por Samyra Crespo –
Mas, se olharmos para a frente, não só para esse presenteismo louco, estressante, podemos também confiar que a Amazônia existirá para os amazônidas e para o Brasil, como um dos ativos mais estratégicos do País. Como floresta em pé, como remanescentes savanizados, como um misto de fronteira agrícola e vida nativa, com cidades prósperas ou degradadas.
A Amazônia será o que conseguirmos fazer como país e como sociedade dela.
Há milhares de boas iniciativas na Amazônia. Pouco se fala delas nestes dias.
A imprensa alarmista tem mais repercussão. Pir isso mostra-se o mal feito: desmatamento, dragas de garimpo, queimadas, rios secos, gente desesperada.
Não se pode ser contra a realidade, mas se deve separar a ‘opinião pública ‘ da opinião publicada.
Não são a mesma coisa. Não são a realidade inteira.
Uma pauta carregada de negatividade nos deixa impotentes e solitários aqueles que se batem lá e cá por melhorias.
Em breve começará em Fortaleza (CE) um encontro de jornalismo ambiental.
Torço fortemente para que haja uma séria reflexão sobre a função desse segmento estratégico de produção de informação.
Se queremos ser arauto da desgraça, anunciadores do apocalipse ou mensageiros das mudanças, das novidades esperançosas, das aplicações de uma nova ciência ou paradigma.
Não se trata de escolher o aspecto romântico ou ‘do bem’ (essa simplificação nunca ajuda).
Mas de posicionar-se de maneira determinada a favor das iniciativas virtuosas. Alardear os bons resultados. Fortalecer os agentes públicos e privados que estão suando a camisa para reverter situações dramáticas ou urgentes.
Com a seca de rios como Solimões, Madeira e outros, possivelmente nossos irmãos das comunidades ribeirinhas precisam de nós. Como os do sul alagado precisaram há pouco.
Penso que neste dia de reflexão (proposta afinal do dia dedicado à Amazônia), devamos também lembrar que a Amazônia não é só nossa. Falta, e muito, informação confiável sobre o que o Peru e a Colômbia estão fazendo, por exemplo.
Enfim, nos falta uma visão latino-americana dos problemas e das soluções para a região.
Gosto de olhar para aquela parte do nosso Brasil megadiverso, a mais extensa em território com os olhos da avaliação objetiva: maior floresta tropical das Américas, maior bacia hidrográfica do país, uma rica biodiversidade, uma paisagem exuberante e uma população crescente de pessoas que tem tanto direito ao futuro quanto nós.
Nossos desafios, só nos resta enfrentá-los.
Lamentações e gritaria têm eficácia bem limitada e pouca incidência sobre a realidade.
Estamos saturados de tragédias.
* Samyra Crespo é ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.