Caracas, Venezuela, 28/3/2012 – Se a China é o país que emite mais dióxido de carbono (CO²) no planeta, a Venezuela e alguns de seus vizinhos no Caribe, empapados em petróleo, a ultrapassam nessa destrutiva tarefa quando as emissões são medidas por habitantes. O gigante asiático lançou 7,032 bilhões de toneladas de CO², 23% do total mundial, segundo dados referentes a 2008 do Centro de Análise de Informação sobre Dióxido de Carbono (CDIAC) do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Essa quantia representa 5,3 toneladas por habitante.
A Venezuela responde por 0,56% do total mundial desse gás-estufa: 169,5 milhões de toneladas, mas este número equivale a seis toneladas por habitantes. O setor energético é responsável por 95% das emissões venezuelanas de CO², sendo que 35% destas correspondem ao transporte, 48% à indústria do petróleo e usinas termoelétricas, e 17% ao restante do parque industrial, detalhou à IPS o engenheiro Juan Carlos Sánchez, integrante do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), organismo que em 2007 recebeu o prêmio Nobel da Paz.
“Destaca-se o desperdício no consumo de combustível, o mais barato do mundo, US$ 0,02 por litro, sem cobrir nem mesmo o custo da produção. Isto mata qualquer plano de economia ou de eficiência no uso do recurso”, advertiu Sánchez. Ao elevado consumo “deve-se agregar o desmatamento – que priva o corpo florestal de absorver CO² –, que na Venezuela chega a 240 mil hectares por ano. Embora metade de sua superfície esteja coberta por florestas, a degradação atinge 0,6% ao ano”, explicou o especialista florestal Julio César Centeno, professor de pós-graduação na Universidade de Los Andes, no sudoeste do país.
A Venezuela combina a atividade de extração de petróleo – um símbolo da degradação é que ao fim de um século de exploração ainda se queima gás em chaminés junto aos poços – com um parque automotivo voraz e a instalação de usinas termoelétricas, pelo fato de a hidreletricidade ser insuficiente. Pelas ruas e estradas da Venezuela rodam cinco milhões de veículos, que consomem cerca de 300 mil barris (de 159 litros cada) de gasolina por dia, “com a agravante de o rendimento ser de dez, ou menos, quilômetros por litro, o que lança na atmosfera 250 gramas de CO² por quilômetro percorrido, contra, por exemplo, 140 gramas na Europa, que tem planos de baixar a emissão para 95 gramas até 2020”, comparou Centeno.
Talvez a Venezuela possa se consolar se voltar o olhar para o Caribe ou para seus sócios na Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep). Trinidad e Tobago lança na atmosfera “apenas” 49,7 milhões de toneladas de CO² por ano, mas isso equivale a 37,3 toneladas por habitante, o que torna este país o segundo emissor mundial, em lista que Antilhas Holandesas (com Curaçao, até 2010) ocupa o quarto lugar com 31,9 toneladas por habitante, e Aruba, outra ilha holandesa, o nono lugar, com 21,7 toneladas por habitante.
No caso de Curaçao, incide a presença de uma refinaria de petróleo que opera desde 1918. Quanto a Trinidad e Tobago, a explicação está na extração e liquefação de gás, enquanto no caso de outras pequenas ilhas é o emprego intensivo de combustível de aviação nos aeroportos que levam e trazem viajantes. Ocorre o mesmo em outros territórios pequenos com uso intenso de combustível por diferentes razões, como Luxemburgo (oitavo emissor por habitante), o britânico penhasco de Gibraltar, o arquipélago francês Saint-Pierre et Miquelon ou as dinamarquesas Ilhas Feroe.
O líder emissor por habitante é o Catar, com 53,5 toneladas por habitante, e entre os 20 primeiros figuram outros grandes na economia dos hidrocarbonos: Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Brunei, Kuwait, Estados Unidos, Arábia Saudita, Omã e Cazaquistão. Neste “clube”, a Venezuela se destaca pela falta de políticas e medidas dirigidas a reverter ou compensar as emissões, “em contraste com um discurso ambiental grandiloquente em fóruns internacionais”, apontou Sánchez, após recordar que este país é o único da Opep que, por exemplo, ratificou o Protocolo de Kyoto sobre mudança climática.
Esgotada a capacidade de suas hidrelétricas, a Venezuela começou a instalar usinas térmicas alimentadas com combustíveis líquidos, “quando deveria se voltar para o gás, que pode gerar a mesma eletricidade com 40% menos emissões de CO²”, assinalou Centeno. As fontes consultadas pela IPS também indicam que a Venezuela deveria melhorar o rendimento de seu parque automotivo, introduzir motores de carros híbridos e que usem etanol, e proporcionar trens e, em geral, transporte público frente ao particular: de cinco milhões de veículos que rodam por dia, 3,2 milhões são automóveis particulares.
Quanto à gasolina existe uma ampla coincidência: o preço, inalterado há quase 15 anos graças aos subsídios, liquida qualquer plano de economia, além de, pela diferença com valores internacionais, representar uma perda de renda superior a US$ 12 bilhões ao ano para o Estado, segundo a consultoria Ecoanalítica.
Centeno destacou que a deterioração das bacias de rios que levam água à população deve parar e pede urgência para um plano de reflorestamento com espécies nativas de pelo menos dois milhões de hectares, o que poderia retirar da atmosfera 1,1 bilhão de toneladas de CO², quase tanta quanto a produzida por Brasil, México e Venezuela em 2008. Junto ao dano puramente ambiental está o econômico: o mundo libera, em média, 0,6 toneladas de CO² para cada US$ 1 mil de produto interno bruto.
Com base em seus parâmetros de eficiência, na Europa essa relação é de apenas 0,28 toneladas por US$ 1 mil de PIB, nos Estados Unidos de 0,42 toneladas, e no conjunto das Américas Central e do Sul de 0,53 toneladas. O registro para a China é de 2,20 toneladas por US$ 1 mil de PIB, para a Índia de 1,40, e, para os países do Oriente Médio com petróleo, um leque que vai de 0,72 toneladas no Catar até 2,52 no Irã. Os sauditas lançam 1,25 tonelada para cada US$ 1 mil produzidos. Os venezuelanos e alguns vizinhos do Caribe que são intensivos em produção e consumo de petróleo estão acima da média regional: Venezuela com 0,90 toneladas de CO² por US$ 1 mil de PIB, Trinidad e Tobago 2,45, e Antilhas Holandesas, que em 2008 incluíam Curaçao e sua grande refinaria, 2,87 toneladas. Envolverde/IPS