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Cooperação Norte-Sul não tem substituto

Nassir Abdulaziz Al-Nasser. Foto: Mark Garten/ONU

Roma, Itália, 8/12/2011 – A cooperação Sul-Sul pode ter um papel crucial em impulsionar as economias em desenvolvimento, mas nunca substituirá a colaboração Norte-Sul, afirma Nassir Abdulaziz Al-Nasser, presidente do 66º período de sessões da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O diplomata do Catar foi entrevistado pela IPS durante a quarta Exposição Mundial sobre Desenvolvimento Sul-Sul, que começou no dia 5 nesta cidade.

A mostra, organizada pela Unidade Especial de Cooperação Sul-Sul da ONU na sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) busca ser uma fachada de soluções inovadoras para combater a fome por meio da colaboração entre nações em desenvolvimento.

“A cooperação Sul-Sul e a triangular, apoiadas por um adequado financiamento, são ferramentas fundamentais para superar os desafios de desenvolvimento de nosso tempo”, afirmou Al-Nasser. “Todo tipo de associação é particularmente pertinente considerando os atuais e recentes desafios que enfrentam nossa economia mundial e o desenvolvimento sustentável. Entre eles, o mais importante é garantir a alimentação para todos”, acrescentou.

IPS: Em seu último informe, “Situação Econômica Mundial e Perspectivas para 2012”, apresentado na semana passada, a ONU alerta que a crise econômica nos Estados Unidos e na União Europeia ameaça estender-se aos países em desenvolvimento. Como o Sul pode se proteger desta ameaça?

NASSIR ABDULAZIZ AL-NASSER: A crise está afetando todo o mundo. No passado, as crises econômicas e sociais tinham principalmente um alcance regional ou sub-regional. Agora é mundial, não apenas dos mercados norte-americano e europeu. O que ocorre nos Estados Unidos e na Europa tem efeitos na América Latina, Ásia e África, e, sem dúvida, terá impacto no desenvolvimento dessas nações. É hora de a ONU encarar tudo isto de forma coletiva. Isto não diz respeito apenas ao G-20 (Grupo dos 20 principais países industrializados e emergentes), mas é responsabilidade da Assembleia Geral das Nações Unidas. Agora estou me concentrando neste tema: na semana passada, foram designados dois embaixadores como facilitadores para trabalharem em um encontro específico e muito importante que tem a ver com a crise financeira, que atualmente afeta a população de todo o planeta. Espero que a Assembleia Geral veja resultados concretos deste compromisso na primeira metade do próximo ano.

IPS: Que papel pode ter a cooperação Sul-Sul para impulsionar as economias dos países em desenvolvimento? Acredita que a cooperação triangular e multilateral deve ser fortalecida ainda mais?

NAAN: Sim, claro. A cooperação Sul-Sul pode ter um importante papel em unir os países do Sul e em fazer com que compartilhem suas experiências. Ao mesmo tempo, é muito importante que as nações em desenvolvimento façam isto com apoio do mundo industrializado. Muitas nações do Sul tiraram milhões de pessoas da pobreza extrema e da fome. Estes Estados têm à sua disposição muito conhecimento e capacitação técnica. Isto pode ser aproveitado ainda mais, fortalecendo o intercâmbio de informação, experiência e tecnologia entre as nações do Sul, com o objetivo de elevar a produtividade agrícola e melhorar a distribuição de alimentos para beneficiar mais pessoas. Por meio da solidariedade Sul-Sul podemos, também, aprender com países que estão reformando as leis e as práticas consuetudinárias para garantir que não se negue às mulheres acesso a terras e a outros bens produtivos que contribuem para a segurança alimentar. Desta forma, elas podem ser potencializadas e ganhar seu legítimo direito na sociedade. Tenho esperança de que estes intercâmbios, associações e programas possam ser replicados e adaptados de forma ampla.

IPS: Se continuar a tendência para a cooperação Sul-Sul, esta substituirá a cooperação Norte-Sul no futuro? Ou ambas são necessárias?

NAAN: Elas se complementam. O Sul não pode trabalhar sem o Norte, e o Norte não pode trabalhar sem o Sul. O complemento é a palavra-chave aqui. Como presidente da Assembleia Geral da ONU, estou comprometido em promover a cooperação Sul-Sul e triangular como importantes elementos para construir uma associação global unida. Apenas uma associação desse tipo, baseada no diálogo aberto e no entendimento mútuo, pode permitir uma eficiente ação coletiva em um mundo globalizado e interdependente.

IPS: Que contribuição fez o Catar para a cooperação Sul-Sul depois da Segunda Cúpula do Sul, realizada em Doha em 2005? O Conselho de Cooperação do Golfo, do qual o Catar é membro, é um exemplo de associação entre países em desenvolvimento?

NAAN: Sim, é de muito êxito. O Catar é muito ativo nas iniciativas regionais e multilaterais para promover a cooperação Sul-Sul. Fui representante permanente do meu país na ONU e pessoalmente contribuí para várias iniciativas de cooperação Sul-Sul. O Catar acredita na solidariedade do Sul, e creio que é um dos principais incentivadores de os países em desenvolvimento trabalharem entre si e compartilharem suas experiências. Meu país foi sede da Segunda Cúpula do Sul do G-77 em 2005, onde foi lançado o Fundo do Sul para o Desenvolvimento e a Assistência Humanitária. Envolverde/IPS