Washington, Estados Unidos, 9/1/2012 – Afeganistão e Iraque já não serão a prioridade militar dos Estados Unidos, mas sim a Ásia Pacífico, segundo a nova estratégia de defesa revelada pelo presidente Barack Obama. Entre outros passos, o novo documento estratégico, intitulado “Sustentando a liderança mundial dos Estados Unidos: prioridades de defesa para o Século 21”, propõe novos investimentos na segurança cibernética e maior confiança no poder naval e aéreo, em oposição às forças terrestres, cujas fileiras serão reduzidas em dezenas de milhares nos próximos anos.
“Enquanto olharmos para além das guerras no Afeganistão e no Iraque seremos capazes de garantir nossa segurança com menores forças terrestres convencionais”, afirmou Obama no dia 5 em uma entrevista no Pentágono, sede do Departamento de Defesa. “Assim, nossas forças serão menores, mas o mundo deve saber que os Estados Unidos manterão sua superioridade militar com forças armadas ágeis, flexíveis e prontas para uma ampla gama de contingências e ameaças”, acrescentou.
A nova estratégia, elaborada pelo Pentágono a pedido do próprio Obama em abril, prevê reduções no orçamento da defesa de US$ 450 bilhões nos próximos dez anos. Contudo, após o fracasso, em novembro passado, de um “super comitê” bipartidário, criado para chegar a um acordo sobre como reduzir o déficit sem precedentes enfrentado por Washington, de bilhões de dólares, o Pentágono pode, inclusive, ser obrigado a reduzir outros US$ 600 bilhões ao longo da década.
O orçamento da defesa dos Estados Unidos, superior a US$ 700 bilhões em 2012, representa 40% do gasto militar anual mundial e supera os orçamentos combinados das 20 nações mais poderosas. Obama disse que, mesmo depois dos cortes, o orçamento da defesa do país será “maior do que o de dez países juntos. Temos responsabilidades globais que exigem nossa liderança”, afirmou.
Grande parte da economia será feita graças à redução das forças terrestres. O exército será o mais afetado. Embora o anúncio dos detalhes dos cortes tenha ficado para o final deste mês ou começo de fevereiro, é provável que as fileiras do exército diminuam dos atuais 570 mil soldados para 490 mil nos próximos anos, segundo altos funcionários do Pentágono.
Os fuzileiros navais (marines), que hoje somam 200 mil, serão muito menos afetados, pois, provavelmente, sejam destinados a tarefas navais, cuja importância crescerá devido à mudança de eixo da estratégia norte-americana, que passará da Ásia central e do Oriente Médio para a Ásia Pacífico, como Obama já havia sugerido na última viagem que fez a essa região em novembro do ano passado. Foi durante essa viagem que o presidente dos Estados Unidos anunciou o envio de 2.500 marines para uma base no norte da Austrália, e que o jornal The New York Times qualificou de “a primeira expansão de longo prazo da presença militar norte-americana no Pacífico” desde a guerra do Vietnã (1964-1975).
O novo eixo foi confirmado no documento estratégico apresentado no dia 5, que destaca que os interesses econômicos e de segurança dos Estados Unidos estão “intrinsecamente unidos” à região. “Em consequência, para que as forças militares dos Estados Unidos continuem contribuindo para a segurança global, teremos que nos reequilibrar para a região da Ásia Pacífico”, acrescentou.
O Pentágono também economizará dinheiro adiando ou cancelando a compra de armas caras, especialmente os quase 2.500 aviões de combate F-35. A estratégia também sugere cortes no poderio nuclear. “É possível que nossas metas de dissuasão possam ser alcançadas com uma força atômica menor, reduzindo o número de armas nucleares em nosso inventário, bem como seu papel na estratégia de segurança nacional norte-americana”, acrescenta o documento.
A estratégia sugere, ainda, que Washington estaria abandonando a ideia, que predomina desde o fim da Guerra Fria, de que pode travar duas grandes guerras terrestres em diferentes partes do globo simultaneamente. Isto foi criticado pelo presidente do Comitê de Serviços Armados da Câmara de Representantes, Bud McKeon, do opositor Partido Republicano.
“Obama está claramente repetindo os erros do passado, dando às forças muito menos do que é necessário para as ameaças que enfrentamos”, disse aos editores do neoconservador American Enterpirse Institute. “A possibilidade de duas operações simultâneas de contingência é real. É só ver a atual instabilidade na Coreia do Norte e as ameaças que chegam do Irã, por exemplo”, destacou.
McKeon também disse que a redução de tropas de infantaria levaria os Estados Unidos de volta “ao equilíbrio anterior aos atentados de 11 de setembro de 2001” em Nova York e Washington. “Na próxima vez que tivermos de participar de uma grande operação terrestre, não contaremos com as forças necessárias, como ocorreu nos casos do Afeganistão e Iraque”, advertiu.
Da mesma forma, o diretor-executivo da belicista Iniciativa de Política Externa, Jamie Fly, qualificou a estratégia apresentada por Obama de “muito perigosa”, afirmando à IPS: “entendo que a maioria dos norte-americanos esteja cansada de compromissos prolongados em zonas de guerra, mas o certo é que nunca sabemos o que vai ocorre no horizonte”. Envolverde/IPS
* O blog de Jim Lobe pode ser lido em www.lobelog.com.