Jerusalém, Israel, 16/2/2012 – Temendo as repercussões de uma eventual queda do presidente sírio, Bashar al-Assad, os líderes de Israel flutuam entre a autocomplacência, o otimismo cauteloso e o medo. Na semana passada, quando disparou o número de mortos na crise síria, que já dura 11 meses, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, destacou orgulhoso que seu país era “uma casa de campo na selva do Oriente Médio”. A situação na Síria “nos faz recordar o tipo de vizinhança em que vivemos”, acrescentou.
Israel adotou oficialmente uma política de não interferência na crise síria. Contudo, isto foi antes de a situação se agravar e o número de civis mortos aumentar. A rádio do exército perguntou ao ministro de Assuntos Estratégicos, Moshe Ya’alon, se Israel mantém contatos com a oposição síria, mas este evitou dar uma resposta dizendo “não espera que esses assuntos sejam discutidos nos meios de comunicação”.
Há apenas três meses, o ministro da Defesa, Ehud Barak, antecipou que a saída de Assad era questão “não de meses”, mas “de semanas”, e expressou sua satisfação porque a Síria deixaria de ser o eixo estratégico da aliança dos inimigos de Israel. “Quando a família Assad cair, será um grande golpe para o eixo radical liderado pelo Irã.
Enfraquecerá o Hezbolá (Partido de Deus, movimento libanês), bem como o apoio ao Hamás (Movimento de Resistência Islâmica) e privará os iranianos de um reduto no mundo árabe. Isto é algo positivo para Israel”, previu Barak em dezembro.
Israel lançou duas guerras contra aliados da Síria na frente norte e na frente sul: em 2006 contra o Hezbolá no Líbano e em 2008 (que se estendeu até 2009) contra o Hamás na Faixa de Gaza. Entretanto, a avaliação de Barak é uma das tantas feitas pelos círculos de inteligência israelenses enquanto observam nervosamente como a região se transforma. E nem todas são otimistas. Israel elaborou mais de uma vez planos de contingência para os piores cenários.
Enquanto o triunfo eleitoral da Irmandade Muçulmana no Egito, nas primeiras eleições após a queda de Hosni Mubarak, causava temores em Israel de que a Primavare Árabe se transformasse em um “Inverno Islâmico”, a Síria era vista como uma muralha estável contra o possível avanço dos muçulmanos fundamentalistas. Os funcionários israelenses gostam de lembrar como o pai do atual presidente sírio, Hafez Al Assad, reprimiu violentamente uma insurgência da Irmandade Muçulmana no começo da década de 1980.
Até há pouco tempo, também destacavam que, desde o acordo de cessar-fogo assinado com a Síria após a guerra de 1973, a calma prevaleceu nas colinas de Golan, ocupadas por Israel desde 1967. No entanto, em maio e junho, em meio à crise síria, refugiados palestinos romperam os limites impostos pelo cessar-fogo e seguiram para a zona israelense. Isso desatou o caos: soldados israelenses mataram dezenas de manifestantes. Israel responsabilizou Assad pelos incidentes, já que pouco antes advertira que uma intervenção estrangeira em seu país desataria uma crise em toda a região.
A forma como Israel vê Assad sofreu profundas mudanças na última década. Em 2005, quando o presidente norte-americano George W. Bush promovia uma “mudança de regime” em vários países árabes, o então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon alertou sobre os riscos de aplicar essa estratégia a Assad, a quem chamou de “mal conhecido”. Segundo Sharon, era melhor para Israel preservar um líder previsível como Assad do que promover a chegada de um sucessor incerto.
Porém, dois anos depois, quando ficou claro que a Síria tentava construir um reator nuclear com conhecimentos norte-coreanos, Assad deixou de ser considerado um líder convencional. O incipiente reator foi bombardeado por Israel em 2007. Agora a pergunta é: o que acontecerá no dia em que Assad for derrubado?
Após o veto de China e Rússia a uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que pedia a renúncia de Assad, especialistas em defesa de Israel analisam novamente se a Síria poderia arrastar seu país a uma guerra. Alguns especulam que Assad poderia (seguindo a filosofia “se caio, você cai comigo”) transferir seus avançados mísseis terra-terra e seus supostos arsenais de armas químicas e biológicas ao Hezbolá.
“A preocupação imediata é o grande arsenal de armas químicas e biológicas” de Damasco, disse à imprensa no mês passado o comandante da Força Aérea israelense, Amir Eshel. No entanto, o destacado analista de defesa Ron Bem-Yishai, afirmou no jornal Yedioth Aharonoth que, “no momento, não há indícios de que isso tenha se materializado, nem de que Assad tente iniciar uma guerra com Israel”.
Segundo as últimas estimativas do chefe de inteligência militar, Aviv Kochavi, Hezbolá e Hamás já contam com um arsenal de aproximadamente 200 mil mísseis e foguetes fornecidos pela Síria e pelo Irã, destinados serem usados contra Israel. Outro temor é que, após uma eventual queda de Assad, essas armas sejam contrabandeadas e cheguem a mãos de combatentes islâmicos, da mesma forma que armas líbias terminaram em poder do Hamás depois da queda de Muammar Gadafi.
Por fim, os líderes israelenses conjeturam que o Ocidente poderia intervir na Síria para deter o derramamento de sangue, e consideram que tal mostra de determinação poderia dissuadir Teerã de continuar com seu programa nuclear por medo de que lhe ocorra a mesma sorte. “Alguns acreditam que um ataque contra a Síria em nome dos direitos humanos poderia prevenir uma guerra com o Irã para que detenha seu programa nuclear”, escreveu o analista Zvi Barel na semana passada no jornal progressista Haaretz. Envolverde/IPS