Peshawar, Paquistão, 18/1/2012 – As florestas do noroeste do Paquistão se converteram nas últimas vítimas do movimento islâmico Talibã, que desesperadamente busca recursos para financiar sua campanha bélica. A outrora bela paisagem de Swat, distrito administrativo na província de Khyber Pakhtunkhwa, ficou dizimada depois que os combatentes arrasaram o lugar em busca de madeira.
“Quase todas as áreas florestais foram despojadas inexoravelmente de árvores, mas Swat, em particular, foi a mais castigada pelas atrocidades do Talibã nos últimos dois anos”, disse à IPS o secretário da organização Sarhad Awami Forestry Ittehad (Safi), Jamshaid Ali Khan. A Safi foi fundada em 1997 para conservar, administrar e desenvolver as florestas paquistanesas, proporcionar renda aos trabalhadores locais, reduzir a contaminação aérea e minimizar a erosão dos solos nas inundações.
Contudo, suas atividades foram severamente restringidas entre 2007 e 2009, quando o Talibã assumiu pleno controle de Swat. Apesar de todos seus melhores esforços, a organização não conseguiu deter o corte de árvores. Jamshaid lamentou a tática do Talibã de apelar para os serviços da “máfia da madeira” para comercializá-la a preços insignificantes.
Rahim Gul, pesquisador da Universidade de Peshawar, disse que o Talibã apelava frequentemente para os recursos naturais quando ficava sem dinheiro. “O Talibã financia seu movimento extraindo madeira ou impondo altos impostos ao transporte de mármore nas Áreas Tribais Federalmente Administradas”, explicou Gul, lembrando que os métodos para o corte usados pelos islâmicos causavam danos permanentes no meio ambiente.
“Uma árvore cem anos para amadurecer antes que possa ser cortada para ter sua madeira usada na construção. O governo corta as árvores após uma avaliação, e volta a plantar”, explicou Jamshaid. A maioria das árvores cortadas pelo Talibã ainda não tinha atingido plena maturidade, acrescentou.
Citando uma investigação feita pelo Instituto de Florestas do Paquistão, com sede na cidade de Peshawar, Gul afirmou que o Talibã também realiza sequestros extorsivos, cultiva papoula (matéria-prima do ópio, da heroína e da morfina) e abriga criminosos em troca de dinheiro, tudo para obter fundos. Também extrai e vende pedras preciosas, incluindo esmeraldas de grande qualidade. Contudo, a extração de madeira continua sendo o método mais empregado, e de longe o mais daninho.
Mohammad Jawad, funcionário florestal de Khyber Pakhtunkhwa, explicou que antes de o Talibã lançar sua campanha na região, em 2005, a província contava com 40% das florestas do país. Embora não tenham sido feitas novas investigações desde então, “acredita-se que o Talibã destruiu 80% dessas florestas”, afirmou.
A Divisão de Malakand, noroeste do Paquistão, antes famosa por suas vastas quantidades de pinheiros e cedros, entre outras árvores, agora apresenta uma paisagem desértica. “Menos florestas significa menos dinheiro para as mais de 20 mil famílias em Swat e nos distritos vizinhos da Divisão Malakand, pois todos obtêm seu sustento das árvores, que lhes proporcionam renda”, acrescentou.
Ameer Muhammad Khan, da Safi, disse à IPS que as comunidades locais dependem das florestas para obter lenha e construir suas casas, entre outras coisas. “O governo tem a responsabilidade de proteger essas florestas, mas não conta com a autoridade necessária para deter o Talibã, que privou 80 mil pessoas de se beneficiarem com a venda sustentável das árvores”, ponderou.
Segundo a Safi, cada morador das áreas ricas em florestas de Malakand recebia cerca de US$ 100 em direitos anualmente antes que o Talibã arrasasse suas árvores, e agora só conseguem US$ 10. A população maldiz o movimento por ter arruinado sua renda. O governo também sofreu perdas superiores a US$ 350 milhões, segundo a corporação de Desenvolvimento Florestal.
O ministro de Florestas de Khyber Pakhtunkhwa, Wajid Ali Khan, disse à IPS que sua pasta lançou um plano destinado a mobilizar as comunidades locais para plantar mais árvores, com a esperança de repor as perdidas para o Talibã. “Também iniciamos consultas com legisladores, funcionários públicos, comunidades locais e os meios de comunicação para promover bons hábitos de plantio nas áreas afetadas”, acrescentou.
O programa também busca mobilizar, organizar e fortalecer os proprietários de florestas, os titulares de direitos (aqueles que se beneficiam com venda de árvores propriedades do governo) e os não proprietários, para influenciar reformas, acrescentou o ministro.
“Embarcamos em reformas em colaboração com os titulares de direitos para realizar planos de plantação e prevenir futuros desmatamentos. Foram criados mais de 20 postos de vigilância nas florestas, administrados pelas comunidades locais em colaboração com o governo”, informou. Envolverde/IPS