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Vale é acusada de danos ambientais e sociais

Afetados pela mineradora Vale se manifestaram no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação/Verena Glass, Justiça Global

Rio de Janeiro, Brasil, 23/4/2012 – Movimentos sociais de vários países denunciam a mineradora Vale, a segunda maior do mundo, pela morte de 15 trabalhadores em acidentes entre 2010 e 2012, e por outros fatos graves, com repercussões ambientais e sociais. As acusações constam da Relatório de Insustentabilidade da Vale 2012, divulgada, no dia 18 no Rio de Janeiro, pela organização Articulação Internacional dos Afetados pela Vale, que reúne 30 movimentos sociais de Brasil, Argentina, Canadá, Chile e Moçambique, alguns dos países onde a companhia atua.

Segundo cálculos das organizações sociais, e empresa brasileira, privatizada em 1997, causou em 2010 danos em uma área correspondente a 741,8 quilômetros quadrados. A mineradora é acusada de emitir nesse mesmo ano 89 milhões de toneladas de dióxido de carbono, gás que aquece a atmosfera, e 6.600 toneladas de material particulado (fumaça e pó), o que representa 29% a mais do que em 2009. A emissão de dióxido de nitrogênio foi de 110 mil toneladas em 2010, com aumento de 30% em relação ao ano anterior. E a de óxidos de enxofre chegou a 403 mil toneladas, 25% a mais do que em 2009. Os dados de emissões constam, e são reconhecidos pela Vale, em seu último Relatório de Sustentabilidade 2010.

Segundo informou à IPS a diretora-executiva da organização não governamental Justiça Global, Andressa Caldas, este é um documento “sombra” que segue os mesmos moldes do Relatório de Sustentabilidade preparado pela empresa que atua nos setores de mineração, energia e logística. “A Vale gera um grande impacto e viola os direitos humanos não apenas no Brasil, mas também em outros 37 países onde opera”, afirmou Andressa.

Em sua opinião, o que mais o destaque no relatório da ong se refere à piora das condições de trabalho. “Há casos, com no Canadá, em que a Vale mudou radicalmente a relação com trabalhadores e sindicatos, o que levou a greves, as mais longas da história do Canadá”, contou Andressa. As greves às quais se refere aconteceram durante 11 meses entre 2009 e 2010, em Sudbury e Port Colborne, na província de Ontário, sudeste do país, e durante 18 meses em Voisey’s Bay, na oriental província de Terranova e Labrador.

“A recente crise mundial foi usada como justificativa para reduzir salários, aumentar jornadas de trabalho, demissões em massa e redução de benefícios e de outros direitos adquiridos”, afirma o documento. Em 2012, quatro trabalhadores morreram em explorações canadenses da Vale. A unidade de Sudbury suspendeu, em 30 de janeiro, a operação em cinco minas após a morte de dois trabalhadores sufocados por uma enxurrada de lodo causada pela infiltração de água que inundou o túnel onde trabalhavam.

O dirigente operário Myles Sullivan disse que a investigação feita pelo sindicato United Steelworkers concluiu que a Vale ignorou os problemas de infiltração de água nas minas e que a área deveria ter sido isolada com antecedência. “Infelizmente, quatro trabalhadores morreram, dois deles em um mesmo acidente. A companhia estava consciente de que as condições de segurança não eram suficientes e nada fez para corrigi-las. Estamos pressionando o governo do Canadá para que denuncie a responsabilidade penal da Vale por estes acidentes”, informou Sullivan, no Rio de Janeiro.

O relatório social destaca outro caso de infração de normas, desta vez ambientais e no Rio de Janeiro, da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), uma empresa de risco compartilhada entre Vale e ThyssenKrupp Steel, a maior produtora de aço da Alemanha. A população que vive nas cercanias da siderúrgica sofre aumento de 600% das partículas de ferro suspensas no ar, segundo constatou o Ministério Público do Rio de Janeiro, que já havia denunciado a empresa e dois de seus diretores por crimes ambientais.

A Vale é signatária do Pacto Mundial das Nações Unidas, do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) e do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo, que estabelecem princípios de responsabilidade social e ambiental corporativa. Entretanto, em janeiro de 2011, foi eleita a “pior companhia do mundo” pelo The Public Eye Awards (Prêmio Olho Público), uma iniciativa não governamental que anualmente elege a nata da “vergonha corporativa mundial” em matéria de problemas ambientas e sociais. A Vale superou, inclusive, a japonesa Tepco, operadora dos reatores nucleares de Fukushima, que colapsaram após o tsunami de março de 2011.

Os movimentos de afetados pela Vale querem enviar seu relatório a entidades internacionais de controle, como ICMM e Global Reporting Initiative, para que pressionem a empresa a modificar sua conduta. Em 2010, a Vale obteve lucro operacional de US$ 21,7 bilhões, e em 2011, de US$ 22,2 bilhões.

A Vale aceitou comentar estas denúncias para a IPS. Sua assessoria de imprensa divulgou um comunicado informando que “recebe com respeito todas as sugestões e denúncias referentes às suas operações”. E prossegue: “Temos consciência de que a atividade mineradora provoca impacto e, por isto, trabalhamos em associação com as comunidades e os governos para encontrar soluções que garantam segurança às pessoas, bem como maior convivência harmônica e saudável”.

A empresa admitiu as mortes ocorridas no Canadá e garantiu que “faz um enorme esforço para evitá-las, adotando medidas que priorizem a saúde e a segurança dos trabalhadores”. Em seu último Relatório de Sustentabilidade a Vale reconhece que em 2010 houve 11 acidentes mortais e assegura que aprofundará sua estratégia para “alcançar a meta de zero fatalidade”. Envolverde/IPS