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Mulheres criam frangos para lutar contra a pobreza

Nouakchott, Mauritânia, 22/8/2012 – Fatimetou Mint M’Barkenni espera que no terreno agora vazio logo se volte a ouvir o piar dos pintinhos que cria, dentro de um projeto-piloto para melhorar a segurança alimentar na Mauritânia. “Uma primeira leva de frangos que criei vendi em junho, agora espero que o Prolpraf me dê a segunda, houve uma demanda enorme”, contou esta mulher de 53 anos à IPS.

O Prolpraf, Programa de Desenvolvimento da Cadeia de Valor para Reduzir a Pobreza, é um projeto do governo de Mauritânia e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Ifad), que tem o objetivo de fortalecer a segurança alimentar incentivando a produção doméstica de verduras, tâmaras, leite, carne vermelha, junto com produtos da floresta e avícolas, entre outros.

“A Unidade de Produção de Frangos da localidade de Bourate é um presente de Deus, especialmente em períodos de muita seca, quando há graves problemas de desnutrição”, disse M’Barkenni. “Esta iniciativa é vital para as mulheres porque os homens foram procurar trabalho em grandes cidades como Nouakchott e Nouadhibou”, acrescentou.

Mariem Mint Sidi é a responsável por outro criadouro avícola em Foum Gleita, no sudeste do país. Está orgulhosa pelo que aprendeu sobre criação e cuidado com frangos. Também está encantada com o preço acessível. “É possível comprar um frango de 2,5 quilos bom e nutritivo por US$ 6”, afirmou.

Os dois criadouros, de Bourate e Foum Gleita, receberam em junho 1.600 recém-nascidos importados do vizinho Marrocos, explicou Ahmed Ould Sidina, assistente de produção animal do Prolpraf. Para o projeto foi escolhida uma variedade de rápida engorda chamada Cobb500, criada nos Estados Unidos para reduzir o custo de sua alimentação.

“Os frangos se adaptaram perfeitamente às condições de calor extremo (40 graus à sombra) e morreram apenas 34 dos 1.600”, disse Ahmed Ould Brahim Khlil, veterinário do Prolpraf. Os frangos foram imunizados contra as doenças de Gumboro e Newcastle, comuns na Mauritânia, e as responsáveis receberam capacitação sobre como limpá-los e lhes dar vitaminas, acrescentou. Cada uma das unidades custou US$ 10 mil entre construção do estabelecimento, compra de frangos e seu alimento, bem como instalação de canos para água, isolamento térmico, iluminação e refrigeração à base de energia solar. Mint Sidi e M’Barkenni são voluntárias do projeto, que ainda está em sua fase-piloto.

Os ganhos desta fase permitiram reunir um capital operacional de cerca de US$ 3,5 mil, que serão usados para comprar novos frangos e seu alimento. A próxima ordem de dois mil exemplares é esperada para os próximos dias, disse Khlil. “A avicultura em áreas de extrema pobreza tem como meta garantir uma produção local sustentável, estimular atividades que gerem renda e criar emprego”, disse Mohamed Ould Abdallahi, coordenador do Prolpraf.

Com os US$ 4,17 milhões do Ifad, o Prolpraf pretende reduzir a perda de divisas substituindo de forma gradual as importações com produtos locais. O objetivo geral do programa é fortalecer as condições de vida e renda, em particular de mulheres e jovens, destacou Abdallahi.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Rural, os mauritanos comem cerca de 11 mil toneladas de frango por ano, entre três e quatro quilos por pessoa. A demanda avícola do país é em parte coberta com a produção local, mas a maioria é importada. São compradas a cada ano cinco mil toneladas de animais congelados e 40 mil exemplares de recém-nascidos.

Do mesmo modo, apenas um terço dos cinco milhões de ovos consumidos anualmente é produzido no país. O custo de importar ovos, frango congelado ou em pé e seu alimento, bem como equipamentos e outros insumos, é estimado em US$ 18 milhões ao ano, segundo Moktar Fall, assessor em matéria aviária do Ministério do Desenvolvimento Rural.

O presidente da Associação Nacional de Produtores Avícolas, Abdallahi Ould Nabgha, disse que há 60 granjas perto de Nouakchott e das cidades de Nouabhibou, no oeste, e de Rosso e Sélibaby, no sul. “A indústria avícola emprega dez mil pessoas, sem contar os setores de subprodutos, como esterco, utilizado como fertilizante orgânico, e penas, empregadas na fabricação de espanador para limpar computadores”, afirmou.

Nabgha também criticou a falta de infraestrutura do país, que obriga a importar os frangos, seu alimento e equipamentos. Para amenizar essa situação, o governo assinou em julho acordo com um empresário local para construir um complexo avícola em Nouakchott no valor de US$ 34 milhões. Com as obras concluídas, em 18 meses, o centro poderá produzir 20 mil toneladas de frango, 15 milhões de ovos e cerca de 120 mil toneladas de alimento por ano, ressaltou à IPS o diretor de investimentos do Ministério das Finanças, Yahya Ould Abdeldayem.  Envolverde/IPS