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Obama chamado a participar da Rio+20

Washington, Estados Unidos, 23/5/2012 – Faltando apenas um mês para o começo da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), numerosas organizações da sociedade civil exortam o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a confirmar sua participação neste encontro.

“Sua presença será de crucial importância para todos os norte-americanos e demonstrará a profunda preocupação de nosso país com as questões globais urgentes que, inevitavelmente, afetarão nossa segurança e nosso bem-estar”, diz uma carta aberta assinada por várias associações ambientalistas. Também “destacará a determinação de nossa nação em ser participante da corrida para uma economia verde”, acrescenta. A Casa Branca negou-se a fazer comentários, dizendo que ainda não recebera a carta, que no dia 21 foi tornada pública.

Don Kraus, diretor-geral da organização Citizens for Global Solutions, com sede em Washington, afirmou que “a liderança dos Estados Unidos na Conferência é essencial”. A chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, declinaram do convite para também participarem da Rio+20. “Dificilmente Merkel, Cameron e outros governantes não participarão caso Obama priorize a cúpula à frente de outras questões de política interna. Não vejo outro país que possa proporcionar o mesmo grau de liderança ao processo”, destacou Kraus à IPS.

A Rio+20 acontecerá de 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro e marcará duas décadas desde a histórica Cúpula da Terra, como foi chamada a Conferência das Nações Unidas realizada também no Rio de Janeiro, em 1992. Naquela oportunidade, as negociações permitiram que em 1997 fosse aprovado o Protocolo de Kyoto, o acordo internacional mais significativo na luta contra a mudança climática, mas que os Estados Unidos resistem a assinar e ratificar, apesar de serem o país de maior economia do mundo, o maior consumidor de recursos e o mais contaminante.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou, no final de abril, que a participação de Obama na cúpula é “crucial”. Pelo menos 130 governantes já confirmaram presença na Rio+20, mas Obama permanece calado a respeito, apesar de repetir que o desenvolvimento sustentável é de primordial importância para seu governo.

Após a crise econômica e financeira, e pela impossibilidade de a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada em Copenhague em 2009, chegar a um acordo que substituísse o Protocolo de Kyoto, os governos não puderam promover iniciativas nessa área. “Depois de Copenhague ficou claro que havia muito trabalho a ser feito para se criar um clima político propício”, observou à IPS o ativista Kyle Ash, do Greenpeace.

“Em Copenhague, Obama não colocou suficiente peso na mudança climática, apenas passou o assunto para o Congresso e esperou sentado. Assim, os políticos não sentiram que houvesse suficiente pressão política”, explicou Ash. Desde então, os temas ambientais ficaram cada vez mais divisíveis. Os conservadores conseguiram vincular o assunto a uma reação maior contra o “desperdício” do gasto público. O ambiente político fez com que Obama retrocedesse sobre várias iniciativas importantes. Entretanto, uma pesquisa mostrou que 72% dos cidadãos norte-americanos entrevistados acreditam que o aquecimento global deve ser uma prioridade “muito alta” ou “média” para os governos nacionais. Os resultados foram além das simpatias partidárias.

Em Copenhague, “primeiro se tentou chegar a um enfoque complicado e hierárquico que agradasse a todos”, apontou Jacob Scherr, da Onda Verde. “Quando ficou claro que era impossível, Obama sentou-se com as novas superpotências verdes (Brasil, China, Índia e África do Sul) e juntos elaboraram o Acordo de Copenhague”, disse à IPS. “Nos últimos 30 anos que tenho de experiência, buscamos que outros países assumissem a liderança, quando os Estados Unidos parecem não estar dispostos a fazê-lo, mas não apareceu” o candidato, lamentou.

Alguns observadores destacam o papel positivo da delegação norte-americana de tentar manter a agenda da cúpula curta, focada e centrada em resultados concretos, mais do que em novos planos e novas promessas. A agenda da Rio+20 passou das cinco páginas originais propostas pelos Estados Unidos para cerca de 140, e Scherr destacou que as prioridades do governo de Obama estão no caminho certo, embora possam diluir-se se o presidente não participar da reunião.

“Não precisamos de outro tratado nem de mais promessas, já temos muitos. Esta cúpula deve conseguir ações e responsabilidades”, ressaltou Scherr. “A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Brasil deixaram claro que a cúpula não será o lugar para negociar, mas para que os governos se reúnam, anunciem o que estão fazendo e gerem vontade política para que os países assumam compromissos reais e de curto prazo”, enfatizou o representante da Onda Verde. Envolverde/IPS