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Líderes da África ocidental querem a ordem

Abdijan, Costa do Marfim, 2/5/2012 – A libertação do primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, e do presidente interino, Raimundo Pereira, detidos em 12 de abril pelos golpistas, atende às cobranças da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) de restabelecer imediatamente a ordem nesse país. Os dois governantes foram enviados para a Costa do Marfim. A Cedeao havia dado à junta militar que tomou o controle da Guiné-Bissau prazo de 72 horas, até o dia 29 de abril, para reinstaurar um governo constitucional, despachando um contingente de pelo menos 500 soldados para esse país em uma tentativa de resolver a crise política reinante.

“Não podemos tolerar mais a usurpação de poder na Guiné-Bissau”, declarou o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, que também encabeça a Cedeao, durante a cúpula extraordinária realizada no dia 26 de abril, em Abdijan. Os golpistas devem dar um passo atrás e permitir o rápido início de um processo de transição, acrescentou. A Cedeao alertou, ao fim do encontro, que, se a junta não aceitasse suas demandas, imporia sanções imediatas aos membros do comando militar e seus aliados. Também ameaçou com sanções diplomáticas e econômicas contra o país e não excluiu a possibilidade de enviar alguns casos ao Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, na Holanda.

Os chefes de Estado e de governo da África ocidental decidiram enviar soldados para Guiné-Bissau e Mali. “A força enviada para Mali ajudará os órgãos de transição e o governo interino a responder perante qualquer eventualidade e no caso de serem necessários seus serviços para restaurar a integridade territorial de Mali”, declarou aos jornalistas o presidente da Comissão da Cedeao, Désiré Kadré Ouédraogo.

Estamos negociando com os rebeldes tuaregues, que controlam o norte de Mali, informou Ouédraogo. O contingente originalmente enviado a esse país cuidará da manutenção da paz e da segurança durante um período de transição de um ano, ao fim do qual espera-se que haja eleições limpas. Contudo, se as conversações fracassarem, a missão poderá ser reforçada com unidades de combate, acrescentou.

O governante interino de Mali, Dioncounda Traoré, esteve na cúpula, que teve a participação especial de Mohammad Ould Abdel Azizi, presidente da Mauritânia, que não pertence à Cedeao mas compartilha fronteira com esse país.

Os golpistas de Guiné-Bissau aceitaram o contingente de 500 a 600 soldados sob a autoridade da Cedeao. A força deverá facilitar a retirada da Missão de Assistência Militar e Técnica de Angola nesse país, colaborar com a reforma do exército nacional e ajudar a manter a segurança do programa de transição que deve ser implementado. Os efetivos do contingente serão de Nigéria, Togo, Costa do Marfim e Senegal, sob o comando do coronel Barro Gnibanga, de Burkina Faso.

A cúpula também criou um grupo de contato regional com a missão de coordenar a implantação e o controle das decisões da Cedeao sobre a Guiné-Bissau, que estará integrado por Benin, Cabo Verde, Gâmbia, Guiné, Senegal e Togo, presidido pela Nigéria. “A Cedeao tenta manter uma linha firme na condução desses dois casos. Houve um ligeiro retrocesso na situação em Mali, porque os líderes regionais reconheceram que o que ocorre no norte é mais complicado do que se pensava”, explicou à IPS o especialista político Barthélémy Kodja, morador em Abdijan.

“Na Guiné-Bissau o contexto está bem definido e é fácil controlar o envio de uma força militar, mas em Mali a situação exige maiores recursos humanos, materiais e econômicos”, ponderou Kodja. “Inicialmente, parecia que a Cedeao se envolveria militarmente em Mali para lutar contra os rebeldes tuaregues e outros grupos armados”, acrescentou.

“Os líderes regionais, especialmente o atual presidente da Cedeao, Ouattara, mostrou certa preferência por essa atitude, mas concordaram em revisar esses planos, pois ficar preso em um conflito ali causaria graves problemas para a região e além dela”, ressaltou Kodja. Após o golpe de Estado em Mali, no dia 21 de março, os rebeldes tuaregues e outros grupos armados islâmicos assumiram o controle de algumas partes do norte do país.

O presidente deposto de Mali, Amadou Toumani Touré, aceitou renunciar e permitir um governo de transição dirigido pelo presidente da Assembleia Nacional, Diocounda Traoré. O xeque Modibo Diarra foi designado primeiro-ministro do governo de transição em 17 de abril e, na semana passada, formou um governo de unidade.  O golpe de Estado na Guiné-Bissau ocorreu no dia 12 de abril, entre o primeiro e o segundo turno eleitoral, previsto para o dia 29 de abril. Soldados rebeldes dispararam contra a residência do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o levaram detido, bem como o presidente interino, Raimundo Pereira. Envolverde/IPS