Yaundé, República dos Camarões, 10/1/2012 – Maya Stella, gerente de um restaurante na capital da República dos Camarões, já não usa plástico para envolver os alimentos que vende aos clientes. Ele é substituído por folhas de bananeira, porque é natural e sua utilização para este fim é parte da cultura africana, declarou. As práticas de envolver alimentos nos Camarões mudaram com o passar do tempo. Tradicionalmente, a população usava folhas de bananeira para cobrir o “corn-fufu” (comida típica à base de farinha de milho) e até o purê de batata doce. A textura deslizante das folhas impede que a comida fique grudada.
Entretanto, nos últimos anos o plástico substituiu essas folhas, e seu aroma, que dava um sabor específico ao corn-fufu, desapareceu, tornando este produto meio insosso. “Os alimentos têm realmente um bom sabor quando envolvidos em folha de bananeira”, disse a professora Agatha Tanya, nutricionista da Universidade de Yaoundé 1.
O secretário-geral do Ministério de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Patrick Akwa, elogiou o gradual regresso às folhas vegetais como um passo importante para a proteção ambiental. “Os plásticos usados não degradam muito facilmente no ambiente quando não são eliminados de maneira adequada, e as folhas de bananeira podem ser jogadas fora pois se decompõem naturalmente”, acrescentou.
Porém, o motivo imediato pelo qual Stella voltou a estas “tradicionais embalagens” foi uma notícia que ouviu na rádio estatal, alertando que usar plástico para cobrir alimentos era perigoso para a saúde humana. Nessa ocasião ficou sabendo que esses materiais “podem causar câncer”, por isso decidiu proteger seus clientes, segundo disse à IPS. O alerta foi dado por Maurice Dikonta, um conferencista e pesquisador químico da Universidade de Yaundé 1, que há 15 anos estuda plásticos e polímeros. Guiado inicialmente por seu interesse acadêmico, Dikonta agora acredita que suas conclusões podem ajudar a salvar vidas.
“Quando alguém quer que esses plásticos tenham uma forma agradável, acrescenta os chamados plastificantes. Estes são moléculas que os deixam macios ou flexíveis, como os usados para envolver alimentos. E estes plastificantes não permanecem no plástico uma vez que este é colocado no forno de micro-ondas ou se usado para envolver alimentos quentes”, explicou o pesquisador. “Nessas condições, os plastificantes evaporam e penetram nos alimentos. Assim, cada vez que se come um alimento envolvido em plástico, na realidade se está consumindo esses plastificantes, que são tóxicos”, acrescentou.
O médico Henry Besong, da Hope Clinic em Yaoundé, disse que a substância química tóxica encontrada no plástico é o bisfenol A (BPA). Trata-se de um composto orgânico usado na fabricação de resinas para revestir latas de alimentos e bebidas e em plásticos como o policarbonato, matéria-prima de mamadeiras, garrafas de água, equipamentos esportivos, dispositivos médicos e dentais e eletrodomésticos. “O BPA imita o estrógeno feminino, e pode causar câncer de mama e baixa produção de esperma nos homens”, afirmou Besong.
Um informe do Environmental Working Group, dos Estados Unidos, lista alguns dos perigos que a exposição ao BPA pode causar, entre eles anormalidades cromossômicas e no sistema reprodutivo, lesões cerebrais e neurológicas, câncer e problemas vasculares. Entretanto, a exposição a esta substância tóxica não ocorre apenas a partir do consumo de alimentos envoltos em plástico. O BPA se deposita nos materiais com os quais entra em contato, como os alimentos e a água. Isto significa que usar mamadeiras que contenham BPA coloca em risco a saúde dos bebês.
Por essa razão, muitos países buscam maneiras de abordar o problema. A África do Sul foi o primeiro país africano a proibir a “fabricação, importação, exportação e venda de mamadeiras”, enquanto a Malásia – na Ásia – planeja proibir totalmente o BPA este ano. A China, antes líder mundial na fabricação de mamadeiras, proibiu, em junho do ano passado, o uso dessa substância na elaboração desses recipientes, e também a importação e vendas de outros produtos que contenham BPA. Brasil, Canadá, Costa Rica e Turquia, bem como a União Europeia, já proibiram ou restringiram os produtos que contêm BPA. Em abril, a Administração de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos decidirá se limita o uso desta substância nas embalagens de alimentos.
Os camaroneses têm que deixar de embalar alimentos em plástico porque “não é sadio”, afirmou a nutricionista Tanya. Ela recomendou substituir esse material pela folha de bananeira, já que “não representam perigo e deixam um sabor muito bom”. Algumas rádios comunitárias nos Camarões realizam campanhas maciças contra o uso de embalagens plásticas. Em Oku, localidade na região nordeste, a resposta à campanha “A voz de Oku” foi enorme. “Já não posso usar plástico para embalar alimentos”, disse Marceline Yula, dona de casa em Oku, acrescentando que a saúde de sua família não pode ser comprometida.
No entanto, ainda há muita resistência. Dikonta disse que mesmo sua esposa é reticente aos seus avisos. “Ela afirma que os alimentos ficam mais apresentáveis quando envolvidos em plástico”, contou. Segundo Dikonta, a imprensa, as agências do governo e as autoridades políticas, religiosas e tradicionais devem realizar campanhas de conscientização sobre os perigos de usar plásticos para cobrir ou embalar alimentos, especialmente se estes estão quentes. Envolverde/IPS