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Cultivos resistem a embates climáticos

Daca, Bangladesh, 9/1/2012 – Na medida em que inundações, secas e outras calamidades devastam regularmente Bangladesh, os agricultores precisam com urgência mudar para variedades de arroz, trigo, legumes e outros alimentos que sejam resistentes à mudança climática. A diversificação de cultivos, apoiada ativamente por instituições de pesquisa do governo, já beneficia os 145 milhões de habitantes deste país do sudeste asiático densamente povoado e predominantemente agrícola.

Mosammet Sabera Begum, de 38 anos, é uma agricultora da aldeia de Purbadebu, no distrito de Rangpur, a cerca de 370 quilômetros da capital. No último verão, ganhou US$ 177 vendendo arroz cultivado em menos de um hectare de terra arrendada de um latifundiário. “Eu havia plantado ‘paijam’ (arroz de amadurecimento rápido), que fica pronto para a colheita cerca de 30 dias antes das variedades tradicionais, que demoram 150 dias. É de qualidade superior, tem rendimento maior e alcança preços melhores”, disse Sabera, mãe de duas filhas adolescentes.

O tipo de arroz ao qual ela recorreu, desenvolvido no ano passado pelo Instituto de Agricultura Nuclear de Bangladesh (Bina), suporta inundações, secas e ataques de pestes, e rende entre 4,5 e 5,5 toneladas por hectare, enquanto variedades comuns produzem no máximo três toneladas por hectare. “A variedade Bina Dhan-7 traz benefícios extras para os agricultores. Pode ser plantada durante a monga (temporada de escassez, que começa em setembro) ou enquanto as variedades comuns ainda amadurecem. Assim, em certo sentido, é um cultivo tradicional que se colhe em menos tempo”, disse à IPS o chefe de pesquisas da Bina, Abdus Salam.

“A Bina Dhan-7 tem uma boa aceitação econômica, social e ecológica. A maior vantagem desta variedade é que demora menos tempo para crescer, mesmo em condições de seca extrema”, explicou Salam. De fato, esta variedade combate a escassez alimentar sazonal criando oportunidades para os trabalhadores agrícolas, que, em média, esperam dois meses extras para que amadureça a variedade comum de arroz.

Nargis Ara Begum, de 43 anos, colhia arroz nos solos altamente salinos da terra que ela e seu marido, Mukul Miah, haviam plantado. “Nunca esperamos obter uma colheita tão boa em solo salgado”, disse Begum, dona de um celeiro que fica junto de sua casa, na aldeia de Chaukani, no distrito de Satkhira. Ela e o marido cultivavam uma variedade de arroz desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas em Rizicultura de Bangladesh (BRRO), chamada BRRI-47, que sobrevive em solos altamente salinos e alagados. Os agricultores que haviam abandonado toda esperança de cultivar em solos salgados se entusiasmam em seguir o exemplo de Begum, e estão prontos para investir na nova variedade de arroz.

Não muito longe vive Asma Begum, agricultura de 32 anos da aldeia de Boro Nawabpur, no distrito costeiro de Bagerhat, que pediu US$ 914 emprestados a uma organização não governamental local para cultivar arroz em solo salino. Acredita em recuperar o investimento. “Me capacitei no departamento de extensão agrícola, onde aprendi a manejar árvores jovens. Ouvi que os agricultores de outros distritos cultivavam com sucesso o BRRI-47 e obtinham bom lucro”, disse ela, que agora ensina outros do lugar, principalmente mulheres,  a cultivarem essa variedade.

No último verão, na aldeia de Raghunathpur, no distrito de Dinajpur, Raxmi Mayaboti, de 39 anos, e seu marido, Kailash Sarker, cultivavam uma variedade de trigo em seu terreno de 1,2 hectare, situado na desértica região de Barind Tract. Ali, o clima é seco e quente durante o verão, e cultivar nessas condições é considerado impossível, menos para a variedade Bari Gom 25, uma nova classe de trigo desenvolvida pelo Conselho de Pesquisas Agrícolas de Bangladesh. “Não tivemos problemas em cultivar trigo no solo seco”, disse Mayaboti. “Ao contrário das variedades tradicionais de trigo, a Bari Gom-25 requer água apenas nas fases iniciais, e uma vez que amadurece não há necessidade de maior irrigação”, destacou.

Outras variedades resistentes ao clima, desenvolvidas em Bangladesh e disponíveis no mercado, incluem tomates, batata doce, cebola, legumes e cana-de-açúcar. Porém, as instituições agrícolas do país têm mais sucesso com os cereais. Desenvolveram cerca de 190 variedades de trigo e arroz capazes de suportar secas, salinidade, inundações ou temperaturas extremas, gerando também seis legumes tolerantes ao sal.

Apesar desses avanços, os especialistas sentem que Bangladesh necessita de maior cooperação das agências internacionais de pesquisa agrícola, para ajudar os agricultores a se adaptarem à mudança climática. “Precisamos de mais cientistas qualificados, os mais modernos equipamentos de biotecnologia e, sobretudo, melhor colaboração internacional para abordar a crise climática”, disse à IPS o presidente-executivo do Conselho de Pesquisas Agrícolas, Wais Kabir.

A ansiedade é compreensível. O Ministério da Agricultura estima que a cada ano se perde aproximadamente 80 mil hectares de terras cultiváveis devido a desastres naturais, inundações prolongadas, invasão de águas salgadas e secas prolongadas. Envolverde/IPS