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Trabalhadores e estudantes reclamam unidos

Nova York, Estados Unidos, 3/5/2012 – As ruas de grandes cidades dos Estados Unidos foram tomadas por dezenas de milhares de pessoas em protesto pela crescente e corrosiva influência do dinheiro na política nacional, contra o desperdício do orçamento militar e pelos problemas de emprego e moradia.

“Por que deixar 18 milhões de moradias vazias quando há três milhões de pessoas sem teto?”, perguntou Pham Binh, ativista do movimento Ocupe Wall Street (OWS), se referindo às execuções hipotecárias em massa desde a crise financeira e econômica que começou há mais de quatro anos neste país e se propagou ao resto do Norte industrial. O lucro das empresas da bolsa de valores de Wall Street aumentou 720% entre 2007 e 2009, enquanto o valor das casas dos cidadãos comuns caiu 35% no mesmo período.

Trabalhadores, estudantes e ativistas da OWS convocaram para 1º deste mês uma marcha em Wall Street, centro financeiro de Nova York, onde funcionam muitas companhias multimilionárias que influem na tomada de decisão do governoa traves de seus grupos de pressão.

A cada 1º de maio se comemora no mundo o Dia Internacional dos Trabalhadores, em memória da maciça greve de operários norte-americanos realizada nesse dia em 1886, reclamando jornada de trabalho de oito horas, que acabou em repressão, julgamentos fraudulentos e execuções. Oito líderes sindicais desses protestos ficaram na história como os Mártires de Chicago.

Paradoxalmente, os Estados Unidos são um dos pouquíssimos países onde não existe essa comemoração, substituída pelo imposto Dia do Trabalho (Labor Day) em cada primeira segunda-feira de setembro. Para o 1º de maio deste ano, o OWS organizou uma concentração na qual os oradores denunciaram o desperdício de dinheiro nas intervenções militares dos Estados Unidos no estrangeiro e os drásticos cortes nos sistemas de saúde e educação, bem como a falta de fontes de trabalho e de medidas para aliviar a pobreza.

“Falam de recessão econômica”, disse Charles Twist, um dos participantes do protesto. “É uma crise fabricada. O Serviço Postal diz que há uma crise financeira. Mas é mentira. Possui US$ 75 bilhões para os salários extras por benefícios de saúde para aposentados”, acrescentou. “Têm todo esse dinheiro e querem privatizar. Basicamente, o 1% da população que está em Wall Street está por trás disso”, advertiu Twist, que trabalha no Serviço Postal há mais de dez anos. “Se privatizarem o Serviço Postal, milhares de comunidades serão afetadas em todo o país. Na qualidade de funcionário desse organismo sei quantas pessoas enviam encomendas para Gana, Chile e República Dominicana”, destacou.

Ao lado dele, Kendall Jackson, ativista pelo direito à moradia, disse que mais de 40 mil pessoas são obrigadas a viver em abrigos em Nova York. “Por que?”, perguntou. “Entre eles há 16 mil crianças. O 1% de Wall Street não só deixa milhares de pessoas na pobreza e sem teto como também destrói o futuro de nossos filhos”, acrescentou. “Veja este prédio feio”, falou, apontando para uma sucursal do Bank of America. “Há alguns anos havia um pequeno comércio de telas”, afirmou.

Segundo o Departamento de Economia da Universidade de Berkeley, na Califórnia, o Estado de Nova York devolve US$ 15 bilhões ao ano em impostos sobre transferência de valores para Wall Street. Uma possível fonte de renda para o Estado se perde nas mãos do 1% da população de Nova York, cujos ganhos chegam a 44% da renda deste Estado.

Os manifestantes do dia 1º portavam cartazes denunciando a problemática dos universitários com dificuldades para enfrentar os aumentos das mensalidades, bem como dos imigrantes ilegais que trabalham várias horas para poder sobreviver.

Yoko Liriano, estudante de psicologia na Universidade da Cidade de Nova York, é uma das que não sabem se poderão terminar o curso porque precisa trabalhar mais de 32 horas por semana para pagar as parcelas. “Trabalho seis dias na semana. Além do aluguel, tenho que pagar US$ 700 todo mês. Fico pensando: o governo dos Estados Unidos paga US$ 30 milhões em assistência militar às Filipinas”, questionou. Dinae Anderson, estudante secundária em Manhattan, se mostrou preocupada com Liriano pela indiferença do governo diante da necessidade de investir em educação. “Temos que manter esta luta”, afirmou.

Antes da marcha, muitos oradores de comunidades imigrantes expressaram sua preocupação pelas deportações e pela falta de proteção trabalhista. “Os trabalhadores estão na mira. Somos explorados, nos pagam mal e nos insultam. Marchamos por todas as pessoas oprimidas”, declarou Patricia François, empregada doméstica que chegou ao país procedente do Caribe e que participa das marchas de 1º de maio há cinco anos.

Desde o ano passado, quando o OWS começou a organizar protestos em Nova York, centenas de ativistas foram detidos e maltratados pela polícia. Não foram registrados distúrbios, mas a força de segurança enviou um forte contingente, inclusive com helicóptero para vigiar os manifestantes. Segundo um dos participantes, a concentração deste 1º de maio foi uma das maiores na década. “É um bom começo para enfrentar o 1% que governa”, afirmou. Envolverde/IPS