Peshawar, Paquistão, 24/1/2012 – Para incrementar sua campanha de terror no norte do Paquistão, o movimento islâmico Talibã começou a lançar bombas contendo substâncias químicas tóxicas que deixam suas vítimas deformadas. “As novas técnicas criadas pelos combatentes têm o objetivo de deixar sérios ferimentos nos sobreviventes das explosões. “As vítimas desenvolvem contraturas (musculares permanentes) e deformidades físicas”, explicou à IPS o cirurgião Muhammad Tahzeebullah, do Hospital Lady Reading, em Peshawar.
O Talibã conta com especialistas que fabricam explosivos capazes de causar graves ferimentos, disse Muhammad. “Nos últimos dois anos, notamos que as vítimas acabam desenvolvendo mais complicações e deficiências”, acrescentou o médico. Khalid Khan, oficial da equipe de desativação de explosivos, explicou que o Talibã criou manuais especiais para fabricar bombas, que são utilizados em seus centros de treinamento nas Áreas Tribais Federalmente Administradas (Fata), e que enumeram os equipamentos e os insumos necessários para criar uma fábrica de bombas.
“Os acampamentos que treinam os atacantes suicidas, e outros para colocarem explosivos, desenvolveram manuais escritos em pashtún, urdu, persa e árabe, explicando como conseguir os ingredientes e fabricar as bombas”, afirmou Khan. Acrescentou que a facilidade para obter materiais incendiários, como magnésio, potássio e sódio, facilitam o trabalho do Talibã. Apenas 10% dos feridos nos ataques do movimento islâmico sobrevivem e, no geral, ficam deformados.
No Paquistão, pelo menos 35 mil pessoas morreram nos últimos anos, entre elas cinco mil soldados, em ataques suicidas com bombas do Talibã, cujos combatentes se esconderam nas Fata após serem expulsos do Afeganistão pelas forças dos Estados Unidos, em 2001. Em meados de 2005, o Talibã já lutava contra as forças do governo paquistanês, atacando mercados, lojas de música e cibercafés. Depois passaram a atacar mesquitas e funerais.
No ano passado, os Estados Unidos pressionaram o Paquistão para deter a distribuição de produtos que pudessem ser usados em explosivos caseiros, a arma mais efetiva do Talibã contra as forças ocidentais no Afeganistão.
Misturar potássio, nitrogênio, açúcar, ureia e glicerina em explosivos causa feridas complexas e profundas, disse o professor Nasir Shah, do Colégio Médico de Bannu. Os insurgentes ganharam experiência fabricando as bombas, que são mais mortais do que antes, reconheceu.
Omar Ali, de 15 anos, sobrevivente de um ataque suicida em agosto do ano passado, pode enfrentar uma longa agonia devido aos ferimentos sofridos. “Suas lesões pareciam normais, mas os químicos misturados nos explosivos lhe causaram septicemia e, provavelmente, morrerá”, lamentou o cirurgião Jamil Anwar, do Complexo Médico de Hayatabad.
“A única forma de minimizar as possibilidades de uma infecção profunda é levar rapidamente a vítima aos hospitais para assegurar que as feridas sejam limpas”, disse o cirurgião à IPS. Porém, a maioria é transportada muito tarde, permitindo que as substâncias penetrem e causem sérios danos ou infecções, explicou. As lesões causadas por armas de fogo ou acidentes de transporte, ainda que severas, são mais fáceis de tratar do que as provocadas pelos atentados do Talibã, acrescentou o médico.
Tariq Khan, cirurgião plástico no Hospital Escola de Khyber, em Peshawar, esclareceu que os explosivos à base de fósforo são os mais mortíferos. “Os ferimentos por queimaduras normais respondem aos antibióticos, mas as causadas por explosões caseiras com nitrogênio e potássio são incuráveis, e as vítimas, em geral, morrem mesmo se atingidas em apenas 10% do corpo”, afirmou.
Sirajuddin Syed, do Departamento de Acidentes e Emergências no Hospital Lady Reading, disse que as bombas produzem monóxido de carbono e retardam a capacidade de oxigenação do sangue. “A fumaça desses explosivos penetra no corpo e atrasa o processo de oxigenação, por isso os pacientes entram em coma e morrem”, explicou.
“Desde 2005, recebemos 1.319 pessoas feridas por atentados terroristas com bomba, e 50% destas morreram”, informou Syed. “Em nossa experiência, os ferimentos causados por pólvora e metralha são curáveis, mas não as provocadas pelas bombas do Talibã”, lamentou.
Em resposta à estratégia talibã, um novo centro de última geração está sendo construído no Complexo Médico de Hayatabad, ao custo de US$ 11,5 milhões para tratar vítimas dos ataques terroristas no Afeganistão e Paquistão. A Sala de Queimaduras, Traumas e Reconstrução Benazir Bhutto Shaheed, com 120 leitos, só tratará afegãos e paquistaneses com feridas causadas por ataques terroristas. A sala leva o nome da ex-primeira-ministra paquistanesa (1988-1990) assassinada em um atentado com bomba em dezembro de 2007. Envolverde/IPS