A edição da The Economist de 12 de novembro publicou um artigo intitulado “Por que as empresas ficam verdes” que ressalta um aspecto muitas vezes relegado a menor importância quando se fala de sustentabilidade, mas que é a chave para a adoção dessa estratégia pelo mundo real. Trata-se da perna econômico-financeira e estratégica do tripé social-ambiental-econômico da sustentabilidade.
O artigo mostra grandes empresas adotando a redução de emissões de carbono e fontes renováveis de energia para economizar (ou seja, ganhar) dinheiro, não para serem boazinhas para o meio ambiente, nem apenas para fazer relações públicas – ou, como dizem por aí, “marketing institucional”, como se esse nome não fosse um oxímoro. E também cita outras companhias que adotam estratégias de sustentabilidade ambiental para assegurar sua própria sobrevivência como empresas num futuro em que água e outros insumos naturais serão mais escassos.
E isso tudo apesar de Copenhague e Cancún terem sido os fracassos que foram, em termos da adoção de regulações governamentais multilaterais para a redução de emissões de carbono, que definiriam regras do jogo iguais para todas as empresas – coisa que também não se espera que aconteça na próxima reunião, em Durban.
Além de sublinhar a importância da perna econômico-financeira do tripé, ressaltando esse aspecto do mundo real, que é essencial para que caminhemos para uma vida mais sustentável, o artigo também dá diversas indicações de grandes empresas globais que estão indo por esse caminho.
No mais das vezes, quando alguém usa a expressão “sustentabilidade” é para se referir a ações de conservação ambiental. E, especialmente no Brasil – certamente devido às nossas carências nessa esfera –, o conceito enfatiza também aspectos sociais, como o clima predominante entre os funcionários da empresa, ou investimentos destinados a melhorar a vida das comunidades.
Mas, se “sustentabilidade” significar apenas esses dois aspectos, ficará difícil diferenciá-la de recursos humanos e de relações públicas, o que desvirtuaria o conceito. O traço que realmente a define é o tripé social-econômico-ambiental, que indica atividades produtivas, portanto geradoras de receita, que contemplam com igual grau de prioridade os cuidados ambientais e ações que promovam a elevação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da população.
O artigo da Economist menciona, por exemplo, iniciativas de elevação da eficiência no uso da energia e de gestão de resíduos. E observa que empresas que estabeleceram metas ambiciosas de redução de emissões na época da reunião de Copenhague, posteriormente elevaram ainda mais essas metas, em vez de reduzi-las. Walmart e Tesco são duas companhias citadas para ilustrar esse fato. A primeira declara estar economizando mais de US$ 200 milhões por ano e a segunda, US$ 239 milhões anuais.
No Brasil, a Lei de Resíduos Sólidos (Lei 12.305 de 2 de Agosto de 2010), se estabelece grandes desafios para as empresas privadas e para o poder público, também cria oportunidades que poderão ser valiosas para as companhias que se prepararem para cumprir as exigências legais não as enxergando apenas como um peso incômodo, mas também como possibilidade de economizar (ou seja, ganhar) dinheiro.
* Nemércio Nogueira é consultor de empresas, diretor do Instituto Vladimir Herzog e membro do Conselho da Virada Sustentável de São Paulo.
** Publicado originalmente pela revista EntreLagos de Brasília.