Beirute, Líbano, 26/1/2012 – Os dez meses de conflito afetaram gravemente a economia da Síria. A brutal repressão às manifestações pacíficas pedindo democracia derivaram em uma revolta armada em cidades como Homs, Hama e Jabal al-Zawiya. “A situação econômica é extremamente difícil de avaliar”, disse à IPS, por telefone, de Damasco, o economista Jihad Yazigi, autor do boletim econômico Informe Síria. O documento publicado pela Agência de Comunicação e Informação do Oriente Médio (Meica), com sede em Paris, é uma das principais fontes de informação sobre a economia síria.
Entretanto, a decisão da empresa qualificadora de risco Moody de baixar a nota do setor bancário do Líbano, de estável para negativo, no começo deste mês, se deveu, em parte, à deterioração da situação na Síria e em outros locais conflituosos da região. Além disso, a Moody mencionou a vulnerabilidade dos empréstimos e ativos dos bancos libaneses diante da situação da Síria e de outros países com conflitos internos.
A economia síria já dá sinais de grave deterioração. Enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma contração de 2% e o Business Monitor International eleva essa projeção para 9,6%, Yazigi é mais pessimista ainda e coloca o retrocesso em 15%. A quantidade de visitantes que chegaram à Síria caiu 64% desde março de 2011, segundo o Ministério do Turismo. A pressão também aumentou devido às novas sanções, especialmente contra o setor petroleiro.
“A União Europeia era a principal compradora do petróleo sírio e agora o país tenta conseguir novos clientes”, informou à IPS o chefe de economia do libanês Byblos Bank, Nassib Ghobril. O Biblos Bank também opera na Síria, país que produzia 385 mil barris (de 159 litros) diários em 2010, destinados quase em sua totalidade à Europa.
O ministro do Petróleo, Sufian Allaw, disse na semana passada que a Síria perdeu mais de US$ 2 bilhões desde setembro de 2011, por não poder exportar petróleo nem derivados. Atualmente, ocorrem cortes diários de energia elétrica de três horas em Damasco, que permaneceu relativamente a salvo da onda de protestos. Em algumas áreas fora da capital, a falta de luz passou de oito horas, segundo seus moradores.
A crise afeta o setor financeiro. A libra síria perdeu quase 50% de seu valor frente ao dólar devido à fuga de capitais. Isto produziu uma inflação de 20%, estimou Yazigi, embora o estatal Escritório Central de Estatísticas a situe em apenas 3,38% em setembro de 2011. As autoridades procuraram conter uma corrida aos bancos cobrando a retirada de dólares, aumentando os juros sobre os depósitos e restringindo a compra de divisas estrangeiras.
Devido às sanções, o Banque Saudi Fransi, propriedade em parte da rede francesa de bancos cooperativos Crédit Agricole, anunciou em novembro que venderia 27% de sua participação na Bemo Saudi Fransi Siria pelos riscos financeiros, explicou. O total de ativos dos bancos sírios chega hoje a US$ 44 bilhões, divididos entre 14 instituições privadas e seis estatais, disse Ghobril, do Byblos Bank.
“No que diz respeito ao público, alguns clientes endividados, que no começo atrasavam os pagamentos, agora são diretamente caloteiros”, disse um profissional do setor que trabalhou com bancos sírios e pediu para não ser identificado. “Os bancos têm uma limitada capacidade de ação. É muito difícil cobrar a devolução de computadores portáteis e automóveis por falta de pagamento dos empréstimos”, acrescentou.
As pressões também aumentam no setor de empréstimos corporativos, acrescentou a fonte, pois mais companhias solicitaram ampliação de seus créditos, na forma de descobertos e letras de câmbio, entre outros. Um comentário no blog Syria Comment, do cientista político Joshua Landis, menciona a possibilidade de que os bancos estatais caiam em suspensão de pagamentos com o sistema privado.
“A pergunta crucial é por quanto tempo o governo poderá continuar cobrindo suas necessidades orçamentárias, estimadas em US$ 21 bilhões ao ano”, disse o bancário. Antes da crise, as reservas do Banco Central eram de US$ 18 bilhões, segundo dados oficiais. Alguns especialistas estimam que agora estejam em torno dos US$ 11 bilhões.
Com o aumento da pressão fiscal, o Banco não tem outra saída a não ser emitir moeda, o que gerará mais inflação, disse o editor do Syria Report. O Banco Central não divulga informação desde maio de 2011, o que lança um manto de dúvidas sobre as projeções da economia síria. Dependerá muito do apoio econômico que o regime de Bashar al-Assad receber de seus aliados, Iraque e Irã. Envolverde/IPS