Projetos sociais esportivos mudam autoconceito de crianças

Projetos sociais têm como foco principal a inclusão social e o desenvolvimento da cidadania de seus participantes. Os que são voltados ao esporte não podem ser diferentes. Em pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, verificou-se que, dependendo da metodologia e das prioridades de projetos sociais esportivos, os participantes podem sofrer resultados positivos ou negativos.

Crianças que participaram do PET, no CEPEUSP, tiveram melhora no autoconceito. Foto: Paula Bassi.

Crianças que participaram por um ano do Projeto Esporte Talento (PET), desenvolvido no Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP), foram comparadas a crianças de escolas públicas que não participam de projetos sociais esportivos e crianças que participam de outros projetos sociais. O professor de educação física Elder Regis Deorato Marques, autor da pesquisa, analisou o autoconceito dos participantes, isto é, a forma como a pessoa se vê sob diversos aspectos. Os resultados indicaram que o autoconceito global do grupo participante do PET melhorou ao longo do período de um ano; o do grupo que não participou manteve-se similar; já o grupo das crianças que participaram de outros projetos sociais piorou no decorrer da pesquisa.

O estudo foi desenvolvido em sua dissertação de mestrado, defendida em março de 2012, com a orientação do professor Antonio Carlos Simões, que coordena o Laboratório de Psicossociologia do Esporte da EEFE. Suas conclusões apontam para a importância de estudar a metodologia correta acerca do esporte com crianças e de escolher corretamente as prioridades do projeto. “O esporte pode contribuir para a melhoria do autoconceito da pessoa, não apenas em relação à dimensão motora, mas também em outros aspectos do desenvolvimento humano”, explica Marques. O PET tem uma proposta pedagógica que fez com que os participantes da pesquisa pudessem apresentar melhoria não apenas do autoconceito global, mas também nas dimensões intelectual e social.

Inclusão ou exclusão

“Um projeto social esportivo não deve ter como único foco a dimensão motora, pois o objetivo não é a formação de atletas. A prioridade destas instituições deve ser a formação social de seus participantes”, afirma o professor. A preocupação em formar atletas levariam à exclusão daqueles que não chegassem a esse objetivo.

A percepção de competência é um dos fatores determinantes que levam à motivação para a prática esportiva, bem como à sua desistência. Na pesquisa, Marques mostra como a percepção de competência deve ser considerada no desenvolvimento de um programa esportivo, para evitar a desmobilização em relação ao esporte.

A percepção da competência negativa em um esporte leva à desmotivação e, muitas vezes, à desistência. Do outro lado, a competência positiva traz motivação para a prática esportiva. Foto: cedida pelo pesquisador.

 

Incentivos

Desde a década de 1990, observa-se o aumento da quantidade de projetos sociais esportivos. A Lei de Incentivo ao Esporte, criada pelo governo federal em 2006, é um mecanismo legal que tende a facilitar a criação e manutenção destas instituições, por meio de incentivos para empresas que financiarem esses projetos.

Contudo, segundo Marques, é necessário uma postura crítica sobre estas parcerias entre o Estado, a iniciativa privada e o terceiro setor. O direito ao esporte é constitucional, e deve-se analisar se ele está sendo realmente garantido por meio destas ações. Projetos sociais esportivos têm sua importância, mas não podem ser a única alternativa de práticas esportivas para a população.

* Publicado originalmente no site Agência USP.