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Desmatamento debilita a Indonésia

Jacarta, Indonésia, 4/6/2012 – A menos que o rápido desmatamento seja controlado na Indonésia, um dia seus habitantes poderão perguntar: ‘para onde foram todas as flores?’”. E é possível que à letra desta canção de Joan Baez se deva acrescentar: ‘para onde foram os tigres, elefantes, orangotangos, aves e comunidades florestais?’. A cantora norte-americana, uma lenda da década de 1960, cantava contra a guerra do Vietnã. Atualmente, organizações ambientalistas na Indonésia travam um combate contra o desmatamento.

Este país abriga cerca de 15% das espécies conhecidas no mundo de plantas, mamíferos e pássaros. Alguns já estão em perigo crítico devido ao desmatamento para abastecer a indústria do papel ou para dar lugar à exploração da palma e da mineração. Ao terminar na Indonésia o primeiro ano de uma moratória de dois para desmatamento, após compromisso de US$ 1 bilhão com a Noruega, uma coalizão de entidades ecologistas nacionais e internacionais pede urgência ao presidente Susilo Bambang Yudhoyono no sentido de fortalecer a medida. Seu objetivo é reduzir e, em última instância, frear definitivamente, o desmatamento no país.

“A moratória atual só inclui as novas permissões de uso de florestas, sem revisar as já existentes. Também há outras lacunas flagrantes que é preciso abordar se a Indonésia deseja cumprir seus compromissos internacionais”, afirmou em entrevista coletiva Yuyun Indradi, assessor de políticas florestais do Greenpeace Sudeste Asiático. Essas preocupações surgem às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, que acontecerá de 20 a 22 deste mês no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.

As organizações ambientalistas afirmam que a proibição é prejudicada por uma legislação deficiente. Também questionam que dá pouca proteção extra às florestas em geral e às de turfa em particular, ricas em carbono, e que não dá nenhuma proteção aos povos indígenas florestais e às comunidades locais. Se continuar o corte indiscriminado à média de mais de um milhão de hectares por ano, em 50 anos estarão destruídas todas as florestas da Indonésia.

No início de maio, as organizações disseram ter presenciando a contínua destruição florestal por parte de várias empresas, apesar da moratória. Estimaram que 4,9 milhões de hectares de florestas primárias e de turfa, de um total de 71,01 milhões de hectares cobertos pela moratória, se perderiam por culpa das indústrias vinculadas à palma, às minas de carvão e outras conversões de áreas florestais até o final daquele mês.

Também em maio, a firma indonésia Asia Pulp & Paper (APP, celulose e papel da Ásia), uma das maiores do ramo, que foi muito criticada por organizações ecologistas, anunciou que suspenderia o corte de florestas naturais a partir de 1º de junho, e que empregaria melhores procedimentos ambientais. O anúncio causou rápida reação do Greenpeace, negando que a APP praticasse boas práticas. A organização disse que imagens obtidas em seu último voo sobre essas áreas, feito em fevereiro, indicavam que continua o corte de florestas na região de Sumatra.

O desmatamento está devastando a biodiversidade. Menos de 400 tigres de Sumatra permanecem em seu habitat, os orangotangos da Ilha passaram de mil, no começo de 2000, para menos de 200 este ano, e restam apenas três mil elefantes nativos, metade dos existentes em 1985, denunciam os ambientalistas. “É razoável esperar que haja muitas espécies ameaçadas não documentadas”, disse à IPS o cientista Louis Verchot, do Centro Internacional de Pesquisa Florestal.

O desmatamento também afeta comunidades inteiras de povos originários que dependem da floresta para conseguir alimento, abrigo e sustento. Como a maior parte da terra pertence ao Estado, o governo cedeu os direitos ancestrais das comunidades nativas a empresas, afirmam organizações indígenas.

O desmatamento que ocorre na Indonésia vai além das 17 mil ilhas do arquipélago. O país é o terceiro maior emissor de gases-estufa, depois da China e dos Estados Unidos. Segundo o Greenpeace, um grande volume desses gases procede da destruição das florestas de turfa, consideradas os depósitos de carbono mais cruciais do mundo. Acredita-se que estes armazenam cerca de 35 bilhões de toneladas de carbono e, quando secam, são queimadas e substituídas por plantações de acácias, eucaliptos ou palma, liberam o dióxido de carbono na atmosfera.

Embora organizações ambientalistas acreditem que a Indonésia deveria fazer mais para deter o desmatamento, alguns funcionários acreditam que o país precisa de mais incentivos para fazê-lo. “O Ministério de Silvicultura necessita de um orçamento de cinco bilhões de rúpias (US$ 538 milhões) por ano para combater o desmatamento”, explicou Darori, diretor-geral de Proteção Florestal e Conservação da Natureza deste Ministério. Ao avaliar as declarações de Darori, o porta-voz do Greenpeace, Indradi, disse que o dinheiro “nunca é suficiente se não pudemos solucionar os problemas de corrupção no setor florestal.

Ele, que como a maioria dos indonésios tem apenas um nome, declarou que o compromisso da Noruega de aportar US$ 1 bilhão “não é suficiente”. A Indonésia “necessita que o mundo a apoie” para levar a cabo esta tarefa, destacou Darori. Segundo Verchot, “o compromisso da Noruega não soluciona todo o problema, mas transformou o debate na Indonésia, e nesse sentido tem êxito”. Esta contribuição, “ao longo de vários anos, é significativa e cimenta o caminho para que haja dinheiro adicional da iniciativa REDD+ (Redução de Emissões de Carbono Causadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas), e então o programa poderá se tornar sustentável”, ressaltou.

Darori disse à IPS que as autoridades condenaram a oito anos de prisão 12 proprietários de plantações em Sumatra, pelo desmatamento ilegal, e impôs multas de cinco bilhões de rúpias (US$ 534 mil) a cada um. O presidente Yudhoyono se comprometeu a reduzir entre 26% e 41% das emissões contaminantes do país, com ajuda da comunidade internacional, até 2020. E também destacou a importância da contribuição feita pelas indústrias florestais para a economia do país. Um estudo mostra que esta é de, aproximadamente, US$ 21 bilhões por ano, ou seja, 3,5% da economia nacional. O setor emprega cerca de 4% da força de trabalho do país. Envolverde/IPS