Dal Marcondes. Foto: Arquivo pessoal

A economia do Século 21 precisa de investimentos em campos inovadores da gestão de recursos naturais e na busca de um desenvolvimento mais sustentável.

Não é que o mundo tenha deixado de ser governado pelo poder econômico e militar, mas existem outros valores emergindo neste início de século, e a Rio+20 pode ser uma oportunidade para a consolidação de uma visão de mundo mais focada em redução de desigualdades e construção de uma economia menos predatória.  Nos últimos anos, o Brasil tem se esforçado para ocupar uma posição de protagonismo nesse cenário e, em algumas áreas tem avançado de forma importante.  Existem setores que estão em evidência e que formam parte de um modelo econômico de inclusão social, baixas emissões de carbono e de governança avançada. No Brasil da Rio+20 alguns destaques ficam para a geração de energia limpa, um setor onde o país já sai com um handicap favorável, com quase 50% da eletricidade gerada por hidrelétricas.

O Estado regula e estimula a geração de energia, mas empresas estão assumindo a vanguarda não apenas em investimentos, mas também em pesquisas para a inovação. Mesmo em áreas mais tradicionais, como a produção de cana-de-açúcar e álcool combustível, um biocombustível que já tem escala nacional, os avanços vão além do setor automotivo e a cogeração de eletricidade com o uso do bagaço da cana recebe investimentos pesados do BNDES. Este dado é relevante porque, segundo o professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia da USP, a ciência econômica “nunca estudou energia, ela só se interessa por ela quando se torna um bem escasso”. E isso explica, também, porque outras grandes empresas estão ampliando seu portfólio de investimentos nessa área, como a binacional Itaipu, que produz 20% da eletricidade utilizada no Brasil e quase 100% do que é usado no Paraguai. Recentemente a empresa criou uma Plataforma de Energias Renováveis que estuda e investe em geração a partir de fontes alternativas, como eólica, solar, biomassa e hidrogênio. Jorge Samek, presidente da Itaipu, explica que a cogeração a partir de dejetos animais, das criações de frangos e porcos “é uma alternativa capaz de gerar grandes volumes de energia, comparáveis aos de uma hidrelétrica de médio porte”, explica Samek. Um exemplo nessa direção é o Condomínio Ajuricaba, no Paraná, apoiado pela binacional, onde 33 propriedades usam biodigestores para fazer o tratamento dos dejetos da pecuária. Os resíduos produzem biogás, que é queimado em uma microcentral termoelétrica e o que sobra é utilizado como fertilizante.

Água

A economia inclusiva depende também da criatividade na resolução de alguns problemas que se arrastam há décadas, como a coleta e o tratamento de esgotos. Atualmente, 80% dos esgotos domésticos em todo o Brasil são despejados in natura no meio ambiente, o que é um enorme desperdício de recursos, uma vez que esse mesmo dejeto pode ser utilizado para a geração de eletricidade. No campo da água, mesmo detendo 13% da água doce superficial do planeta, o Brasil amarga a falta do recurso para a agricultura e para o abastecimento humano por questões climáticas, como no semiárido nordestino, ou no Sudeste, onde grande parte dos mananciais está contaminado por despejos de esgotos domésticos. A oferta de água de boa qualidade nas residências não é mais um problema grave nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas ainda não atinge todas as cidades do Norte e do Nordeste, onde a água precisa de atenção especial. No Nordeste, há projetos para a dessalinização da água de aquíferos e que conseguem ampliar a oferta do recurso, assim como programas de implantação de cacimbas, que armazenam a água de chuva. A Fundação Banco do Brasil (FBB), que financia projetos de tecnologia social, é atua na busca de soluções que amenizem o impacto da seca na região do semiárido. “Nosso objetivo é viabilizar estratégias de desenvolvimento local por meio de tecnologias que consigam estabelecer uma base para a qualidade de vida e o empreendedorismo”, diz Claiton Mello, gerente de educação e tecnologias inclusivas da FBB.

Da mesma forma, outras empresas, como o Walmart Brasil, atuam no desenvolvimento de tecnologias e processos que tenham potencial de transformar as relações econômicas por meio da eficiência no uso de energia e matérias-primas. Um trabalho realizado com fornecedores de diversos tipos de produtos buscou mais eficiência em toda a cadeia produtiva, de forma a tornar cada item menos impactante sob o ponto de vista ambiental. “Conseguimos números impressionantes de economia em quase todos os tipos de matérias-primas, água e energia”, explica Daniela de Fiori, vice-presidente de sustentabilidade. E o mais importante, quando grandes empresas atuam para melhorar o desempenho de seus produtos ou investem em inovação, é que isso tem um efeito cascata sobre toda a economia. “O impacto é muito maior, porque cada elo da cadeia de valor cobra mudanças de seus fornecedores”, explica o consultor Homero Santos, que atua em projetos de qualificação no Centro Sebrae de Sustentabilidade, um braço do Sebrae que prepara as micro e pequenas empresas para os desafios da nova economia.

Dal Marcondes é jornalista especializado em jornalismo econômico, diretor e editor responsável da Envolverde Revista Digital e presidente do Instituto Envolverde.

** Conteúdo produzido pela Envolverde e publicado originalmente no suplemento Carta Verde, na revista Carta Capital.