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China aponta suas baterias culturais para o Ocidente

Londres, Grã-Bretanha, 17/1/2912 – O presidente da China, Hu Jintao, surpreendeu ao anunciar que seu país se encontra em uma guerra cultural com o Ocidente, e ao chamar seu povo a se defender. Suas palavras, proferidas no começo deste mês, tocaram a fibra dos mais leais funcionários do governo em Pequim, dispostos a promoverem a cultura chinesa como nova forma de expansão internacional.

Entretanto, intelectuais liberais expressaram receio, dizendo que a promoção de uma “indústria cultural” pode esconder objetivos econômicos. “Talvez, a cultura seja o último bolo sem cortar da China”, afirmou Zhu Dake, pesquisador da Universidade Tongji, de Xangai. “No ano da transição de liderança, quando tudo é politicamente delicado, promover a cultura é fácil e inquestionável. Todos estão interessados em uma fatia do bolo”, acrescentou.

O crítico de arte Carol Lu, radicado em Pequim, também é cético: “um impulso governamental para promover a cultura significa que teremos mais materiais para o desenvolvimento da cultura. Haverá um auge de grandes galerias e outros espaços artísticos, mas isso não necessariamente significa que serão obras de grande qualidade”.

Hu Jintao já havia adiantado a iniciativa cultural em outubro passado, durante a reunião anual do Partido Comunista, do qual também é chefe. Contra as expectativas de que anunciaria medidas para enfrentar os desafios econômicos, Jintao revelou uma campanha para fortalecer o poder cultural chinês no exterior e converter as indústrias culturais em pilares do desenvolvimento nacional.

O Partido destacou que a cultura deveria ser “fonte de unidade nacional” e “principal elemento de um completo poder nacional”. Em seu discurso do dia 2, o presidente ampliou o conceito, alertando que “forças internacionais hostis intensificavam o complô para ocidentalizar e dividir a China”. “Os campos ideológico e cultural são as áreas principais de sua longa infiltração”, disse em um discurso publicado na revista Buscando a Verdade, uma das principais publicações do Partido Comunista.

“É a primeira vez que os líderes colocam o desenvolvimento cultural no mesmo nível do econômico”, destacou Zhang Guoxiang, do Centro de Pesquisa do Poder Brando Cultural da China. “Falamos de economia como um ‘poder duro’, e nos preocupamos que, sem uma sólida base econômica, nosso país seja facilmente dominado. Agora há um claro entendimento de que, sem o poder brando, o país entrará em colapso por si só”, acrescentou.

O Partido foi sacudido por uma série de escândalos de corrupção, justo no ano em que acontecerá a mais importante mudança de líderes em dez anos. Os levantes populares da Primavera Árabe no ano passado e a difusão pela internet de chamados para uma Revolução do Jasmim na China também alarmam os governantes comunistas.

A influência chinesa no exterior se ampliou de forma sustentada nos últimos anos. Por meio de exposições e espetáculos financiados pelo Estado, e com a ajuda de uma crescente rede de institutos confucionistas em todo o mundo, Pequim conseguiu promover sua arte e cultura tradicionais. Entretanto, os líderes do Partido querem redobrar a luta. A influência cultural “internacional do Ocidente é forte, enquanto nós somos fracos”, lamentou Hu Jintao em seu discurso do dia 2. Contudo, esta debilidade é culpa de Pequim, afirmam escritores e artistas chineses, que condenam a censura estatal.

Han Han, uma celebridade de 29 anos na China, cujo blog tem milhões de seguidores, causou polêmica quando, em um ensaio intitulado Sobre a Liberdade, apontou as razões pelas quais acredita que o gigante asiático não pode emergir como potência cultural. “As restrições às atividades culturais fazem com que seja impossível para a China influir na literatura e no cinema em nível global, e impedem que nos sintamos orgulhosos culturalmente”, escreveu.

Por sua vez, Zhu Dake disse que a censura é apenas uma parte de um complexo panorama. O Partido acredita no poder do dinheiro e não tem vergonha de usá-lo para sua própria vantagem. “O Partido sabe bem como usar o poder do dinheiro na política externa, e acredita firmemente que também pode comprar a criatividade dos intelectuais”, acrescentou. Envolverde/IPS