David Cameron não defende a saída britânica da União Europeia, mas quer renegociar os termos de adesão. Foto: Peter Schrank

Enquanto a zona do euro luta para se manter unida, o Reino Unido está cada vez mais distante da União Europeia.

“Que a Europa surja!”. Esta foi a conclusão do discurso de Winston Churchill em 1946 em Zurique, apresentando sua visão dos “Estados Unidos da Europa”. O Reino Unido não seria parte deles, já que ainda tinha o seu próprio império e a Commonwealth. Mas Churchill disse que o Reino Unido, e outros, deveriam “ser os amigos e patrocinadores da nova Europa”.

Há algo do espírito de Churchill nos pedidos britânicos para que a zona do euro siga a lógica da integração e salve a moeda única – desde que o Reino Unido não esteja envolvido. Mas, enquanto Churchill foi muitas vezes visto como um antepassado do projeto europeu, as intervenções de David Cameron só parecem irritar os vizinhos.

Em parte, Cameron surge como alguém irritantemente triunfalista, embora a economia britânica tenha dívida e valores do déficit piores que, por exemplo, a França. Mais irritante é a perspectiva de que Cameron pode tentar segurar outros países como reféns, bloqueando movimentos para integrar a zona do euro, a menos, digamos, que eles concordem em afrouxar os laços do Reino Unido com a União Europeia (UE).

Todos estão cientes da agitação dos eurocéticos quanto a um referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE. Cameron diz que não defende a saída da união, mas quer renegociar os termos de adesão, e depois talvez colocar o resultado em uma votação popular. William Hague, o secretário das relações exteriores, lançou este mês uma auditoria da autoridade da UE.

Uma reflexão em separado sobre o futuro da UE, concentrando-se nos poderes a serem centralizados em Bruxelas, está ocorrendo entre vários chanceleres convocados pelo alemão Guido Westerwelle. Embora Hague seja um dos “Três Grandes” da União Europeia, ele não foi convidado. Além disso, Berlim está dizendo ao Reino Unido, sem rodeios, que “não será chantageada”. Uma preocupação é que a busca do Reino Unido pela renegociação possa desfazer décadas de compromissos complexos que criaram a UE de hoje. A maior preocupação é que isso vai prejudicar a capacidade da zona do euro de responder de forma decisiva para sua crise existencial.

As relações do Reino Unido com o resto da Europa podem ser redefinidas. Com o aval de Cameron, a União Europeia concordou em criar um único supervisor bancário da zona do euro, com base no Banco Central Europeu (BCE), até o final do ano. Fundos de resgate poderiam então ser usados diretamente para recapitalizar os bancos em apuros. Este poderia ser um passo importante rumo a uma maior partilha de riscos. Mas há muitas perguntas. Como distinguir entre a preservação da estabilidade financeira (uma questão para os 17 Estados da zona euro) e a preservação do mercado único de serviços financeiros (uma pergunta para todos os 27 membros da UE)?

Por enquanto, todos querem evitar um novo cenário negativo com o Reino Unido. Mas uma explosão pode acontecer por engano. O Reino Unido não é o único país onde as paixões antiUE estão aumentando. Talvez o euro acabe. Ou talvez ele se consolide. Ambos os resultados representam problemas para os britânicos e ambos vão reformular suas relações com o resto da Europa.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.