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Mais livres, porém mais contaminados

Puerto Vallarta, México, 23/4/2012 – As cadeias de valor e os elos presentes na produção e distribuição de bens centralizaram a análise dos ministros de Economia e Comércio do Grupo dos 20 no segundo e último dia de reunião no México. O possível dano ambiental dessas atividades ficou de fora. “A posição da Organização Mundial do Comércio é que se deve proteger o meio ambiente sem criar obstáculos ao comércio”, disse à IPS o francês Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, que participou das deliberações que terminaram no dia 20, em Puerto Vallarta, no México.

Porém, cerca de 90% do comércio mundial é realizado por via marítima, em flagrante prejuízo do meio ambiente devido ao consumo de combustível fóssil. A OMC permite que um país aplique medidas comerciais por preocupações ambientais ou sanitárias, sem que isto busque fins protecionistas. Em suas reuniões, os responsáveis pela economia e pelo comércio do G-20, reunidos a portas fechadas e sem a presença da sociedade civil, examinaram temas como incentivo ao comércio, criação de emprego, crescimento verde, importância das cadeias de valor e protecionismo.

O G-20 reúne o Grupo dos Oito países mais industrializados, formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão, Itália e Rússia, juntamente com África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México e Turquia, além da União Europeia. Contudo, para esta reunião, a primeira na história deste bloco a reunir ministros da Economia e do Comércio, foram convidados delegados da Colômbia, do Peru e do Chile, que aspiram ser aceitos no grupo.

“Consideramos esse um tema com o qual se pode começar a trabalhar no longo prazo”, declarou à IPS o grego Angelos Pangratis, chefe da missão da União Europeia junto à OMC e presente em Puerto Vallarta. O consumo de bens importados influi na transferência de emissões de dióxido de carbono, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Estudos feitos por organizações como a francesa Carbone 4 e o alemão Instituto Leibniz para a Pesquisa Econômica confirmaram que a incidência das importações aumentou essas emissões. “Mais comércio não é bom para o meio ambiente. Contudo, esta não é uma reunião sobre mudança climática”, destacou à IPS o ministro australiano do Comércio, Craig Emerson.

O encontro, no final das contas, foi uma apologia ao livre comércio e, por extensão, condenou-se o protecionismo. No encerramento da reunião, o ministro de Economia do México, Bruno Ferrari, pediu para “manter e promover o livre comércio”, a fim de fortalecer o crescimento econômico e gerar emprego. “Qualquer medida protecionista só pode ser contraproducente para todos”, em um momento em que a economia mundial está em fase crítica, ressaltou o ministro, recordando que 56% dos bens comercializados são matérias-primas, peças, componentes e produtos semielaborados.

Os ministros entregarão suas conclusões ao presidente do México, Felipe Calderón, que preside o bloco este ano e o entregará à Rússia em 2013. Esses temas serão agregados à agenda que os presidentes do G-20 abordarão na cúpula, de 18 e 19 de junho na cidade mexicana de Los Cabos, centrada em assuntos como a luta contra a crise financeira, segurança alimentar, crescimento verde, mudança climática e outros assuntos.

“O G-20 evolui diante de novos desafios, como a crise financeira profunda e a mudança climática, ao estender sua agenda para tratar de temas sociais e ambientais e de maior regulamentação financeira, e ao assumir compromissos mais detalhados e mais ambiciosos, desenvolvendo suas próprias instituições para abordá-los diretamente”, explicou à IPS o acadêmico John Kirton, da Universidade de Toronto. Kirton é diretor e cofundador do Grupo de Pesquisa sobre o G-20 que começou com análises sobre o G-8 e estendeu seus estudos para o novo bloco.

“É necessário expandir o livro da OMC para incluir temas como mudança climática e proteção ambiental”, opinou, por sua vez, Pangratis. A OMC calcula para este ano uma contração no intercâmbio mundial, o que prejudicará o contexto econômico. “Não contemplar a totalidade do que implica o comércio não fornece uma imagem completa, pois aumentar as importações não significa perder exportações”, afirmou Ferrari. O ministro mexicano considerou que restringir as importações é “dar um tiro no pé, já que o protecionismo comercial traz consigo o risco de afetar as empresas nacionais ao alijá-las das cadeias globais de valor em lugar de lhes dar uma vantagem competitiva”.

Por sua vez, Lamy recomendou “o incentivo ao comércio de serviços e tecnologia, que podem contribuir para um comércio mais sustentável” e para a “eficiência” no trabalho e no uso dos recursos naturais. Por sua vez, Kirton disse que “a legitimidade depende de mais volume de comércio do que de quantos e quais estão sobre a mesa. O G-20 precisa incluir mais integralmente um setor maior da sociedade civil em sua estrutura de governo”. Contudo, esta possibilidade ainda parece distante. Envolverde/IPS