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Menos política e mais economia no Ibas

Michael Sudarkasa. Foto: Miriam Gathigah/IPS

Nairóbi, Quênia, 18/5/2012 – O crescimento econômico e social se converteu no coração da agenda do bloco de economias emergentes conhecido como Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), enquanto a política vai sendo deixada de lado. Esta é a opinião de Michael Sudarkasa, diretor-executivo do African Business Group, instituição de consultoria sobre negócios, economia e desenvolvimento, com sede na África do Sul.

Já se passaram nove anos desde a criação do fórum do Ibas, e isto teve impacto favorável na efetividade da ajuda na África, destacou Sudarkasa, com 20 anos de experiência em comércio regional e internacional e em análise de negócios, com atenção especial no desenvolvimento do setor privado.

“O fórum de diálogo do Ibas serviu de catalisador de maiores esforços dentro do Sul para explorar vias pelas quais mobilizar ajuda ao desenvolvimento com recursos internos”, declarou em entrevista à IPS. O Ibas também estimulou iniciativas bilaterais dentro do Sul, como a Associação Estratégica África-América do Sul e a Nova Associação Estratégica Asiática-Africana, acrescentou.

IPS: Há exemplos específicos do êxito do Ibas?

Michael Sudarkasa: O êxito é os países do Ibas trabalharem juntos indiretamente, estimulando maior atividade independente dos três países, como investidores e como sócios em outras partes da África. E a África do Sul redobrou seus esforços para envolver-se com outros sócios na América do Sul e na Ásia.

IPS: Houve mudanças substanciais no relacionamento bilateral e trilateral dentro do Ibas?

MS: Não há nenhum que seja muito chamativo. No começo do Brics (Brasil, Índia, China e África do Sul), quando a África do Sul aderiu, houve certa especulação de que a nova iniciativa, com a China sendo o principal motor, pudesse ofuscar o Ibas. Porém, as instituições deste grupo são bastante fortes, bem definidas e todos os seus membros reiteraram seu apoio à iniciativa e destacam seu valor como uma estrutura autônoma. Contudo, a rivalidade existe entre as estruturas, e é provável que se continue fazendo esforços para distinguir o Ibas do Brics, o que em última instância poderia derivar em mudanças mais pronunciadas e visíveis dentro do Ibas.

IPS: Quais as melhores práticas do Ibas até agora?

MS: Entre elas destacam-se o desenvolvimento de comitês técnicos conjuntos envolvendo os ministérios dos três governos, para explorar o intercâmbio de tecnologia e projetos comuns, e a criação de um fundo para apoiar os países menos adiantados dentro das três regiões.

IPS: Que impacto teve o fórum Ibas no sustento dos habitantes de seus países-membros?

MS: Economicamente, o Ibas diversificou as oportunidades para as três nações, e o comércio bilateral cresceu. Isto as livrou de uma segura contração econômica que sofreriam se tivessem permanecido concentradas apenas em suas históricas associações comerciais com o Norte.

IPS: A crise mundial comprometeu a capacidade do Ibas para conseguir objetivos de desenvolvimento?

MS: Sim, provocou algo, a crise mundial fortaleceu a resolução dos três países de se envolverem entre si economicamente, e creio que é uma oportunidade para voltar os olhos a outras associações econômicas Sul-Sul.

IPS: O Ibas é um importante exemplo de cooperação Sul-Sul que pode servir de modelo para futuras associações de países em desenvolvimento?

MS: Sem dúvida, o Ibas se converteu em modelo dos benefícios da cooperação Sul-Sul, e em importante precursor da voz do Sul nas estruturas multilaterais. Porém, o fato de o Ibas ser uma iniciativa tripartite, destinada, em parte, também a servir como ponte entre regiões e seus países-membros, dificulta que seja replicado em nações de outras zonas geográficas.

IPS: Qual a lição fundamental da experiência do Ibas?

MS: O Ibas impulsionará e continuará impulsionando as nações do Sul a se considerarem entre si como potenciais sócios fortes, e, definitivamente, fixou uma tendência para a associação Sul-Sul em apoio ao desenvolvimento. Envolverde/IPS