, um sistema que impede o contato da pessoa com a matéria fecal, bem com a educação em higiene, produz, em geral, US$ 9 de benefício para cada US$ 1 gasto.

A organização também afirma que em Alwar, noroeste da Índia, o desenvolvimento em infraestrutura de saneamento nas escolas provocou uma melhoria nos resultados acadêmicos, incluindo aumento em um terço nas matrículas de meninas, o que também foi obtido em Bangladesh.

Outro caso positivo destacado é a resposta do governo da Malásia a focos de cólera em 1973. Esta consistiu em criar um programa nacional de saneamento rural que, após 35 anos de esforços sustentados no âmbito local, conseguiu fazer com que 98% da população tenha acesso a um vaso sanitário, o que representou uma grande redução na incidência do cólera, da disenteria e da febre tifoide.

Neste contexto, a Ongawa, com o programa “Saneamento total liderado pela comunidade”, aborda o problema a partir da ação coletiva da comunidade, promovendo a coesão e o orgulho pelos avanços alcançados em numerosos países, destacando os planos em execução na Tanzânia, em Moçambique e particularmente na Nicarágua, onde se desenvolve a iniciativa “vaso sanitário ecológico popular”. Envolverde/IPS