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Palestina: Sentemos para discordar

Jerusalém, Israel, 6/1/2012 – Depois de uma paralisação de 15 meses, palestinos e israelenses aceitaram se sentar frente a frente mais uma vez. Até agora os contatos não fracassaram, mas também não avançaram. As conversações entre delegados das duas partes, que começaram no dia 3 e serão retomadas hoje em Amã, capital da Jordânia, têm o objetivo de discutir os contornos de um futuro Estado palestino e buscar consenso em temas de segurança para poder avançar nas negociações de paz.

O que a primeira reunião em Amã confirmou foram as fortes discrepâncias ainda existentes entre o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Netanyahu nega-se a aceitar o congelamento da construção de colônias judias na Cisjordânia e a criação de um Estado palestino seguindo as fronteiras existentes antes da Guerra dos Seis Dias, de 1967, como base para o que se conhece como “solução dos dois Estados”.

Por sua vez, o presidente palestino resiste a ficar com menos que isso. Em setembro, Abbas apresentou formalmente uma solicitação para o reconhecimento da Palestina como Estado na Organização das Nações Unidas (ONU), mas a instância de mediação internacional conhecida como o Quarteto neutralizou temporariamente esta iniciativa unilateral.

O Quarteto (integrado por ONU, União Europeia, Estados Unidos e Rússia) estabeleceu prazo de quatro meses, que vence no dia 26, para que as duas partes apresentem propostas sobre fronteiras e temas de segurança, a fim de reiniciarem as negociações. “Os palestinos apresentaram suas posições relativas às fronteiras e à segurança, e os israelenses as ouviram e prometeram que as analisariam nos próximos dias”, disse o anfitrião das conversações em Amã, o chanceler jordaniano, Nasser Judeh.

Os mais otimistas destacaram que é a primeira vez no governo de Netanyahu que Israel aceita estudar propostas palestinas sobre esses assuntos fundamentais do conflito. No entanto, os pessimistas, que constituem a força dominante na região, disseram que “negociar por negociar” não obteria nenhum avanço nas relações palestino-israelenses.

Marwan Barghouti, líder do partido Fatah, de Abbas, e condenado a cinco prisões perpétuas por um tribunal israelense, acusado de ter organizado há uma década a segunda Intifada (levante popular palestino contra a ocupação), afirmou que o processo de paz está morto. “Não tem sentido fazer desesperadas tentativas de dar vida a um cadáver”, escreveu da prisão em uma carta publicada pela agência de notícias palestina Ma’an, na véspera das conversações na Jordânia.

Os que estão no meio do caminho entre otimismo e pessimismo preferem não fazer previsões e consideram que vale a pena um último esforço. Os Estados Unidos e as Nações Unidas elogiaram com cautela os resultados das conversações do dia 3. O governo israelense deixou claro sua motivação após o diálogo. “Não há razão para não trabalhar a fim de reduzir as tensões existentes com os palestinos, os turcos e os egípcios, mesmo que não tenhamos a certeza de haver resultados”, disse o ministro da Defesa, Ehud Barak.

Os resultados da primeira rodada de conversações foram sintomáticos das baixas expectativas nos dois lados e, longe de “reduzir a tensão”, acrescentou pressão, sobretudo nos palestinos. Apenas horas antes das conversações, foram abertas licitações para a construção de 300 novas unidades habitacionais nas colônias judias de Jerusalém oriental. As licitações são parte de um plano mais amplo para construir 500 unidades na parte ocupada dessa cidade.

Há duas semanas, quando foi anunciado pela primeira vez o plano de construção, o ministro da Habitação afirmou: “Não podemos não dialogar e não construir”. Em um comunicado, a organização não governamental israelense Ir Amin, que acompanha de perto a situação em Jerusalém oriental, afirmou que “Israel está dando uma bofetada no rei Abdalá (da Jordânia) e em toda a comunidade internacional, ferindo as já escassas possibilidades de novas negociações de paz”.

Também às vésperas do encontro em Amã, o presidente palestino ameaçou com ações unilaterais se fracassarem as tentativas de reviver o processo de paz. “Depois do prazo de 26 de janeiro tomaremos duras medidas”, afirmou. Abbas considera reiniciar seus esforços para o reconhecimento internacional do Estado palestino, bem como isolar mais Israel na ONU propondo uma nova resolução que condene a construção de colônias judias.

Enquanto isso, em Gaza, representantes do Fatah e do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica) se sentaram à mesa para avançar no processo de reconciliação iniciado em maio. Negociam um acordo para compartilhar o poder e assim acabar com quatro anos de divisões, nos quais a Faixa de Gaza e a Cisjordânia têm administrações separadas. Nesse meio tempo, Israel procura fortalecer o reino da Jordânia, único aliado que lhe resta na região. O rei Abdalá visitará os Estados Unidos este mês. Envolverde/IPS