Washington, Estados Unidos, 8/2/2012 – “As mulheres têm as chaves para derrubar as barreiras para um desenvolvimento sustentável”, afirmou certa vez a subsecretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Asha-Rose Migiro. Contudo, suas próprias portas costumam estar fechadas. As mulheres desempenham papéis essenciais na economia, agricultura e no desenvolvimento mundial. Porém, embora a retórica sobre a importância de sua inclusão em projetos de desenvolvimento tenha chegado a um clímax nos últimos anos, os projetos de investimentos comumente não dão o exemplo quanto a incluir realmente uma perspectiva de gênero.
Os principais desafios que o desenvolvimento sustentável enfrenta são a desigualdade de gênero, a mudança climática, a degradação dos recursos naturais e a recessão mundial, descreveu Melanne Verveer, embaixadora do Departamento de Estado norte-americano para assuntos das mulheres, em uma conferência sobre igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável. “Não terá êxito nenhum esforço para promover o desenvolvimento sustentável que não leve em conta a metade da população mundial”, acrescentou.
“As mulheres promovem, há tempos, soluções para os desafios do desenvolvimento sustentável. Promovem mecanismos de adaptação e mitigação da mudança climática, proteção da biodiversidade e de ecossistemas vitais, garantindo o acesso à água e combatendo a contaminação aérea em espaços interiores”, disse Verveer.
Segundo a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), as mulheres são responsáveis pela metade da produção mundial de alimentos. Além disso, continuam carregando a maior parte das responsabilidades no lar, desde cuidar dos filhos até preparar as refeições. Assim, a participação das mulheres é crucial para o sucesso dos projetos de desenvolvimento sustentável.
Entretanto, e embora admitam a importância da igualdade de gênero no desenvolvimento, o Banco Mundial e outras instituições financeiras multilaterais continuam tomando decisões insensíveis ao gênero, declarou à IPS a presidente da organização Gender Action, Elaine Zuckerman. “Muitas pessoas propõem a igualdade de gênero, os direitos e o poder das mulheres, mas, quando se olha os orçamentos, existe uma enorme desconexão. É fundamental que a retórica se traduza em investimentos”, acrescentou.
As instituições financeiras multilaterais veem o gênero como um “assunto fraco”, disse à IPS a coordenadora de programas da Gender Action, Elizabeth Arend. O orçamento do ano passado do Banco Mundial para investimentos em matéria de “desenvolvimento social, gênero e inclusão” caiu de US$ 952 milhões para US$ 908 milhões, apesar de o Informe sobre o Desenvolvimento Mundial destacar os temas de exclusão das mulheres. O gasto do Banco nesta categoria representa menos de 2% de seu orçamento de 2011, explicou Arend.
“Não basta ter um punhado de especialistas em gênero em uma instituição como o Banco Mundial. Tampouco é permissível abordar o tema em um só parágrafo dentro de um documento de 160 páginas de avaliação de um projeto”, acrescentou Arend à IPS. “As instituições financeiras internacionais devem entender que cada componente de cada projeto em cada setor tem implicações de gênero, e que marginalizar este assunto prejudica de modo fundamental a efetividade e a sustentabilidade dos investimentos”, afirmou.
Muitos projetos de instituições internacionais não abordam as desigualdades de gênero que impedem mulheres e meninas de participarem e se beneficiarem de atividades desses mesmos projetos, segundo especialistas. As mulheres tendem a sofrer de maneira desproporcional quando as desigualdades de gênero não são incluídas nos projetos de desenvolvimento, como, por exemplo, os projetos do gasoduto da África ocidental e o oleoduto Chade-Camarões, financiados pelo Banco Mundial.
Uma investigação da Gender Action em associação com a Amigos da Terra concluiu que, como no projeto não foram consideradas as dimensões de gênero, “as instituições financeiras internacionais reforçaram o status de segunda classe ao marginalizar as mulheres nos processos de consulta, discriminá-las em programas de compensação e oportunidades de emprego, e prejudicar os cruciais meios de sustento das mulheres”.
Arend acredita que há vários motivos para a persistente brecha entre a retórica do Banco Mundial e o financiamento que realmente destina aos assuntos de gênero. Primeiro está a discrepância histórica entre o que a equipe de pesquisadores do Banco prioriza e o dinheiro que realmente recebe. Segundo, se a direção não vê o gênero como uma prioridade, então este não é integrado nos investimentos do Banco.
Para Arend, definitivamente, o Banco Mundial é uma empresa. “O Informe sobre o Desenvolvimento Mundial dá um exemplo. A fundadora da Gender Action, Elaine Zuckerman, acompanhou desde sua criação e praticamente não viu uma correlação entre o Informe e o financiamento real”, afirmou. “Embora o Banco esteja ocupado promovendo este Informe e suas conclusões, além de sua campanha nas mídias sociais ‘Pensa em Igualdade’, não está investindo mais em gênero, absolutamente”, garantiu Zuckerman.
Entretanto, esta situação pode estar mudando lentamente. Arend observou que o Banco comprometeu US$ 40 milhões para relançar um “projeto de serviços públicos para o fortalecimento da agricultura” no Haiti, cujo investimento original data de 2009. O novo projeto “desenvolve um programa de capacitação financeira para produtoras e comerciantes agrícolas, fortalece a capacidade da equipe do Ministério da Agricultura sobre assuntos de gênero e apoia a integração de um Ponto Focal de Gênero no Ministério”, como pediram as beneficiárias. “O projeto do Haiti está longe de ser perfeito, mas isto mostra que o Banco Mundial é capaz de fazer investimentos de maneira sensível ao gênero. Tudo o que parece faltar é vontade”, destacou Arend. Envolverde/IPS