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Onda de prisões às vésperas das eleições

Da esquerda para a direita: Fakhressadat Mohatashmipour, Faezeh Hashemi e Amir Hekmati, todos condenados em menos de uma semana. Foto: Omid Memarian/open source

Nova York, Estados Unidos, 12/1/2012 – Menos de dois meses antes das eleições parlamentares no Irã, que serão boicotadas pela maior parte da oposição, uma onda de prisões e condenações à prisão contra ativistas políticos e jornalistas parece antecipar tensões como as de 2009. A pressão interna cresce enquanto o país enfrenta novas sanções do Ocidente por causa de seu programa de desenvolvimento nuclear e agrava-se a crise com os Estados Unidos. Teerã também ameaça fechar o estratégico estreito de Ormuz e, assim, bloquear uma quinta parte do petróleo que o mundo utiliza.

No dia 9, Mehdi Khazali, dissidente e filho de um influente aiatolá (líder espiritual) conservador, foi preso e algumas horas depois seu popular site acabou bloqueado. No domingo, dia 8, as forças de segurança prenderam Aaeed Madani, influente membro de um grupo de religiosos e nacionalistas críticos do governo, enquanto caminhava pela rua junto com sua mulher. Nesse mesmo dia, o jornalista e pesquisador de temas étnicos Ehsan Houshmand foi preso em sua casa, o mesmo acontecendo com o jornalista Fatemeh Kheradmand.

No dia 3, o Tribunal Revolucionário de Teerã condenou Faezeh Hashemi, ex-parlamentar e filha do aiatolá Hashemi Rafsanjani, chefe do consultivo Conselho de Conveniência, a seis meses de prisão por participar de protestos contra o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Fakhressadat Mohtashamipour, conselheira do ministro do Interior e do gabinete durante o governo de Mohammad Khatami (1997-2005), também foi condenada a quatro anos de prisão com suspensão da pena. Seu marido, Mostafa Tajzadeh, destacada figura reformista e ex-vice-ministro do Interior, já cumpre pena de seis anos na prisão de Evin.

No entanto, o veredito mais impactante foi o emitido contra Amir Hekmati, um cidadão iraniano-norte-americano. No dia 9, um tribunal de primeira instância o considerou culpado de “cooperar com o Estado inimigo dos Estados Unidos e a CIA (Agência Central de Inteligência) contra a República Islâmica do Irã”. O tribunal o qualificou de “mohareb” (inimigo de Deus) “e um corruptor da Terra”. Hekmati chegou ao Irã em 15 de agosto para visitar sua família. No dia 29 do mesmo mês, foi acusado de espionagem e preso. Durante sua detenção de quatro meses, não teve acesso a um advogado nem pôde manter contato com seus familiares nos Estados Unidos.

“Nosso maior temor é que Amir se converta em uma vítima dos atritos entre Irã e Estados Unidos. Todas as acusações apresentadas contra ele são falsas. As afirmações feitas pelo sistema judiciário causaram impacto em todos nós”, disse à IPS uma fonte próxima à família que pediu para não ser identificada. No dia 9, o líder supremo, aiatolá Khamenei, disse confiar que haverá uma grande participação nas eleições de março. Serão as primeiras em nível nacional desde as presidenciais de 2009, quando ocorreram manifestações de rua questionando a veracidade do resultado eleitoral, que favoreceu Ahmadinejad.

Espera-se que o Conselho de Guardiões (integrado por teólogos e juristas) apresente nos próximos dias a lista de candidatos autorizados a participar das eleições. Os dois líderes opositores, Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi, bem como a mulher de Mousavi, estão sob prisão domiciliar desde o final de fevereiro passado, enquanto um grande número de figuras reformistas cumpre longas penas de prisão.

Porém, um boicote nas urnas pode prejudicar seriamente a legitimidade do governo iraniano, ofuscada desde os protestos de rua e das posteriores prisões de 2009. Ao que parece, para manter em funcionamento a máquina eleitoral, os líderes iranianos optaram por seguir um padrão clássico: intensificar a repressão interna contra os críticos, deter o fluxo de informação via internet e meios de comunicação e, finalmente, lançar um agressivo discurso em matéria de política externa.

“Nas próximas eleições, o regime tentará pressionar os jornalistas para assustá-los e evitar que informem a verdade”, disse à IPS o repórter Mohammad Reza Nasab Abdollahi, da província de Shiraz. “O governo considera a internet uma ameaça, e tenta anulá-la, porque sabe do importante papel que tiveram a internet e as redes sociais na difusão de informação durante os acontecimentos de 2009. Por isto, bloquearam todos os caminhos, para que a informação sobre as eleições tenham mais dificuldades para encontrar uma saída para o mundo externo”, acrescentou.

Na semana passada, o líder reformista Mostafa Tajzadeh acusou Mojtaba Khamenei, filho do líder supremo iraniano, de sufocar a oposição às véspera das eleições. “As sentenças de prisão contra ativistas políticos nada têm a ver com suas atividades, e seu único objetivo é silenciar os que boicotam a votação”, disse à IPS o genro de Tajzadeh, Ali Tabatabaee. “Como disse o senhor Tajzadeh desde a prisão, a pressão é diretamente exercida por Mojtaba Khamenei, filho do líder supremo, e quer usar todas as ferramentas para silenciar os críticos para que mais pessoas participem das eleições”, acrescentou.

No dia 8, o ministro da Inteligência, Heydar Moslehi, informou sobre prisões de vários supostos espiões que “tentavam realizar planos e programas para os Estados Unidos durante as próximas eleições por meio do ciberespaço e das relações com o exterior”. Também reconheceu que as eleições de março poderão ser “as mais delicadas da história da República Islâmica”. Envolverde/IPS