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Um cenário cada vez mais complexo

Washington, Estados Unidos, 13/12/2011 – O levante opositor sírio entra em seu nono mês e enfrenta seus maiores desafios, apesar da condenação quase unânime da comunidade internacional contra o regime de Bashar al Assad. Nos últimos dois meses, o Conselho Nacional Sírio, coalizão opositora a Assad, teve êxito em convencer vários Estados e organizações internacionais a adotarem sanções contra Damasco. Estados Unidos, União Europeia, Turquia e mais recentemente a Liga Árabe impuseram completas sanções contra o regime sírio.

No dia 5, os congressistas norte-americanos Ileana Ros-Lehtinen e Brad Sherman, apresentaram a Lei de Reforma e Modernização para a Não Proliferação no Irã, na Coreia do Norte e na Síria, que atualiza normas para impedir que Damasco receba tecnologia. Líderes opositores do Conselho Nacional Sírio comemoraram a adoção de medidas como estas, destinadas a minar a capacidade do regime de Assad em manter seu aparato de segurança, mas muitos observadores criticam as sanções porque, segundo dizem, prejudicam o povo e não o governo da Síria.

Enquanto a revista britânica The Economist estima o efeito direto das sanções internacionais em US$ 400 milhões mensais, estas causam grande estrago na própria economia diária desse país do Oriente Médio, disparando os preços dos alimentos e desvalorizando velozmente a libra síria. Apesar das significativas reduções comerciais da maioria de seus vizinhos, a Síria ainda goza de fortes relações econômicas com Iraque, Líbia e Irã, bem como com China e Rússia, que se mostram reticentes em condenar a violenta repressão lançada pelo regime.

Como resultado, o verdadeiro efeito das sanções internacionais e sua capacidade de afetar os cofres do Estado sírio ainda não foram vistos. Além das sanções existentes, Washington aumenta de forma sustentada seu apoio à oposição a Assad, enquanto condena e restringe o movimento do regime. O governo de Barack Obama anunciou o regresso do embaixador Robert Ford ao seu posto em Damasco, enquanto a secretária de Estado, Hillary Clinton manteve reuniões diretas com representantes da oposição síria pela primeira vez.

Clinton se referiu ao Conselho como “principal e legítimo representante dos sírios que buscam uma transição pacífica e democrática”, e acusou o regime de fomentar a violência sectária. Porém, funcionários em Washington continuam expressando dúvidas sobre a legitimidade do Conselho, questionando sua eficácia para controlar os grupos islâmicos. Um relatório sobre a Síria, do Grupo Internacional de Crise, detalha as complexidades do levante contra Assad, desde a cautela mostrada pelas comunidades minoritárias até os crescentes vínculos da oposição com atores regionais e internacionais, bem como o aumento da violência.

Embora reconheça que o regime sírio estaria perto de seu final, o documento alerta para a “crescente internacionalização” do conflito, que pode ser “impossível de deter” e que “distrairia as metas do movimento opositor e reduziria suas possibilidades de êxito. O informe detalha o significativo interesse de Estados Unidos, Israel, Líbano, Irã, Arábia Saudita e Turquia em moldar o futuro da Síria.

A aceitação da necessidade de uma ação internacional para acabar com o conflito, algo antes considerado tabu pela esmagadora maioria dos manifestantes sírios, começa a ganhar aceitação nos círculos do Conselho. Em uma entrevista ao jornal libanês Al Mustaqbal, o presidente do Conselho, Burhan Ghalyoun, negou-se explicitamente a afirmar sua postura sobre uma intervenção militar, uma clara diferença em relação a declarações anteriores, nas quais rechaçava totalmente essa ideia.

Talvez, o mais significativo é que Ghalyoun anunciou que o Conselho suspenderia todo financiamento e apoio à organização libanesa Hezbolá (Partido de Deus) e à palestina Hamás (Movimento de Resistência Islâmica). Isto, possivelmente, seria um resposta ao apoio dado pelo Hezbolá a Assad, mas também seria um sinal ao Ocidente de que o movimento opositor está disposto a cortar este tipo de laço. Ghalyoun também anunciou que promoveria uma resolução da disputa pelas Colinas de Golan por “meios diplomáticos” e estabeleceria “relações especiais com potências europeias e ocidentais”.

Em resposta às declarações de Ghalyoun, o diretor do Programa de Estudos sobre Oriente Médio, da Universidade George Mason, Bassam Haddad, perguntou: “Por que as estratégias de um governo sírio potencialmente democrático são anunciadas antes de existirem as condições apropriadas para que os líderes representativos assumam?”.

O informe do Grupo Internacional de Crise também alerta para uma crescente militarização da oposição síria, que deixou de ser uma resistência não violenta para cometer ataques armados e manobras militares coordenadas. Há alguns dias, unidades militares dissidentes conhecidas como Exército Sírio Livre atacaram um complexo fora de Damasco, e membros armados da oposição parecem ter ganho posições em partes de Idlib, Hama e Homs.

Ainda que o Conselho assegure aos observadores internacionais que o Exército Livre Sírio é confiável, coordenado e responsável, as forças continuam gerando dúvidas. Enquanto isso, a violência se espalha por todo o país. Várias cidades foram palco de ondas de ataques, represálias, sequestros e inclusive decapitações, geralmente cometidos por leais ao regime, e cada vez mais também por opositores. Envolverde/IPS