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Movimento Ocupe cresce com os sem-teto

Quando o Parque Zuccotti, no distrito financeiro de Nova York, era uma assembleia permanente de indignados. Foto: Sam Lewis/IPS

Atlanta, Estados Unidos, 14/12/2011 – As pessoas sem-teto engrossam as fileiras do movimento Ocupe Estados Unidos, desde Los Angeles até Atlanta, e chegam a ser um terço dos manifestantes. Quando os organizadores da ocupação de Washington (planejada antes do Ocupe Wall Street, mas executada mais tarde, em outubro) contataram os “indignados” espanhóis que os inspiraram, estes lhes deram um conselho: mantenham a mobilização por duas semanas, ou menos. Do contrário, se converterá em um acampamento dos sem-teto, contou o ativista David Swanson à IPS.

No entanto, nem Swanson nem outros organizadores seguiram a recomendação. Os resultados dessa decisão desafiam as suposições sobre a participação política dos “homeless” (sem casa) e levantam perguntas que obrigam o próprio movimento Ocupe a refletir. Apesar do estereótipo sobre os sem-teto ser de desinteressado em política, este setor é o que tem, talvez, menos a perder e mais a ganhar nas ações de ocupação.

A atração que os acampamentos exercem nos sem-teto se deve a várias razões. A mais óbvia é a alimentação gratuita, já que a maioria dos grupos locais tem voluntários que fornecem comida aos ocupantes. Outra razão é que o movimento Ocupe levanta muitas das causas dos sem-teto: luta contra a falta de moradia, contra a desigualdade e contra a “gentrificação”, a progressiva transformação urbana de bairros deteriorados e empobrecidos que acabam perdendo seus habitantes originais para outros mais ricos.

Para Copper, um negro de 47 anos que viaja em companhia de seu cão, também chamado Copper, o movimento Ocupe exerceu um papel transformador em sua vida. Segundo disse, deu-lhe um propósito vital e motivos de interesses e preocupação além da busca por crack e cocaína. “Eu estava na Auburn Avenue fumando crack como louco, vivendo atrás de um muro no beco. Tirava água da condensação de um aparelho de ar-condicionado e com ela lavava a roupa. Estava vendendo minhas joias e enfrentando a polícia estatal da Georgia”, contou Copper à IPS.

“Veio alguém e me disse: sabe o que está acontecendo em Woodruff Park? Fui ver. Quando cheguei e vi as barracas na grama disse para mim mesmo que minhas orações foram ouvidas”, acrescentou Copper. “O Ocupe Atlanta me ajudou a salvar a vida, porque estou tão envolvido ajudando outros que quase não tenho tempo de pensar em mim”, prosseguiu. Trata-se de um trabalho completo. Desde que o grupo foi retirado do Parque durante a noite, Copper continuou no pequeno contingente que se dedica a instalar novamente a barracas durante o dia.

“Suponho que fui ativista por vários anos sem me dar conta disso”, afirma, referindo-se às suas lutas contra funcionários municipais para poder vender suas joias em uma praça pública sem ter de pagar uma taxa exorbitante à empresa privada que tinha a concessão desse espaço. “Nem queria saber o que era ativismo, não pensava nisso. Estava muito ocupado defendendo o que era justo que não tinha tempo de pensar em uma postura política”, acrescentou.

Swanson admite que às vezes o papel dos sem-teto está “cheio de contrastes” e pode ser “complicado”. O conflito pode surgir a respeito de “para onde e como dirigir as atividades: ações diretas, organização política ou ir reclamar os serviços e a assistência para os sem-teto”, afirmou. “E quase sempre está o subgrupo que tem problemas de drogas e álcool, disputas que podem se tornar violentas, enfim, uma variedade de problemas”, acrescentou.

Em Charlottesville, no Estado da Virginia, “boa parte das pessoas que acampam não tem casa nem para onde ir”, explicou Swanson. Muitos também são “novos e jovens e muito interessados na construção de uma comunidade local e em ajudar de forma palpável e direta as pessoas. São em maior número os que ajudam os sem-teto do que os que protestam contra a política nacional de defesa”, ressaltou.

“É difícil, para mim, que me dedico à política nacional, ver que, enquanto apoiamos algumas dezenas de pessoas sem-teto aqui e ali, o Federal Reserve (banco central) entrega US$ 7 trilhões aos que causaram esta situação”, afirmou Swanson. Em Atlanta, antes que a polícia desalojasse o movimento Ocupe, dezenas de sem-teto ocuparam o Parque. Depois de desalojados, O Ocupe Atlanta se estabeleceu no quarto andar do prédio do abrigo Grupo de Trabalho Metropolitano de Atlanta para os Sem-Teto, também ameaçado com execução hipotecária.

Os ativistas do Ocupe Atlanta agora “vivem com a gente. Trabalhamos com eles para integrá-los em nossos processos e aprendermos a nos beneficiar de suas visões e conhecimento político. Para nós, é um caminho longo”, disse a diretora-executiva do Grupo de Trabalho, Anita Beaty.

Ron Allan, do Ocupe Atlanta, explicou que estabeleceu um procedimento de análise e orientação para evitar que os que ficam no edifício, com ou sem-teto, tenham problemas mentais ou atitudes violentas que coloquem os demais em perigo e para garantir que todos os que estão ali estão dispostos a participar, e não apenas por comida e cama gratuitas.

Os ativistas que lutam pelos sem-teto “fornecem serviços essenciais para que o Ocupe Atlanta tenha êxito. Sua disposição em participar das marchas e manifestações e para o trabalho voluntário é inestimável”, disse Allan à IPS. “Temos gente neste movimento que possui uma extraordinária quantidade de talento”, disse La’Markus Cook, também do Ocupe Atlanta. “Inclusive os que não têm onde viver nos prestam grande ajuda e agradecemos sua vontade e seu compromisso com o movimento”, acrescentou. Envolverde/IPS