Dia da Sobrecarga da Terra

Como a indústria pode ajudar o planeta Terra a sair do “cheque especial”

Foto: Marcus Millo de Getty Images
Foto: Marcus Millo de Getty Images

Por Álvaro Lorenz* –

O Dia da Sobrecarga da Terra é uma data simbólica que marca quando o consumo dos recursos naturais utilizados pela humanidade supera a capacidade do planeta de renová-los durante um ano.  Esse levantamento é realizado pela organização Global Footprint Network. A definição da data varia a cada ano com base em um cálculo que divide a quantidade de recursos que o planeta produz e/ou regenera por ano pelo consumo diário dos recursos naturais. O resultado é levado então para uma base anual. 

Em 2024, o Dia Mundial da Sobrecarga da Terra acontece em 1º de agosto, mostrando que em apenas sete meses as pessoas já consumiram os recursos que o planeta demora 12 meses para produzir ou regenerar. Existe também um cálculo de datas da sobrecarga para cada país. No caso do Brasil, esse marco acontece três dias após a data global, em 4 de agosto. A partir dessa data, é como se ultrapassássemos o limite, entrando no vermelho e passando a usar o “cheque especial” da Terra.

Esse tipo de levantamento mostra que precisamos adotar modelos econômicos mais inteligentes e sustentáveis, que reduzam o consumo dos recursos naturais do nosso planeta. A economia circular é um exemplo que como podemos ajudar a Terra a sair do “cheque especial”, mantendo o valor dos produtos e materiais, além de contribuir para a regeneração do meio ambiente. A economia circular possui três princípios fundamentais: a eliminação de resíduos e da poluição; a manutenção de produtos e materiais em uso, evitando descarte; e a regeneração da natureza.

Muitas indústrias têm adotado a economia circular ao longo do seu processo produtivo, substituindo o conceito de fim de vida pela redução, reutilização alternativa, recuperação de processos e materiais para diminuir o desperdício, otimizar bens e ativos e promover a efetividade e a sustentabilidade. O setor cimenteiro é um exemplo de indústria que coloca em prática o conceito da economia circular, reaproveitando diversos resíduos do planeta em seu processo produtivo. 

A fabricação do cimento começa com a produção de clínquer. O principal componente do cimento é obtido a partir do aquecimento do calcário e outras matérias-primas em fornos de alta temperatura, acima dos 1.400 graus Celsius. É nessa etapa que ocorre a maior parcela das emissões diretas de CO2, tanto pelo calcário quanto pelo uso de combustível fóssil. Tendo em vista seu compromisso com a sustentabilidade, o setor cimenteiro desenvolveu tecnologias para diminuir a quantidade de clínquer na composição do cimento e utilizar combustíveis alternativos em substituição aos combustíveis fósseis no processo de produção do clinquer. Destaco que ambas as soluções não afetam a qualidade do cimento.

A redução do uso do clínquer acontece pela sua substituição por subprodutos de outras indústrias e de matérias-primas alternativas, como escória de alto forno, cinzas volantes, argilas calcinadas e filler calcário. A produção de cimentos com materiais cimentícios diversifica e amplia as possibilidades de aplicação do cimento, atende a várias demandas do mercado e representa uma solução ambientalmente correta para a destinação de subprodutos de outros processos produtivos, reduzindo a proporção de clínquer no cimento e, consequentemente, as emissões de CO2. 

A outra frente é o coprocessamento, que transforma em energia diferentes tipos de resíduos, que vão desde os gerados pela indústria, comércio e cidades até resíduos de biomassas (como casca de arroz, caroço de açaí, caroço do algodão, entre outros). O coprocessamento é uma tecnologia utilizada mundialmente como destinação adequada e ambientalmente correta para eliminação de diferentes tipos de resíduos. Por meio dessa tecnologia limpa, os resíduos são completamente destruídos nos fornos da indústria cimenteira, sem restar qualquer passivo ambiental devido às altas temperaturas inerentes ao processo de fabricação do cimento. 

Ao ser transformado em energia, os resíduos deixam de ir para os aterros sanitários, onde entrariam em processo de decomposição que levaria anos e geraria gases nocivos ao planeta, como o metano. A solução do coprocessamento cumpre a legislação vigente no Brasil e em vários países da Europa e das América por meio de uma tecnologia limpa, que não gera passivos e ainda transforma materiais, que antes eram considerados resíduos, em matérias-primas, promovendo assim a economia circular. 

Dentro do conceito de hierarquia de resíduos, o coprocessamento é uma tecnologia complementar a outras disponíveis atualmente. Essa hierarquia determina como prioridade a não geração de resíduos, seguido pela redução, reutilização, reciclagem, tratamento e, como última alternativa, a destinação em aterros sanitários. Dentre as opções de tratamento, está o coprocessamento.

A substituição de uso do clinquer e o coprocessamento são exemplos de como a indústria cimenteira promove um ciclo de renovação e reaproveitamento, alavancando a cadeia de valor e a parceria entre vários setores da economia. Nesse sentido, destaco a prática do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) de número 17, que fala sobre parceria em prol das metas. Somente juntos, unindo esforços, é que vamos encontrar novos materiais cimentícios e diferentes tipos de resíduos para serem transformados em energia e, assim, diminuir a sobrecarga da Terra. 

Convido cada um de nós para assumirmos nossa responsabilidade como sociedade, adotando um papel de consumo consciente e de respeito à biodiversidade, ao uso de recursos naturais e ao reaproveitamento e reciclagem. Depende de todos nós! 

*Álvaro Lorenz, diretor global de Sustentabilidade, Relações Institucionais, Desenvolvimento de Produto e Engenharia da Votorantim Cimentos

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