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Figuras públicas constroem latrinas

Exemplo de latrina em Maputo, Moçambique. Foto: livaningo.org.mz

Ouagadougou, Burkina Faso, 4/9/2012 – Para a maioria da população de Burkina Faso, ir ao banheiro significa ir ao morro. Por isto, o governo lançou uma campanha para acabar com essa situação, e recorreu a destacadas figuras para promovê-la. “É uma iniciativa baseada na solidariedade entre pessoas e comunidades, para acelerar a construção de latrinas e terminar com a defecação ao ar livre, prática generalizada, mais ou menos, em todo o país, bem com reduzir as enfermidades derivadas da falta de higiene”, explicou Halidu Koanda, da organização não governamental WaterAid.

Em 2011, esta ONG e o Ministério de Água e Agricultura realizaram uma pesquisa nos povoados natais de 70 personalidades de diferentes setores, legisladores, ministros e ex-presidentes, bem como empresários e esportistas. “Ao visitarmos os lugares, encontramos o mesmo em toda parte, a quantidade de defecação ao ar livre rondava os 95%”, detalhou Koanda à IPS. “Em zonas rurais não é raro certas personalidades terem problemas para oferecer às visitas um lugar onde possam fazer suas necessidades”, acrescentou.

Segundo um estudo do Instituto Nacional de Demografia e Estatística (INSD), em 2010 o acesso a um banheiro dentro de casa era de 3,1% em todo o país. Quase 10% dos lares urbanos têm latrinas, enquanto nas zonas rurais esse índice cai para menos de 1%. “O governo e seus sócios destinam dinheiro ao saneamento, mas a quantidade de projetos terminados a cada ano não nos permitirão alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM) das Nações Unidas, afirmou Marie Denis Sondo, diretora-geral do departamento encarregado de esgoto e excrementos no Ministério de Água e Agricultura.

Diante do lento avanço em matéria de higiene e saneamento, o governo e seus sócios lançaram uma campanha nacional de conscientização e mobilização em 2010. Ao seu final, haviam sido construídos 617 mil latrinas e 13,2 mil banheiros públicos ao custo de US$ 120,7 milhões. Contudo, os recursos reunidos por governo e doadores não bastam para construir latrinas suficientes e cumprir o objetivo de reduzir pela metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso sustentável a água potável e serviços básicos de saneamento, advertiu Koanda.

“Personalidades públicas devem dar apoio econômico para construir latrinas, bem como parte de seu tempo para conscientizar e mobilizar pessoas para que sejam priorizadas questões de higiene e saneamento”, afirmou Sondo à IPS. A resposta a esse chamado veio de bem alto, como do primeiro-ministro, Luc Adolphe Tiao, originário da localidade de Puni, cem quilômetros ao sul da capital. O prefeito, Dominique Ido, disse à IPS que ali a situação é mais ou menos a mesma que em outras áreas rurais do país.

Segundo Ido, “há pouquíssimas casas com banheiro próprio no povoado. Talvez, 2%. Há banheiros comunitários nas escolas e em outros lugares públicos, mas as pessoas não os usam à noite. Esperamos poder reunir a maior quantidade de pessoas em torno desta iniciativa para aumentar o número de banheiros até 2015”. Em agosto, o primeiro-ministro fez sua contribuição. “O governo decidiu em fevereiro que cada um deveria fornecer latrinas ao seu povoado ou bairro. Assim, construí 30 no meu, com a esperança de que este gesto leve outros a fazer o mesmo”, contou Tiao. “O saneamento se tornou um verdadeiro problema em nosso país, e é um indicador importante do desenvolvimento”, ressaltou.

Para conseguir dinheiro, o governo e seus sócios organizaram uma “maratona pelo saneamento”, no rádio e na televisão públicos, que arrecadou cerca de US$ 170 mil. “Foi a primeira vez, mas foi um esforço com sucesso. Agora o governo quer repetir a iniciativa em cada região, para que as personalidades de cada uma se solidarizem com as autoridades, para que a questão dos banheiros já não seja apenas um assunto do governo”, pontuou Koanda.

O ministro do Comércio, Arthur Kafando, contou que sua aldeia, Rayongo, nos arredores de Ouagadougou, é uma área subdividida há pouco e que carece de saneamento. “Construí uma dezena de latrinas. Quero ajudar as pessoas a compreenderem a importância deste assunto para seu bem-estar. Assim, apelaremos a muitas outras pessoas para que nos ajudem”, acrescentou.  Envolverde/IPS