Valle, Anguilla, 20/3/2012 – Quando o furacão Luis, de categoria quatro em uma escala de cinco, açoitou a diminuta ilha caribenha de Anguilla, em setembro de 1995, suas fortes ondas causaram a erosão de todas as praias e deixaram vastas áreas costeiras atapetadas de plantas marinhas e dejetos de arrecifes de coral. Quatro anos depois, o furacão Lenny piorou a situação, ao aprofundar a erosão das áreas costeiras de tal forma que ainda não foi possível recuperá-las.
O diretor da Divisão Ambiental, Karim V. D. Hodge, disse à IPS que a atual perda de litoral é uma dura evidência de que Anguilla sofre o impacto da mudança climática. “A praia da Baía de Shoal foi muito prejudicada pelo mar nos últimos três anos. Uma empresa foi muito afetada por suas consequências. Perdemos uns bons nove metros de praia, apenas pelas ondas”, afirmou.
Também mostrou o que antes foi uma famosa praia com um popular restaurante, devastada pelas consequências do avanço do mar. “Costumava haver cerca de nove metros de areia branca. Agora, quase se tem o mar na porta e os coqueiros começam a cair na água”, lamentou Hodge. Um atracadouro da zona da Baía de Cove, na costa sul de Anguilla, foi demolido muito perto do que alguma vez foi uma praia. “Entre a Baía de Cove e a de Maunday costumava haver de nove a 12 metros de dunas, a principal via de acesso a esta última. Mas já não há dunas, e isto é um exemplo do impacto que teve a erosão causada pelos furacões e pelo mar”, destacou.
Como para a maioria de seus vizinhos do Caribe de língua inglesa, as praias de Anguila são essenciais para seu bem-estar social, econômico e ambiental, diz o estudo. Ambiente e Desenvolvimento de Litorais em Regiões Costeiras e Ilhas Pequenas, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
As praias também protegem a terra da ação das ondas, especialmente na temporada de furacões no Oceano Atlântico (de junho a novembro), oferecem importante recurso recreativo para turistas e moradores do lugar e constituem o habitat de plantas e animais costeiros, onde, por exemplo, tartarugas marinhas fazem ninhos. Além disso, são uma fonte de cascalho para a construção, uma parte esteticamente muito valorizada e com alto valor cultural e ambiental.
Este território autônomo britânico de ultramar, de 235 quilômetros quadrados e 15 mil habitantes, situado no extremo norte das Ilhas de Barlovento, nas Antilhas Menores, luta em duas frentes: capacitação e desenvolvimento de uma política de longo prazo contra a mudança climática, além de enfrentar as conjunturas ambientais.
“Asseguramos a capacidade dos recursos humanos”, disse Hodge. “O antecipamos, o governo foi proativo, treinou gente do Departamento do Meio Ambiente com as habilidades necessárias, um engenheiro especialista em costa e outra pessoa especialista em gestão na zona e em questões de mudança climática e desenvolvimento sustentável”, afirmou. “Isto do ponto de vista dos recursos humanos, mas também buscamos fundos para poder pesquisar e recolher dados que nos ajudem a entender os desafios costeiros”, acrescentou.
Também foi redigido o projeto de uma política estratégica sobre mudança climática para a ilha após as consultas nacionais feitas entre 2008 e 2010. Mas o plano ainda deve ser aprovado pelo gabinete governamental. Porém, Hodge, um dos três autores do documento, lamenta que as agências estatais avancem tão lentamente na implantação de uma lei para permitir que Anguilla receba fundos para poder mitigar os efeitos da mudança climática.
“Há um assunto fundamental em que Anguilla falha. Ter uma norma clara, a Lei de Proteção Ambiental, que trate sobre mudança climática e que contenha os meios para Anguilla permitir que a Grã-Bretanha amplie a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática a esta ilha”, explicou. “Esta lei está pendente por problemas internos entre algumas agências importantes e que devem ser resolvidos. É uma lástima. Se a lei existisse, poderíamos conseguir e garantir os fundos”, argumentou.
O presidente do Escritório de Energia Renovável de Anguilla, David Carty, concorda com esta análise, e disse à IPS que sempre se preocupou por a ilha não ter maior dinamismo e consciência do meio ambiente na governança, mesmo antes de a questão da mudança climática aparecer no radar. “Para a maioria das pessoas é mais importante um rabanete do que a mudança climática. Olhos que não veem, coração que não sente; o insidioso deste fenômeno é que não podemos vê-lo”, ressaltou.
Também disse que a evidência, incluída a bandeira vermelha padrão da degradação do arrecife, é flagrante. “A vegetação está muito mais exuberante do que antes e tenho a forte suspeita de que é por um ligeiro aumento do dióxido de carbono na atmosfera e pelo fato de a fotossíntese depender enormemente do CO²”, observou Carty. Ex-presidente do parlamento, contou que mostrou fotos aos seus colegas da ilha e do exterior há muitos anos, quando era bastante desértica, em especial na pior da estação seca, e outras de como é agora.
“Há outras questões como a degradação dos corais, que sei que não é tudo por causa da mudança climática, mas sou um tipo de construtor e sempre estive em contato com o entorno marinho, e quando se enfia a cabeça na água pode-se ver a prova contundente, especialmente em nossos sistemas de arrecifes”, afirmou. “Ao contrário das grandes ilhas, não temos escapatória. Não é um problema para nós o enorme lançamento de esgoto no mar, de fato, é quase nulo”, explicou Carty.
Segundo Carty, “pode-se ver a degradação no coral, que não tem nada a ver com a diminuição de predadores e a alteração do ecossistema por causa da sobrepesca, já que a captura excessiva de predadores cria uma reação em cadeia descendente”. “Não creio que uma pessoa média leve em conta essas coisas”, acrescentou, responsabilizando a mídia norte-americana e o movimento cristão evangélico por minimizarem a questão da mudança climática.
Com vistas à nova temporada de furacões que está por começar, Hodge disse que há um novo departamento destinado a planejar cuidadosamente o desenvolvimento da costa de Anguilla para que se construa a uma distância prudente da praia.
“Temos algumas pautas para contratempos que são fazer funcionar o Departamento de Planejamento Físico. Em Anguilla, como no resto do Caribe, a terra é um bem apreciado pela população, que possui 95% do território”, acrescentou. É um desafio para nossos companheiros do Planejamento Físico em termos de poder implantar isso sem a interferência dos de cima. É uma pequena sociedade, e estas são as verdadeiras preocupações, concluiu. Envolverde/IPS