Reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa até 2050 depende de uma transformação global que substitua os combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis. A conclusão é do estudo “Low-carbon fuels: The last mile to net zero ”, elaborado pela Deloitte – organização com o portfólio de serviços mais diversificado do mundo – que aponta os combustíveis sintéticos, como amônia, metanol e querosene sintético, como alternativas para reduzir as emissões de CO2 de forma significativa nos próximos 30 anos, se tornando os principais facilitadores da descarbonização em áreas historicamente dependentes de fontes de energia tradicionais: aviação e transporte marítimo.
O estudo estima que será necessária a geração de 850 milhões de toneladas de hidrogênio sustentável e CO2 neutro, através do combustível sintético, visando uma transformação significativa e esforços coordenados para as cadeias de valor dos dois setores, até 2050. A transição dos combustíveis fósseis para o menos poluente na aviação e no transporte marítimo exigirá esforços coordenados e ambiciosos de cada stakeholders nas cadeias de valor.
O levantamento foi feito com base em análises quantitativas do modelo global Hydrogen Pathway Explorer (HyPE), ferramenta desenvolvida pela Deloitte que usa modelos analíticos avançados para explorar diferentes caminhos para o uso do hidrogênio como fonte de energia limpa, e foi apresentado durante a COP29, no Azerbaijão.
O estudo revela que as emissões de CO2 da aviação devem permanecer estagnadas até 2030 e atingir uma redução de 75% até 2050. Já o setor de transporte marítimo deve alcançar uma redução quase total de suas emissões, com reduções de emissões de 95%, também até 2050.
“Atingir emissões zero de gases de efeito estufa requer uma transformação fundamental da sociedade. Embora no curto prazo a aceitação de combustíveis sintéticos seja limitada, eles serão os principais facilitadores da descarbonização no longo prazo. Esses produtos, atualmente, estão fora do mix atual de combustíveis para aviação e transporte marítimo, mas poderão representar quase 60% dele até 2050, sendo os principais facilitadores da descarbonização”, afirma Guilherme Lockmann, sócio-líder da Deloitte para Sustentabilidade e o segmento de Power, Utilities e Renewables.
As mudanças serão impulsionadas por dois fatores principais: cerca de 30% dessa redução de emissões deverão vir de medidas de eficiência (como otimização de rotas e logística, controle de velocidade, designs aerodinâmicos e hidrodinâmicos aprimorados, tecnologias de motorização mais eficientes e redução de peso dos veículos) e, especialmente, pela adoção de combustíveis sintéticos que possuem um baixo índice de carbono (representando 65% da diminuição).
O estudo, no entanto, alerta para os desafios tecnológicos, regulatórios e financeiros. Com custos de produção elevados e infraestrutura insuficiente, atingir a escala necessária exige investimentos anuais de aproximadamente US$ 130 bilhões até 2050. Além disso, será fundamental aumentar significativamente a capacidade de geração de energia renovável, estimada em 10.000 terawatt-hora (TWh) anuais até o fim da década de 2040.
Outro ponto observado na análise é que a produção de combustíveis sintéticos demandará cerca de 150 milhões de toneladas de hidrogênio sustentável e 700 milhões de toneladas de CO2 neutro para o clima, o que requer a coordenação de governos, organizações internacionais, fornecedores de combustível, fabricantes de aviões, estaleiros, aeroportos, portos, companhias aéreas e empresas de navegação.
Para desbloquear o potencial de descarbonização dos combustíveis sintéticos é importante um amplo aumento da capacidade de energia renovável. Embora sejam a chave para esse processo, eles ainda estão em um estágio inicial de implantação, com estruturas regulatórias quase inexistentes e custos significativamente mais altos do que os combustíveis fósseis. Um quadro regulamentar padronizado a nível mundial é essencial para o seu desenvolvimento.”A transição dos combustíveis fósseis na aviação e no transporte marítimo exigirá esforços coordenados e ambiciosos de cada stakeholders nas cadeias de valor. Isso inclui criadores de políticas públicas, organizações internacionais, fornecedores de combustível, fabricantes de aviões e construtores navais, aeroportos e autoridades portuárias, companhias aéreas e empresas de navegação. Essa perspectiva descreve o papel único e complementar que cada participante da cadeia de valor pode desempenhar para descarbonizar os céus e os mares. A janela para colocar o mundo no caminho para o net zero está se fechando rapidamente, é hora de aumentar a ambição e permitir a ação”, afirma Maria Emilia Peres, sócia da Deloitte Brasil para Estratégia em Sustentabilidade e Inovação.