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Uma luz de esperança para a juventude iraniana

Raleigh, Estados Unidos, 10/4/2012 – A maior parte do poder político no Irã está nas mãos de homens idosos com barba, que vestem togas e turbantes, com exceção de um homem pequeno, de aspecto caricaturesco e com tendência à provocação. Contudo, é provável que essa realidade mude nos próximos anos, na medida em que os jovens começarem a entrar na esfera política.

Como força motora por trás dos protestos maciços registrados após a disputada reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad no verão boreal de 2009, os jovens iranianos demonstram que estão comprometidos com a democracia, bem como com as reformas sociais e políticas. Cerca de 70% dos iranianos têm menos de 35 anos.

A corrupção política aumenta, como o desemprego e a inflação (sem mencionar a constante censura, as absurdas leis “de moralidade” e os arcaicos códigos de vestimenta). Neste contexto, os jovens estão cada vez mais desencantados com o atual regime.

O pró-democrático Movimento Verde, que nasceu em 2009, esteve em gestação pelo menos por uma década. Os maiores protestos de massa antes desse verão haviam acontecido dez anos antes. De novo, os jovens foram os protagonistas. Daí que a série de manifestações, que em 2009 reuniram um milhão de pessoas nas ruas de Teerã e de outras importantes cidades do país, representaram uma espécie de sequela dos protestos estudantis de 1999, que tiveram participação de milhares deles.

O fato de que em 2009 a quantidade de manifestantes tenha se multiplicado por várias centenas no prazo de uma década demonstra o crescente descontentamento entre os jovens iranianos, e sua determinação em buscar reformas sociais e econômicas. E também sugere que há um grande potencial para uma trilogia.

Embora as manifestações desse ano não tenham desembocado em uma revolução ao estilo da registrada no Egito, alteraram de modo significativo o cenário político iraniano. Em primeiro lugar, graças às disputadas eleições presidenciais das quais os resultados foram anunciados antes de terminar a apuração dos votos, a confiança dos cidadãos na legitimidade do regime apresenta seus mais baixos índices desde a Revolução Islâmica (1979).

Além disso, como o regime não conseguiu aumentar as oportunidades de emprego para um número cada vez maior de formandos universitários, muitos jovens com instrução e desempregados são vítimas das armadilhas de tempos econômicos desesperados.

Por exemplo, apesar das habituais execuções às quais o regime iraniano submete os que vendem drogas e inclusive os usuários, o abuso dessas substâncias se tornou um problema sério, que afeta de forma desproporcional os jovens. A droga mais em moda é o crack, muito mais forte e viciante, e já devastou famílias inteiras.

O Irã também se converteu em um centro para o tráfico humano, mas o governo se comprometeu muito mais com a perseguição aos narcotraficantes. Finalmente, embora seja difícil ter acesso a estatísticas oficiais, o suicídio também parece estar crescendo e, majoritariamente, entre os jovens.

Em resumo, o atual clima social, político e econômico deixa poucas opções para muitos jovens. Com a esperança de evitar um futuro de pobreza, drogas, crimes e violência, muitos tentam emigrar. Poucos conseguem, e mesmo para os que partem o êxito está marcado por um constante estado de saudades e distanciamento.

Com tudo isto em mente, se poderia esperar que a maioria dos jovens iranianos estivesse desesperançada. Mas não. Apesar de todas estas realidades devastadoras, persiste um sentimento de otimismo. Talvez isto pareça irracional, mas, para os descendentes de aproximadamente 2.500 anos de civilização persa, a derrota não é algo que se aceite com facilidade.

Por outro lado, o aumento dos choques internos entre o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente Mahmoud Ahmadinejad, infundiu ainda mais esperanças nos muitos jovens que integram o movimento pró-democracia.

Os enfrentamentos entre estes dirigentes são muito mais do que um sinal de sua falta de apoio popular. Pelo contrário, são um sinal de sua debilidade e miopia, além de uma oportunidade de ouro para que os reformistas jovens se voltem contra o sistema.

Isto pode ocorrer nas próximas eleições presidenciais, em meados de 2013, ou mesmo antes. Seja qual for o caso, em pouco tempo o poder político cairá no colo dos jovens iranianos. E, quando isto acontecer, haverá uma mudança.

Enquanto isso, os filhos da Revolução Islâmica ainda exercem o ativismo, e, enquanto os velhos lutam entre si, as jovens e os jovens criam o cenário para um novo capítulo na política iraniana. Envolverde/IPS

* Melody Moezzi é jornalista, analista, conferencista, ativista, escritora e advogada, e diretora-executiva da organização não governamental 100 People of Faith.

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