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Economia sofre turbulências mundiais abaixo do esperado

Santiago, Chile, 18/6/2012 – As turbulências e a incerteza na economia mundial, pelo impacto da crise na zona do euro e por outros acontecimentos, vai moderar o ritmo do crescimento da América Latina e do Caribe este ano, porém, menos do que o temido, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Por isto, essa entidade, com sede na capital do Chile, mantém em 3,7% sua previsão de crescimento para 2012, quando, após o comportamento da economia no segundo semestre de 2011, temia-se que houvesse uma revisão para baixo da projeção. A economia regional cresceu 4,3% no ano passado, mas vários de seus países mostraram uma lentidão na expansão, que foi moderada nos primeiros meses do ano, explicou este órgão regional da Organização das Nações Unidas (ONU), ao divulgar, no dia 14, o Informe Macroeconômico da América Latina e do Caribe, Junho 2012.

O impacto da atual crise financeira europeia, da desaceleração da China e da positiva, mas baixa, expansão dos Estados Unidos, será diferenciado nos países, segundo a importância relativa dos mercados de destino de suas exportações e sua estrutura exportadora, diz o documento. “Vemos, em geral, que o cenário crítico europeu, apesar de alguma incidência na economia da região, tampouco foi tão forte”, explicou à IPS o diretor de Desenvolvimento Econômico da Cepal, Juan Alberto Fuentes.

“À parte da importância da demanda interna, isso tem a ver com o grupo de países do Norte (da região) que depende mais do crescimento dos Estados Unidos, país cuja expansão apesar de precária se mantém, ou da Ásia, que apesar de desacelerada continua sendo forte”, acrescentou Fuentes.

Nos primeiros meses de 2012, o crescimento esteve associado ao aumento da demanda interna e o setor de serviços, em particular o comércio, se manteve como um dos mais dinâmicos, afirma o informe. O consumidor privado explica a maior parte da alta do produto interno bruto regional, com base em uma favorável evolução do emprego e dos salários, junto com a continuada expansão do crédito e, no caso de alguns países, com o aumento das remessas de dinheiro principalmente vindas dos Estados Unidos.

“Observamos uma contribuição especial da demanda interna no crescimento, que na grande maioria dos países é o consumo, mas em outros é o consumo e o investimento, e que está permitindo romper com a tendência de desaceleração que já se observava sobretudo no segundo semestre do ano passado”, confirmou Fuentes. Durante o primeiro trimestre do ano “se deteve e se inverteu parcialmente” a tendência à desaceleração observada no período precedente em vários países, e isso aconteceu em meio à “alta incerteza e volatilidade no contexto externo”, segundo a Cepal.

Quanto ao mesmo período de 2011, houve aumentos significativos da taxa de crescimento no Peru, Chile e Venezuela, um leve aumento no México e uma interrupção do esfriamento no Brasil. O crescimento foi menor do que em janeiro-março de 2011 na Argentina, Colômbia e Guatemala, e só o Paraguai teve uma taxa negativa durante o período. A Cepal projeta que os países com maior crescimento este ano serão Panamá com 8%, Haiti 6%, Peru 5,7%, Bolívia 5,2%, Costa Rica e Venezuela 5%, e Chile com 4,9%. Das três maiores economias regionais, México crescerá 4%, Argentina 3,5% e Brasil 2,7%.

Fuentes explicou que no caso do Haiti “evidenciamos dois fenômenos: o primeiro é o esforço de reconstrução que depois de um grande atraso começa finalmente a dar frutos, e o outro é que esse país começa com uma base muito reduzida”. O crescimento da Venezuela tem características concretas, observou, por obedecer a um forte programa de investimento público, especialmente no setor habitacional, facilitado pela bonança proporcionada pelos preços do petróleo, do qual vive sua economia. Quanto ao Brasil, “vemos que se deteve a desaceleração e prevemos que haja maior crescimento no futuro, com base nas políticas contracíclicas que na prática o país está adotando e que claramente se refletem na estratégia de taxa de juros do Banco Central”, destacou.

No entanto, as turbulências mundiais tiveram importância no setor exportador, pela queda dos preços dos principais produtos básicos da oferta regional, o que desacelerou o peso das vendas externas na economia regional. A taxa de variação interanual das exportações passou de um máximo de 29,3%, no segundo trimestre de 2011, para 10,4% no primeiro trimestre de 2012. Um fenômeno para o qual contribuiu a persistente queda das vendas para a União Europeia (UE), afetada por uma crise da dívida que tem impacto sobre a economia do bloco.

A Cepal prevê que a relativa desaceleração do crescimento econômico mundial de 2012 levará o comércio internacional da região a crescer com taxas menores do que em 2011. As exportações aumentarão 6,3%, enquanto a dinâmica da demanda interna impulsionará maior elevação das importações, de 10,2%. Com isso, se passaria de um superávit comercial de 1,3% do PIB em 2011 para outro de apenas 0,7% do PIB em 2012.

O informe adverte ser possível que a situação mundial piore e que isto poderia interromper os fluxos financeiros para a região, bem com as linhas de crédito dos bancos internacionais, o que provocaria quedas nos mercados de valores e depreciação das moedas, além de uma redução das exportações e do investimento. “Supomos que, se for mantido o cenário atual, haverá um efeito, porém menor, em contraste com o cenário que identificamos no informe”, observou Fuentes. Entretanto, tudo pode mudar em razão da volatilidade da crise da UE. Se acontecer, por exemplo, uma saída desordenada da Grécia do euro, “existe a possibilidade de contágio, com consequências similares às vividas em 2008-2009”, concluiu. Envolverde/IPS