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Complexa recuperação dos refugiados no Japão

Minami-Sanriku, Japão, 25/1/2012 – A japonesa Yumi Goto, de 60 anos, vive com seu marido em um abrigo temporário localizado sobre uma colina de onde é possível observar a costa devastada pelo tsunami de 11 de março de 2011, onde até aquela data ficava sua casa. “O enorme terremoto e o tsunami destruíram a vida que eu conhecia até então. Esperamos voltar à nossa vida anterior o mais rápido possível’, disse Goto à IPS.

Sua família retomou sua ocupação tradicional em dezembro, mas está longe de colher alga marinha e ostras na escala que fazia antes da catástrofe que devastou a região nordeste de Tohoku, que inclui as prefeituras mais afetadas: Fukushima, Iwate e Miyagi.

Uma pesquisa feita este mês por funcionários locais revela que menos de 20% dos refugiados que vivem em Minami-Sanriku querem ir embora desse lugar, localizado sobre pujantes portos pesqueiros, férteis terras agrícolas e pequenos povoados na prefeitura de Miyagi.

Durante séculos, estas antigas áreas do norte abasteceram Tóquio de recursos marinhos e agrícolas. Os meios de sustento tradicionais permaneceram inalterados e as comunidades se conformaram em continuar isoladas das drásticas mudanças mundiais que as cercavam.

“Minami-Sanriku é um exemplo dos desafios no processo de recuperação pós-desastre. A população, como revelam as pesquisas, está profundamente arraigada em seu modo de vida tradicional e não quer se mudar para outro lugar”, explicou Akio Shimada, especialista em políticas públicas da Universidade de Tohoku.

O Japão já embarcou em um vasto programa de recuperação para Tohoku que, segundo o governo, consumirá três anos. Para os planejadores, essa região, com sua população de refugiados e idosos, apresenta vários dilemas, quando faltam menos de dois meses para o primeiro aniversário do terremoto.

Os habitantes das aldeias de Tohoku afetadas pelo desastre são alvo de consultas antes de tomarem decisões drásticas. Alguns, como Goto e seu marido, decidiram ficar, sabendo que podem continuar pescando somente se permanecerem em Minami-Sanriku. Mas a geração mais jovem não está tão segura, e a quantidade total de famílias em Minami-Sanriku passou de 5.400 antes do terremoto para 4.893 depois da catástrofe.

O especialista em demografia Ryuzaburo Sato, do Instituto Nacional de Pesquisas sobre População e Segurança Social de Tóquio, disse à IPS que a redução da população rural começou antes da catástrofe de março passado. “Os jovens preferem buscar trabalho em grandes cidades, que podem oferecer estilo de vida estável e moderno”, explicou à IPS.

Em um número recorde, a população do Japão diminuiu em 123 mil pessoas em 2010, caindo pelo quarto ano consecutivo. Tohoku já tinha a menor densidade demográfica do país, com menos de 200 habitantes por quilômetro quadrado. Determinados a estabelecer um novo conceito no processo de recuperação, especialistas e prefeitos de Tohoku levam adiante uma estratégia de desenvolvimento altamente localizada que – afirmam – é crucial para revitalizar a região.

Um dos maiores defensores de um novo modelo de desenvolvimento em Tohoku é Hiroya Masuda, ex-prefeito de Miyakoshi, povoado pesqueiro de 60 mil habitantes na prefeitura de Iwate, também devastada pelo terremoto e pelo tsunami. Masuda está à frente de um movimento que pressiona para que o governo central destine fundos para estimular a indústria marinha local. Isto promoverá a economia do lugar, incentivando os jovens a ficarem, afirmou.

Reclamações semelhantes chegam da prefeitura de Fukushima, que sofre contaminação radiativa devido ao acidente na central nuclear de Daichii, afetada pelas duas catástrofes. O ex-governador Eisaburo Sato é um veemente crítico das tradicionais políticas japonesas de desenvolvimento, as quais condenou publicamente dizendo que são um desperdício e não beneficiam as comunidades locais obrigadas a apoiar as empresas ricas de Tóquio.

Fukushima já registra o maior êxodo populacional (menos 30 mil habitantes de um total de 45 mil) que se registra na região de Tohoku. A tendência geral é que os moradores mais velhos fiquem, enquanto a população em idade de trabalhar, preocupada com o emprego e os riscos para a saúde, deixe a cidade. Shimada explicou à IPS que o desastre de Tohoku, importante ponto de inflexão para as economias locais, agora dá lições em matéria de recuperação posterior a desastres.

“Os fundos devem ser destinados a projetos inovadores que enriqueçam a população local”, afirmou Shimada, ressaltando um maior apoio à transferência de tecnologia para os setores da agricultura e pesca tradicionais. Estabelecimentos pesqueiros guiados pela biotecnologia, novas pesquisas energéticas e produção agrícola de alta qualidade são alguns dos projetos que agora são propostos para Tohoku.

Quanto a Goto, apesar de sua determinação em reiniciar a vida em Minami-Sanriku, também quer uma mudança. “Desde que era adolescente ajudei primeiro meu pai e depois meu marido a cultivar algas e administrar as capturas de ostras. O trabalho é extenuante para as mulheres”, contou. “Embora seja muito velha para partir, estou certa de que novos negócios incentivariam minhas filhas a ficarem e fazer de Minami-Sanriku um lugar atraente para viver”, acrescentou. Envolverde/IPS