Brasil e a crise: os fundos de pensão

Nos próximos anos, os fundos de pensão e fundos de investimento em geral serão o grande motor do desenvolvimento brasileiro.

Há uma revolução em curso, ainda não percebida.

À medida que as taxas de juros da Selic começam a cair e a dívida pública a reduzir – como proporção do PIB – parte substantiva dos recursos dos fundos de investimento migrarão para a atividade real, inclusive para poder fazer frente às metas atuariais – isto é, aos compromissos futuros com seus associados.

Há seis meses, praticamente não há mais inversões do Funcef – o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) – em títulos públicos. Parte se deve à redução relativa da dívida. Parte a uma política competente da Secretaria do Tesouro, de troca do perfil da dívida brasileira, esticando os prazos e reduzindo o risco Brasil.

O Funcef tem um patrimônio de R$ 500 bilhões, dos quais R$ 90 bilhões vencerão nos próximos quatro anos e não serão reaplicados na renda fixa. Somados à arrecadação nova, é uma quantia formidável, atrás de novos perfis de investimento.

Essa mudança do perfil dos fundos começou em 2004. Na época, o Funcef tinha uma carteira de R$ 9 bilhões por ano, dos quais 50% aplicados na Selic. O indexador que acompanhava, para fixar suas metas, era a Selic.

Hoje a carteira está em R$ 50 bilhões por ano e a Selic responde por apenas 9% dela. O indexador a ser seguido é a inflação, saindo da armadilha da Selic.

Essa perspectiva tem virado a cabeça dos fundos de pensão e de investimento. Finalmente, começa-se a entrar no mercado de renda variável, rasgando o manual fácil que seguiram nas últimas décadas, de acompanhar apenas a taxa Selic.

A mitigação de risco exige diversificação de investimentos. Por exemplo, quando as taxas de juros caem, há uma tendência natural de valorização dos ativos reais – e vice-versa.

Essa diversificação passará por vários mercados:

1. Renda variável líquida, ou mercado de ações;

2. Renda variável de longo prazo, private equity, investimentos em empresas não listadas em bolsa;

3. Risco de crédito privado, com as novas ferramentas de captação;

4. Imóveis.

Recentemente, o Funcef investiu em títulos de dívida de um porto de Santa Catarina, por meio de um project finance (um projeto financeiro prevendo faturamento, retorno, etc.). O porto foi financiado sem um tostão do BNDES.

Outra mudança relevante é a associação com fundos estrangeiros, mas seguindo os regulamentos nacionais.

A partir do episódio Opportunity, os fundos de pensão brasileiros pressionaram por mudanças na legislação, criando a figura do comitê de investimento fiscalizando e criticando decisões de gestores.

Antes, aqui como fora, o gestor tinha plena liberdade para operar. Era a maneira encontrada por grandes fundos e grandes bancos norte-americanos para atuar fora dos limites da legalidade – em paraísos fiscais, em operações pouco ortodoxas –, sem ter envolvimento direto na esbórnia que caracterizou o mercado internacional nas últimas décadas.

* Luis Nassif é jornalista econômico e editor do site www.advivo.com.br/luisnassif. [email protected].

** Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.