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Indonésia quer impor o verde

Jacarta, Indonésia, 21/6/2012 – O moderno estilo de vida dos estudantes é grande responsável pelas emissões de dióxido de carbono na Indonésia, alerta um estudo da Universidade Agrícola de Bogor (BAU), em Java Ocidental. “Em média, cada universitário joga fora dois sacos plásticos por dia, e há mais de três mil deles em nosso campus”, disse à IPS Popi Puspita Forestian, estudante da BAU.

Além dos sacos plásticos, os estudantes gastam muita energia elétrica com diversos aparelhos que consideram essenciais, como CD players e DVD players, videogames, televisores, telefones celulares, computadores e outros. “A maioria deles está consciente do custo para o meio ambiente de seu estilo de vida, mas não estão dispostos a ficar fora da moda”, afirmou Forestian. “Por isso decidimos trabalhar em como fazer para que as atividades verdes também estejam na moda”, destacou.

Outro estudo, este do Instituto for Essential Service Reform (IESR), com sede em Jacarta, confirmou que o estilo de vida moderno é o principal fator por trás das crescentes emissões de carbono, causadores da mudança climática. O IESR chegou à essa conclusão criando um sistema na internet (www.iesr.or.id/carboncalulator) que permite a qualquer pessoa calcular sua própria pegada de carbono por meio de informação atualizada de forma contínua.

“A classe média nas cidades da Indonésia são as principais contribuintes das emissões de gases-estufa, cerca de 50% do total, a maior parte gerada pelo uso de seus aparelhos eletrônicos”, explicou Henriette Imelda, pesquisadora do IESR. “O uso excessivo de artefatos eletrônicos impulsiona o consumo de eletricidade que, por sua vez, aumenta a emissão de dióxido de carbono (CO2)”, indica o estudo.

Java Ocidental é a província mais industrializada da Indonésia e a maior emissora de carbono do país, liberando cerca de 12.500 gramas de CO2 por habitante a cada dia. Banten, Java Central, Sumatra e Kalimantan não ficam atrás. Surpresa é a superpovoada e mal administrada Jacarta, com seus engarrafamentos diários, não estar entre as cinco cidades mais emissoras de carbono do país.

Java Ocidental é um importante centro de universidades e escolas, nas quais é maciço o uso de papel e onde as emissões de carbono são agravadas pelo uso de aparelhos eletrônicos, lâmpadas fluorescentes, televisores e secadores de cabelo, aponta o estudo do IESR. Na província há não menos do que 68 universidades, sendo 18 estatais, além de 130 escolas secundárias governamentais, milhares de instituições privadas e organizações não governamentais.

Cerca de 50% das emissões de carbono em Java Ocidental são geradas pelo uso de aparelhos eletrônicos, seguidos das lâmpadas incandescentes. O estudo propõe meios de iluminação eficientes e menos contaminantes. Além disso, a rápida expansão dos complexos habitacionais na província aumentou a demanda por eletricidade, o que representa maior pressão sobre a Corporação Nacional de Energia. Inclusive os sondaneses, o maior grupo étnico de Java Ocidental, também estão muito interessados em moda. “Eles seguem as tendências mundiais e compram os produtos mais modernos”, contou Imelda à IPS.

O IESR lançou uma campanha chamada Mulheres de Baixo Carbono, que consistiu no envio de voluntários para disseminar informações sobre as alterações climáticas e encorajar cada indivíduo a reduzir sua pegada de carbono. “As mulheres podem fazer muito na luta global contra as mudanças climáticas, e podem começar a calcular quanto de carbono produzem”, observou Imelda. Na BAU, Popi e 50 alunos sistematicamente coletam sacos de lixo e outros resíduos no campus. A equipe também promove o uso de sacolas de pano recicláveis, distribuindo-as gratuitamente. “Este ano, vamos dar a cada aluno uma bolsa muito elegante”, comentou Popi.

Este país do sudeste asiático, que se comprometeu com a redução das suas emissões de carbono em 26% até 2020, usa cada grupo social ou comunidade que pode ajudar a alcançar esse objetivo. Em 2005, o Banco Mundial apontava que a Indonésia era terceiro maior emissor de CO2, principalmente por causa do grande desmatamento em curso para a obter madeira ou abrir espaço para plantações, principalmente de palmeiras.

Segundo a organização Greenpeace, são liberadas grandes quantidades de gases-estufa com a destruição das turfas indonésias, que, acredita-se, armazenam 35 bilhões de toneladas de carbono. Embora a Indonésia não forneça informação anual sobre suas emissões, sabe-se que a queima de carvão para produzir eletricidade (principalmente para atender as demandas de investidores estrangeiros em indústrias “sujas”, como do aço, cimento e energia) disparou os níveis de contaminação.

Em setembro de 2011, este país anunciou um “plano de ação” para ajudar os ministérios e os governos locais a implantarem atividades baixas em carbono, algumas das quais são visíveis, como em Rajawati, um verde e exuberante bairro no sul de Jacarta. Ali, cada casa contribui com o cultivo de flores e árvores nutridas com dejetos orgânicos e biodegradáveis.

“Todo o verde que se vê aqui vem da conversão eficiente de dejetos caseiros”, afirmou Ninik Nuryanto, que preside a Associação de Mulheres de Rajawati. “Cada família cuida de separar o lixo, colocando todos os plásticos em um pote e todo o biodegradável em outro. No começo, o fertilizante feito com lixo orgânico era apenas uma forma de ajudar a cultivar flores em nossos jardins. Mas, quando a produção excedeu a demanda, começamos a vender”, relatou à IPS.

O dinheiro obtido com as vendas da Associação vai para um fundo destinado a financiar serviços públicos, como a pavimentação das ruas, reparo no sistema de esgoto e manutenção do parque comunitário. O principal objetivo, destacou Ninik, é envolver a comunidade em atividades verdes e conscientizá-la da importância de manter o equilíbrio com o carbono. Envolverde/IPS