Arquivo

O caminho menos percorrido

São Francisco, Estados Unidos, 26/4/2012 – “Dentro de 20 anos estarás mais decepcionado pelas coisas que não fizestes do que por aquelas que fizestes. Assim, solte as amarras. Navegue longe do porto seguro. Prenda os ventos alísios em tuas velas. Explora. Sonhe. Descubra.”, escreve o famoso Mark Twain (1835-1910). Cada vez mais pessoas levam este conselho ao pé da letra e partem para explorar e descobrir.

Deste modo, o turismo mundial ganha uma dimensão sem precedentes, prevendo-se para este ano o recorde de um bilhão de visitas. No processo serão gerados investimentos multimilionários e criados um em cada 12 empregos em todo o mundo, as vidas de milhões de pessoas serão potenciadas, e enormes oportunidades serão geradas para o crescimento e o desenvolvimento dos países, tanto ricos como pobres.

Por sua capacidade de gerar riqueza, o turismo tem um papel crucial no êxito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em matéria de prosperidade, paz e sustentabilidade. Novos desafios, como mudança climática, pobreza, fome e doenças, tornam mais complexo e angustiante o cumprimento destas metas. Assim, quando de 20 a 22 de junho acontecer a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), os líderes do turismo terão que forjar alianças ativas com outros setores da economia mundial para alcançar um futuro inclusivo, equitativo e sustentável para todos.

O turismo é como fogo. Bem manejado pode nos ser útil; se permitirmos que nos domine, pode nos queimar. O turismo apresenta muitos desafios para o bem-estar da comunidade mundial e para a saúde de nosso planeta: da degradação cultural das comunidades locais à completa destruição de seus sistemas de valor. Além do mais, os turistas atentam contra a saúde da terra ao visitarem excessivamente ecossistemas frágeis e devido às emissões de dióxido de carbono e outros contaminantes derivados de seus meios de transporte, de automóveis a ônibus, trens e aviões.

A indústria mundial de viagens enfrenta agora o desafio de tomar uma decisão consciente a respeito de onde deseja ir e como. Algo semelhante ao proposto por Robert Frost (1874-1963) em seu poema O caminho não escolhido: “Dois caminhos se bifurcam em uma floresta amarela, / e penalizado por não poder seguir os dois (…) / Dois caminhos se bifurcam em uma floresta e eu, / Eu tomei o menos percorrido, / E isso fez toda a diferença”.

O turismo mundial parece ter escolhido o caminho “menos percorrido”. Contudo, de todo modo, vai tropeçando, não muito seguro de como chegará aonde deseja ir. O turismo responsável pede que destinos, agentes de viagens e viajantes se unam igualmente na operação dos trajetos, com sensibilidade para os entornos sociais, culturais, naturais e econômicos das comunidades anfitriãs e da Mãe Terra.

Para isso, a indústria vem incentivando várias formas de turismo sustentável desde a década de 1970, quando começou o movimento ambiental. Foi a partir dali que surgiu o que atualmente é o conceito popular de ecoturismo. Este alimenta o desejo de viajar para cenários naturais, longe das atrações criadas pelos seres humanos, permitindo ao turista experimentar a natureza em sua glória original, e ser educado sobre a cultura e os estilos de vida de sociedades menos conhecidas e mal compreendidas.

Essas visitas criam o efeito benéfico de arrecadar fundos para a conservação de paisagens naturais e monumentos culturais desatendidos, além de ajudar economicamente comunidades empobrecidas. A outra face da moeda é que a crescente popularidade do ecoturismo levou inescrupulosos operadores turísticos e hoteleiros a abusarem e explorarem entornos e sociedades vulneráveis.

Isto se deve, em parte, à falta de uma única definição internacionalmente aceita sobre o que é ecoturismo, que frequentemente se mistura com turismo sustentável, turismo verde, turismo natural, etc. As organizações turísticas e conservacionistas têm suas definições de ecoturismo. Operadores individuais e governos também sujam as águas ao promoverem suas próprias definições.

Entretanto, no sentido mais amplo, ecoturismo é viajar a pontos ecológica e culturalmente delicados, causando os menores impactos negativos possíveis nesses lugares. Naturalmente, é impossível que seres humanos façam uma viagem a algum lugar sem gerar impactos negativos, porque inclusive para chegar ali prejudica o meio ambiente, devido à emissão de gases poluentes.

Os aviões estão entre os piores emissores de contaminantes da indústria das viagens, embora a Associação Internacional de Transporte Aéreo afirme que este meio contribui com apenas 2% das emissões mundiais de dióxido de carbono causadas pela atividade humana. Isto é menos do que as flatulências das vacas na Europa! O turismo somará 43 milhões a mais de visitantes a cada ano, até chegar a 1,8 bilhão em 2030, fazendo com que os recursos do planeta corram um risco ainda maior.

Portanto, é crucial que os viajantes sejam educados para serem sensíveis ao meio ambiente dos lugares que visitam e para entenderem que têm uma grande responsabilidade diante da Mãe Terra. No mundo de hoje, tão interligado, o turismo não pode se manter isolado da comunidade. Precisamos agir em conjunto, colocando o interesse coletivo acima do próprio. Como disse Nelson Mandela, “depois de escalar uma grande montanha, se descobre apenas que há muitas outras a serem escaladas”. Envolverde/IPS

* Lakshman Ratnapala é presidente emérito da Pacific Asia Travel Association.