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Clínicas rurais salvam vidas

O Centro de Saúde de Kakonko já está equipado para realizar cirurgias. Foto: Erick Kabendera/IPS

Kigoma, Tanzânia, 7/8/2012 – No Centro de Saúde de Kakonko, na zona rural da região de Kigoma, na Tanzânia, o assistente médico Abdu Mapinduzi se prepara para operar Joanitha, uma jovem grávida. Ela deu à luz outras três vezes por cesariana em um hospital regional, mas agora está feliz por ter o quarto filho em uma clínica rural perto de sua casa.

Estes novos centros têm capacidade para atender cerca de 50 mil pessoas que vivem em cada divisão administrativa, mas nem todos estão equipados para realizar cirurgias. São o nível de atenção médica mais direto depois da enfermaria em aldeias. A região tanzaniana de Kigoma se converteu em um dos primeiros lugares da África oriental a capacitar trabalhadores da saúde para clínicas rurais.

Depois da cirurgia, Joanitha disse à IPS que estava contente por poder ter seu filho de forma segura em um centro de saúde rural. O Centro de Kakonko agora está equipado para realizar cirurgias, incluindo cesáreas. “Uma amiga minha morreu no ano passado quando dava à luz em sua casa com uma parteira tradicional, e há cerca de quatro meses outra pariu um menino morto quando era levada para o hospital”, contou.

A Fundação Mundial Lung renovou cinco centros de saúde rural na região de Kigoma, incluindo o de Kakonko, dentro de um projeto-piloto iniciado em 2009. Vários trabalhadores da saúde foram capacitados em cirurgias básicas. “Podemos lidar com êxito com todos nossos casos complicados, e as mães dão à luz de forma segura”, detalhou Mapinduzi à IPS. O funcionário, que também é supervisor do Centro, disse que, “quando temos um parto complicado, é como se tudo parasse para salvar uma vida”.

Mapinduzi disse que desde quando o Centro começou a atender grávidas, em 2010, o número de partos aumentou de 20 para 120 ao mês, com média de seis cesáreas por semana. “Criamos uma rede em nível de base na qual se aconselha as mulheres com complicações a darem à luz em um centro de saúde ou no hospital do distrito”, acrescentou.

“Antes, algumas mulheres não entendiam a necessidade de virem ao centro de saúde, especialmente as que apresentavam complicações, porque sabiam que ninguém poderia ajudá-las. Algumas ficavam em suas casas e esperavam a graça de Deus, e outras iam a outros lugares”, afirmou o supervisor.

A Tanzânia tem uma alta mortalidade materna, de 578 mortes por cem mil nascidos vivos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a mortalidade média nos países em desenvolvimento é de 240 por cem mil nascidos vivos, contra 16 para cem mil nas nações do Norte industrializado.

Kate Gilmore, subsecretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), disse que o Sudão do Sul tem a maior mortalidade materna do mundo, com mais de duas mil mortes por cem mil nascidos vivos. Em um momento, a região de Kigoma teve o maior índice da Tanzânia, com 933 para cem mil, no começo da década de 1980.

Mas, então, o ginecologista Godfrey Mbaruku, subdiretor do Instituto de Saúde de Ifakara, a principal instituição de pesquisa em saúde da Tanzânia, lançou uma série de iniciativas de sucesso até reduzir a taxa para 186 por cem mil, em 1991. Embora não haja estatísticas recentes disponíveis, a mortalidade materna nesta região é considerada menor do que o restante do país.

Foi o trabalho de Mbaruku que inspirou sócios no desenvolvimento a unirem-se ao projeto. O médico disse à IPS que isso permitiu equipar centros rurais para que realizassem cirurgias. “A maioria dos tanzanianos vive em áreas rurais, e só pode ser brincadeira sugerir que devem receber serviços em hospitais regionais ou de distrito. As mães não morrem por doenças crônicas, mas por casos de emergência”, explicou.

O coordenador do projeto na região de Kigoma, Amri Mulamuzi, disse à IPS que uma combinação de fatores ajudou a reduzir as mortes maternas. “Também equipamos todos os centros de saúde com ambulâncias, para poderem levar os casos complicados aos hospitais distritais ou regionais. Além disso, iniciamos campanhas no terreno, em colaboração com os governos locais, para garantir que todas as grávidas soubessem da importância do exame pré-natal”, destacou.

Embora os centros de saúde de Kigoma sejam um êxito, ativistas pela saúde temem que programas como este não possam ser mantidos no tempo por dependerem muito de doadores, podendo fechar quando estes reduzem sua colaboração. Por exemplo, o Projeto de Apoio à Redução da Mortalidade Materna, que começou em 2006, e é implantado como teste em três regiões, recebe apenas 10% de seus fundos do governo, o restante vem de doadores.

Irenei Kiria, diretor-executivo da Sikika, organização não governamental que trabalha pela qualidade dos serviços de saúde, disse à IPS que não haverá mudanças significativas na mortalidade materna se não houver maior investimento do governo. “As coisas no terreno devem mudar para que o governo possa demonstrar que realmente deseja trabalhar pela saúde materna”, acrescentou. Mbaruku concorda. “Não de pode esperar que os doadores ajudem a fazer isto. O governo deve comprometer seus próprios recursos para reduzir a mortalidade materna”, afirmou. Envolverde/IPS