Washington, Estados Unidos, 2/8/2012 – Grupos ambientalistas estão preocupados com uma possível extensão das operações de perfuração petroleira no Ártico, enquanto grandes companhias, incluindo a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, preveem iniciar os trabalhos esta semana. A Shell planeja abrir três poços exploratórios no Alasca, nos Estados Unidos, um no Mar de Chukchi, no noroeste, e dois no Mar de Beaufort, no norte. A extensão permitirá à empresa perfurar o Ártico mesmo depois de vencidos os prazos originalmente estabelecidos pelas autoridades federais de 24 de setembro para Chukchi e final de outubro para Beaufort.
Contudo, os ativistas alertam que a extensão não seria outra coisa além de uma tentativa das empresas para recuperar o tempo perdido. “Seria uma ação realmente preocupante que modificaram limites”, disse à IPS o encarregado de imprensa da organização Greenpeace. “Não são capazes de colocar suas frotas em ordem. Querem mudar as regras para que a administração atenda suas necessidades”, acrescentou.
A Shell previa concretizar este mês suas operações no Ártico, mas estas sofreram vários reveses. Em junho, o navio de perfuração Noble Discoverer não recebeu autorização da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos por não cumprir os padrões de emissões, pois seus motores continham quantidades de óxido nitroso e amoníaco superiores às permitidas. No começo deste mês, o navio, ancorado em Dutch Harbor, o maior porto pesqueiro do Alasca, soltou as amarras e ficou a 30 metros da costa.
“Claramente não podem garantir a segurança no Ártico”, disse o subdiretor de campanhas do Greenpeace, Dan Howells. O ativista alertou que estender o prazo de perfuração seria “convidar para uma catástrofe maior em um dos ecossistemas mais delicados da Terra”.
Em fevereiro, o Escritório de Segurança e Cumprimento Ambiental (BSEE), do Departamento do Interior dos Estados Unidos, avalizou os planos da Shell para eventuais derrames. Assim, a firma superou um dos principais obstáculos no caminho para iniciar a perfuração. “Os recursos energéticos do Alasca, em terra e marítimos, convencionais e renováveis, oferecem grandes promessas de oportunidades econômicas para seus habitantes e para o restante da nação”, argumentou o secretário do Interior, Ken Salazar, em uma declaração.
“Na fronteira do Ártico a exploração cuidadosa, sob rígida vigilância e com medidas de segurança e planos de resposta de emergência, pode ajudar a melhorar nosso conhecimento da região e de seus recursos, e apoiar nossa meta de seguir incrementando a produção segura e responsável de petróleo e gás”, acrescentou o ministro. A Shell recebeu autorização inicial do governo de George W. Bush para perfurar o Ártico, mas a autorização final foi aprovada pela administração de Barack Obama.
Em resposta a esta aprovação, uma coalizão de uma dezena de grupos ambientalistas, incluindo o Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais, Sierra Club e Oceana, apresentou uma ação legal contra o Departamento do Interior, questionando o aval aos planos de resposta da Shell diante de eventuais vazamentos. O Greenpeace foi um dos principais críticos das perfurações no Ártico, e agora protesta agressivamente contra a possível expansão dos prazos. A organização usa especialmente as redes sociais para satirizar a Shell: criou uma conta no Twitter e um site falsos da companhia, bem como um jogo online chamado “Angry Bergs”, jogo de palavras com “angry” (raivoso, em inglês) e icebergs.
Lisa Murkowski, senadora pelo Alasca do opositor Partido Republicano, criticou as ações do Greenpeace, como a criação de uma “frota de protesto”. “O Greenpeace está anunciando que impedirá as perfurações de exploração em águas do Ártico, na costa norte do Alasca, neste verão boreal”, afirmou a legisladora em uma carta ao diretor da BSEE, James Watson. “Permitir intromissões de qualquer grupo que perturbem ou coloquem em risco as operações federalmente autorizadas é uma ameaça direta às operações seguras e coloca em perigo esses trabalhadores e nosso meio ambiente”, escreveu a senadora.
A Shell não é a única companhia que pretende extrair recursos na região. A petroleira norte-americana ConocoPhillips e a norueguesa Statoil também receberam autorização para explorar o Ártico norte-americano. Por sua vez, a ExxonMobil, a maior companhia energética do mundo, fechou um acordo com a Rússia. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, a agência governamental norte-americana dedicada a temas ambientais, o Ártico perdeu uma cobertura de gelo sem precedentes em junho (1,7 milhão de quilômetros quadrados) devido às alterações do clima.
A Shell, a companhia europeia mais lucrativa, já investiu US$ 4,5 bilhões na região desde 2006, sobretudo em licitações, autorizações e equipamento. Mas os potenciais riscos financeiros e ecológicos são desprezados pelas empresas diante das possibilidades de ganhos econômicos. Segundo estimativas do Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Oceano Ártico contém 12% do petróleo não descoberto da Terra, mais de 177 bilhões de barris. Também teria 25% do gás não descoberto, de aproximadamente 3,4 milhões.
Entretanto, outras empresas de petróleo se afastam da região por medo dos riscos. Na semana passada, a BP anunciou que abandonava um projeto de US$ 1,5 bilhão no Ártico, que mantinha há 14 anos, dizendo que este “não passou em seus exames” de segurança. A administração de Obama esclareceu que não haveria mais autorização para perfuração no Ártico até 2016, para permitir mais pesquisa na região. No entanto, tudo isso não dissuadiu a Shell. No dia 27 de julho a empresa assinou um acordo com a China National Offshore Oil Corporation para explorar gás e petróleo na China e na África ocidental. Trata-se da primeira incursão da Shell em águas chinesas em quase dez anos. Envolverde/IPS