Tóquio, Japão, 20/1/2012 – O Japão pretende impulsionar exportações nucleares civis enquanto tenta acalmar sua população, indignada pelos vazamentos radioativos ocorridos na central atômica de Daiichi, em Fukushima, afetada pelo terremoto e posterior tsunami de 11 de março de 2011. “O motivo pelo qual Tóquio adota esta perigosa medida é conseguir oportunidades de negócios e influência diplomática nos países em desenvolvimento”, explicou Yuki Tanabe, especialista do Centro do Japão para um Meio Ambiente e uma Sociedade Sustentáveis (Jacses).
O Comitê de Relações Exteriores da Câmara de Representantes aprovou em dezembro projetos para permitir a exportação de instalações nucleares para Vietnã e Jordânia, como parte da cooperação bilateral com esses países. O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, justificou os acordos dizendo que estes países “necessitam desesperadamente da tecnologia de alto nível do Japão”. Porém, Noda também disse que seu país deve ajudar a “aumentar a segurança das usinas nucleares nesses países”.
Há acordos pendentes com vários outros países, como Índia, Bangladesh e Turquia, que incluem a construção de centrais nucleares, sua operação e manejo por parte de empresas japonesas. Contudo, ambientalistas no Japão e nos países receptores unem esforços contra esses projetos, em uma campanha que ganha força devido ao acidente nuclear em Fukushima.
Além dos enormes riscos para a saúde que a contaminação radioativa implica, os ativistas apontam os exorbitantes custos da energia nuclear, que nos últimos meses ficaram muito evidentes no Japão. A contaminação radioativa posterior ao acidente de Fukushima forçou a fuga de mais de 150 mil pessoas que moravam nas proximidades.
Além disso, dezenas de milhares de hectares de terras agrícolas foram declaradas perigosas para a produção de alimentos. Análises feitas este mês no mar revelaram a contaminação dos recursos marinhos, o que os deixa impróprios para o consumo. A Empresa de eletricidade de Tóquio, operadora da usina de Fukushima, tem de pagar indenizações superiores a US$ 60 bilhões, o que a obrigou a pedir financiamento público.
Estes complexos temas foram destaque na conferência antinuclear organizada nos dias 14 e 15, por organizações japonesas e internacionais na cidade de Yokohama. Participantes da Coreia do Sul, União Europeia e do Canadá, entre outros, apresentaram casos que ilustraram uma forte opinião interna contrária à energia nuclear. Praful Bidwai, ativista indiano pela energia segura e renovável, explicou aos participantes a importância de as populações que vivem perto de usinas nucleares realizarem protestos regularmente.
Atualmente, as usinas atômicas atendem 3% das necessidades energéticas da Índia, mas há planos para aumentar essa proporção para 20% até 2020, para apoiar o crescimento econômico e atender a demanda. Bidwai destacou que a Índia não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e tem maus antecedentes em matéria de segurança atômica, após ter sofrido vários acidentes, incêndios, explosões e vazamentos de água radioativa, que expuseram trabalhadores e população à radiação.
Em outubro de 2011, Noda e o chanceler indiano, Somanahalli Krishna, acordaram reiniciar as conversações sobre como criar as condições necessárias para uma associação entre os dois países para promover uma energia atômica pacífica. Funcionários e empresários que apoiam a tecnologia nuclear disseram que as exportações nucleares do Japão continuarão.
O debate antinuclear se estende a vários países. Na Coreia do Sul, uma pesquisa feita em outubro mostrou que 68% da população se opõe à construção de novos reatores, expondo a falta de apoio público aos seis novos projetos nucleares propostos pelo governo. Este país assinou, no ano passado, um novo acordo de exportação nuclear com os Emirados Árabes Unidos e compete com o Japão para conseguir pedidos da Finlândia.
A Mongólia, país rico em urânio, também se converteu em um ponto focal do debate antinuclear, após informes divulgados na imprensa, em maio de 2011, informando que Japão e Estados Unidos planejavam construir ali uma unidade de eliminação de combustível nuclear usado. Selnge Lkhagvajav, integrante do Partido Verde da Mongólia, afirmou na reunião de Yokohama que seu país não tem os especialistas ou a tecnologia necessários para aceitar energia ou lixo nuclear. “Os países nucleares veem a Mongólia como um lixão por causa de suas leis brandas. Lutaremos contra essas medidas”, declarou à IPS.
O Japão, que depende da geração nuclear para atender 30% de sua demanda energética, promete implantar medidas rígidas para aumentar a proteção contra acidentes como o de Fukushima. No entanto, Tanabe, da Jacses, disse que tais medidas são inúteis. Testes feitos em instalações nucleares reduziram drasticamente a produção atômica do Japão, e os ativistas veem nisto uma oportunidade para o país buscar fontes energéticas mais seguras. Envolverde/IPS