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Agricultores de Serra Leoa ouvem os sons do progresso

Emmanuel Kargbo trabalha com um arado a motor que foi dado pela cooperativa agrícola à qual pertence. Foto: Damon Van der Linde/IPS

Lambayama, Serra Leoa, 16/4/2012 – Na comunidade de Lambayama, em Serra Leoa, os arrozais adentram na paisagem até serem abruptamente interrompidos pelas distantes colinas. Não fosse por uma estrada asfaltada que traça uma linha cinza no vale verde, a região estaria quase igual era há um século. Quase. Sob o som dos insetos e do vento ao mover as folhas, ouve-se o distante zumbido da máquina usada para lavrar a terra, sinal da mudança gradual que vem ocorrendo no modo de cultivar e de vender o alimento básico desta nação do ocidente africano.

O Programa de Comercialização para Minifundiários tenta fazer com que os agricultores locais voltem a ter o controle do cultivo mais consumido no país. Este programa, administrado pelo governo e com apoio da União Europeia está em seu quinto ano de funcionamento, e os produtores dizem que estão apenas começando a descobrir que com a agricultura se pode fazer dinheiro.

“Antes não havia lucro. Tínhamos o suficiente para comer, mas não para vender”, disse Zainab Makabu, que começou a cultivar arroz para manter seus quatro filhos. “Agora colhemos, vendemos uma parte, pagamos a escola das crianças e comemos o restante. Sem isto não poderia educar meus filhos”, afirmou.

Os serra-leoneses costumam dizer que se não comem arroz é como se não tivessem se alimentado. Os dados mais recentes mostram que pelo menos 40% deste alimento ainda é importado de países como Paquistão, Tailândia e a vizinha Guiné. Aumentar a produção local não só ajuda a manter os preços mais estáveis como também promove a segurança alimentar nacional.

A agricultura contribui com cerca de 50% do produto interno bruto do país e é o principal sustento de 75% da população economicamente ativa. De todo modo, a maior parte da pequena agricultura de Serra Leoa é de subsistência: come-se o que se produz, ou se vende sem que o processo gere muito dinheiro.

O Programa de Comercialização tenta mudar a maneira como operam os agricultores por três vias: mecanização da produção, organização dos indivíduos e promoção dos negócios. Por meio do Programa, os agricultores recebem sementes, máquinas, fertilizantes e treinamento. O objetivo é aumentar o rendimento dos cultivos e fornecer mecanismos que facilitem a venda do produto no mercado.

“No passado, os agricultores plantavam apenas para se alimentar. Não tinham mentalidade empresarial”, destacou Joseph Tholly, funcionário agrícola distrital para a comunidade de Lambayama. “Antes só se via idosos trabalhando na agricultura, mas agora também vemos jovens que participam das diferentes fases da comercialização”, acrescentou.

A guerra civil de Serra Leoa (1991-2002) prejudicou muito os pequenos agricultores. A maior parte dos choques aconteceu em áreas rurais, obrigando muitos deles a fugirem de suas terras para Freetown. Porém, a capital está congestionada pelo trânsito e superpovoada, e não há trabalho para todos.

Segundo Tholly, o Programa de Comercialização tenta fazer com que as pessoas retornem às zonas rurais, atraídas por melhor pagamento e melhor qualidade de vida. E isso pode estar funcionando. Quando começou o programa, cerca de 10% da população deste distrito ganhava a vida na agricultura. Atualmente, essa porcentagem chega a quase 60%. “Aprendi a usar esta máquina e, no fim das contas, ganho muito mais dinheiro para mim e minha família. Não planejo fazer nenhum outro tipo de trabalho”, declarou o agricultor Emmanuel Kargbo, de 26 anos.

No plano local, o Programa de Comercialização tem sua base no Centro Empresarial Agrícola. Estes complexos edifícios abrigam a maquinaria para colher e processar cultivos, armazenam o arroz antes da venda e funcionam com centros administrativos para as associações de produtores. Todos os anos cada agricultor faz uma contribuição de arroz, que o Centro vende e deposita o dinheiro em uma conta que usa, por exemplo, para manutenção dos equipamentos.

Em Lambayama, Joseph Fecah administra as finanças de um dos 108 centros empresariais agrícolas do país. Segundo ele, não só conseguiu gerar ganhos mediante o Programa de Comercialização para Minifundiários como também empregar o dinheiro para construir um depósito adicional sem ajuda do governo. “Isto é uma ampliação da agricultura tradicional. Inicialmente se faz em pequena escala, mas o governo nos incentiva a praticarmos a agricultura em grande escala. Temos dinheiro constantemente. No momento estamos bem”, enfatizou Fecah.

A União Europeia apoia iniciativas de desenvolvimento em Serra Leoa há 40 anos e participa do programa de pequena agricultura desde sua criação. Por meio do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, a UE doa anualmente 16 milhões de euros (US$ 21 milhões) para capacitação e investimento em iniciativas como o Programa de Comercialização para Minifundiários. Envolverde/IPS