Durban, África do Sul, 6/12/2011 – Os negociadores da 17ª Conferência das Partes (COP 17) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática devem aos mais de sete bilhões de habitantes do mundo um acordo útil para a agricultura, o setor mais afetado pela mudança climática, afirma o presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), Kanayo F. Nwanze. Os efeitos combinados de aumento da população mundial, escassa produtividade e ameaça aos recursos hídricos representam novas pressões sobre a capacidade do setor agrícola para gerar alimentos, dinheiro e formas de sustento na África.
Organizações e instituições internacionais apresentaram uma carta aberta à ministra de Agricultura, Silvicultura e Pesca da África do Sul, Tina Joemat-Peterson, pedindo a inclusão de medidas de adaptação para o setor agrícola no texto a ser acordado nesta cidade pela COP 17. Entre os signatários da carta estão Banco Mundial, Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) e a Organização Mundial de Agricultores (WFO). O texto afirma que não se deve deixar passar a oportunidade da COP 17 para tratar dos problemas da agricultura, setor repetidamente marginalizado da agenda nos últimos dois encontros.
“As regiões mais vulneráveis do mundo, os países em desenvolvimento, são afetados desproporcionalmente pela mudança climática, apesar de contribuírem pouco com emissões de carbono”, diz a carta. “As populações no Sul dependem em grande parte da agricultura para sua subsistência e têm cada vez mais dificuldades para produzir alimento suficiente para suas famílias e para os mercados”, acrescenta. Nwanze disse à IPS que é preciso uma nova revolução agrícola para oferecer soluções inteligentes aos desafios impostos pela mudança climática.
IPS: Por que uma nova revolução agora?
KANAYO F. NWANZE: A discussão que temos agora é basicamente como conseguir uma agricultura “climaticamente inteligente”, o que na essência significa obter o máximo dos pequenos produtores, que constituem a maior população rural na África e cuja maioria é de mulheres. Devem ter acesso a insumos básicos e serviços financeiros. É necessário responder a todos os temas que têm a ver com o impacto da mudança climática na agricultura. Temos que falar sobre sistemas agrícolas sustentáveis. A revolução verde (período de auge na produção do Sul, aproximadamente entre 1960 e 1990) teve êxito porque se concentrou em mensagens muito claras: maior uso de fertilizantes, mais sementes melhoradas e irrigação. Contudo, no longo prazo, descobrimos que não era sustentável. Portanto, agora temos de buscar enfoques sustentáveis de produção, que não destruam o meio ambiente e estejam disponíveis para um amplo espectro de agricultores na África e em todo o mundo. É necessária uma nova revolução verde para enfrentar o desafio de alimentar mais de nove bilhões de pessoas em 2050. Não existe uma receita mágica para eliminar a fome da noite para o dia. Não creio que as ideias podem alimentar as pessoas. São necessárias ideias para uma nova revolução verde, e a agricultura “climaticamente inteligente” pode proporcioná-las.
IPS: A agricultura está ameaçada por muitos fatores. Qual é o primeiro passo para torná-la sustentável?
KN: O primeiro passo devemos dar na agenda política. Precisamos de um compromisso no nível mais alto dos governos para que assumam a agricultura como prioridade, e devemos conseguir que apoiem suas promessas com dinheiro.
IPS: O senhor expressou preocupação pelo progresso lento das negociações. Quais as suas expectativas?
KN: Estamos tentando um tema que transcende ao que chamamos de simples equações. É uma questão que provoca muitas discussões políticas, e, portanto, as pessoas perdem o senso de prioridade. Tudo se torna muito lento. Estamos negociando um tema político, e há muitas coisas em jogo. São temas simples baseados em fatos, e os argumentos também estão baseados em fatos. Porém, há pessoas que ainda negam a mudança climática. Como se pode negociar com alguém que não crê? Este é o problema que temos. Precisamos de uma verdadeira liderança. A África do Sul realiza um trabalho fantástico de incentivo a toda esta discussão sobre colocar a agricultura na agenda. A agricultura sofre o impacto do aquecimento global, mas também é uma solução, pois se encontra na intersecção entre a segurança alimentar e a mudança climática. Assim, não podemos ignorá-la.
IPS: O que temos feito bem no desenvolvimento agrícola da África?
KN: Há dez anos não se ouvia ninguém falar de agricultura. Mas após os acontecimentos de 2007 e 2008, com o aumento da volatilidade dos preços dos alimentos, agora as pessoas dizem que a agricultura equivale à segurança alimentar, e isto equivale à estabilidade política e à paz mundial. Com esse tipo de vínculo, não se pode ignorar a agricultura, e isto é algo que fazemos bem. Envolverde/IPS