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Empresários do mundo unidos com o G-20

Puerto Vallarta, México, 20/4/2012 – Demonstrando sua crescente influência, o setor empresarial dominou as propostas e reclamações no primeiro dia da reunião de ministros de Comércio do Grupo dos 20 (G-20) países ricos e de economias emergentes, aberta ontem no México.

O Business 20 (B20) entregou uma série de recomendações sobre diversos temas – como liberalização do comércio, crescimento econômico verde, soberania alimentar e energia – aos representantes dos governos presentes em Puerto Vallarta, um centro turístico do Estado de Jalisco a 890 quilômetros da capital mexicana.

E não foi só isso. Os delegados corporativos estiveram presentes nas deliberações dos altos funcionários em torno de temas como incentivo ao intercâmbio comercial, protecionismo e geração de emprego. “Estive em reuniões anteriores e é a primeira vez que vejo os empresários com um papel tão ativo”, disse durante a abertura da sessão o executivo mexicano Alejandro Ramírez, dono da rede Cinépolis e presidente do B20.

G-20 reúne o Grupo dos Oito países mais industrializados, formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão, Itália e Rússia, juntamente com Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México, África do Sul e Turquia, e mais a União Europeia.

Na reunião de Puerto Vallarta, cujos 256 mil habitantes vivem essencialmente do turismo estrangeiro, também estiveram presentes representantes da Colômbia e do Peru, que acalentam a ideia de serem aceitos nessa espécie de clube exclusivo. De fato, Lima será sede do capítulo latino-americano do Fórum Econômico Mundial de 2013.

O encontro ministerial de dois dias, que acontece a portas fechadas e sem presença da sociedade civil, foi precedido nesta semana pelo capítulo latino-americano do Fórum Econômico Mundial, no qual empresários e especialistas analisaram pela enésima vez a sobrevivência do capitalismo, encurralado por sucessivas crises econômico-financeiras desde 2008, em particular no mundo rico.

A participação do empresariado desta vez é maior do que nas cúpulas do bloco na cidade sul-coreana de Seul, em 2010, e em Cannes (França) no ano seguinte. E os empresários se apoderaram da agenda do G-20, pois as crises financeira e econômica os afetam e pretendem que as soluções os beneficiem especialmente. “O investimento e o comércio na última década se converteram em um aspecto crítico” para estimular a economia, afirmou o suíço Martin Senn, presidente do conglomerado Zürich Financial Services.

Em suas sessões, os responsáveis pela economia e pelo comércio do G-20 discutem temas como incentivo ao comércio, geração de emprego, crescimento verde e – assunto da moda – protecionismo. O México propôs o exame das cadeias globais de valor e a relação entre o comércio e o crescimento econômico e seu vínculo com o emprego. Precisamente, nas últimas semanas este país acertou novas cotas para a exportação de automóveis para o Brasil.

Mas, o tema que atraiu os comentários neste encontro foi, sem dúvida, a decisão da Argentina de nacionalizar a maio parte do pacote acionário da ex-estatal de hidrocarbono YPF, em mãos da transnacional Repsol, de origem espanhola.

“As tarifas não alfandegárias são cada vez mais difíceis de identificar. O G-20 deve se pronunciar contra o protecionismo. É preciso revisar o impacto de medias como as barreiras à exportação as sanitárias e fitossanitárias e as barreiras técnicas”, afirmou Senn.

A compra e venda de bens e serviços já se resente do golpe da crise financeira, iniciada em 2008 nos Estados Unidos, e agora ganha mais energia com os problemas da dívida de vários países europeus. A Organização Mundial do Comércio calcula que o intercâmbio global se contrairá, o que levará a atrasar a ansiada recuperação.

O peso progressivo das corporações empresariais em instâncias com o G-20 abona as críticas de organizações da sociedade civil sobre a legitimidade desses fóruns internacionais.

A Coalizão Internacional Frente ao G-20, formada por organizações de Brasil, Canadá, México, El Salvador, Peru, Equador, Chile e Grécia, indicaram em março que o G-20 enfrenta a crise “com os mesmos modelos e mesmas orientações” que a incubaram. “O G-20 promove de modo obsessivo o crescimento sem limites, agora paradoxalmente chamado de ‘verde’, o que atenta não só contra o meio ambiente são e os recursos comuns dos povos, mas também contra os direitos da natureza e a sustentabilidade do planeta”, afirma em sua declaração.

Na cidade mexicana de Los Cabos, os presidentes do G-20 abordarão na cúpula de 18 e 19 de junho políticas contra a crise financeira e sobre segurança alimentar, crescimento verde e luta contra a mudança climática, além de outros assuntos.

Ao apresentar as recomendações financeiras, o mexicano Guillermo Ortiz, ex-presidente do Banco do México, sugeriu a denominação do comércio em moedas diferentes do dólar. “O mundo se movo em múltiplas divisas e isto deve se refletir também na denominação do comércio”, explicou Ortiz, agora presidente do mexicano Grupo Financeiro Banorte. “É importante para economias como a China representar o peso de seus países no comércio internacional”, acrescentou.

Os empresários também propuseram a criação de um mecanismo de controle para revisar qual país cumpre as propostas e depois debater esses resultados. Envolverde/IPS