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Jovens prisioneiros da miragem das estatísticas trabalhistas

Genebra, Suíça, 5/9/2012 – As estatísticas de emprego podem apresentar uma ilusão e chegar a mostrar, por exemplo, que o desemprego juvenil tende a baixar nos países industrializados, até agora os mais castigados pela crise econômico-financeira global. Foi o que ocorreu com a divulgação das últimas previsões da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a tendência do emprego de pessoas entre 15 e 24 anos no mundo e em suas diferentes regiões.

O estudo, divulgado ontem, é preocupante desde seu título: Panorama Mundial do Emprego: Perspectivas Pouco Promissoras Para os Jovens no Mercado de Trabalho. Contudo, ao examinar a situação por regiões ou grupos de países, a OIT projeta que o desemprego juvenil cairá nas nações industrializadas dos 17,5% dos ativos calculados para este ano para 15,6% em 2017. Em comparação, a taxa mundial de desemprego para esta faixa etária subirá de 12,7% para 12,9% no mesmo período.

Na Ásia oriental, que inclui a China, crescerá de 9,5% para 10,4%. No sul da Ásia, que inclui a Índia, o desemprego subirá de 9,6% para 9,8% entre os jovens economicamente ativos, e no sudeste dessa região e no Pacífico passará de 13,1% para 14,2%, enquanto no Oriente Médio subirá de 26,4% para 28,4%. Quanto à região formada pela América Latina e pelo Caribe, se registrará este ano uma taxa de desemprego entre os jovens de 14,6%, chegando a 14,7% em 2017, enquanto a oscilação deste indicador na Europa central e do sudeste será de 16,9% para 17%, segundo as mesmas projeções da OIT. Apenas o norte África da seguirá a descendente que mostram os países industrializados, com o desemprego previsto para este ano em 27,5% dos jovens em atividade, com uma projeção de queda até 26,7% dentro de cinco anos.

A redução do desemprego juvenil no mundo industrializado explica-se por uma característica peculiar dessas nações, de que os jovens podem abandonar o mercado de trabalho (deixam de ser economicamente ativos) pois têm a possibilidade de viver dos recursos de suas famílias, ao contrário dos jovens de países em desenvolvimento.

A única alternativa que resta aos jovens do Sul é se integrarem ao mercado de trabalho informal, por exemplo, como ambulantes ou algo do tipo, explicou à IPS o autor principal do estudo, Ekkehard Ernst. Este especialista, responsável pela Unidade Tendências do Emprego, da OIT, concordou que as estatísticas sobre desemprego não oferecem um quadro completo do problema enfrentado pelos mercados profissionais em algumas regiões.

Ernst também descartou que, ao mostrar uma queda do desemprego juvenil nos países industrializados, as estatísticas projetem uma recuperação de suas economias. Esses números não mostram necessariamente que o mercado de trabalho volte a florescer para os jovens desses Estados ricos, afirmou. Apenas demonstram que a quantidade de jovens que buscam trabalho diminui em relação aos que já estão ativos, esclareceu. Isto acontece parcialmente por um aumento do número de postos de trabalho, porém, o mais importante se relaciona com o fato de que as pessoas jovens que abandonam atualmente o mercado de trabalho ficam cada vez mais sem trabalhar, destacou.

Quanto ao desemprego global, totalizando jovens e adultos, mulheres e homens, a OIT estima que o indicador chegará ao final deste ano a 6%, aumentará em 2013 para 6,1% e depois se estabilizará novamente em 6% dos ativos até 2017. Na Ásia oriental e no sudeste asiático, e também no Pacífico, se registra este ano um aumento, embora pequeno, no desemprego geral. Para a primeira região se prevê aumento do desemprego de 4,4% este ano para 4,7% em 2017, enquanto na segunda se passará de 4,5% para 4,6% no mesmo período.

As nações industrializadas, incluída a União Europeia, verão diminuir o desemprego geral de 8,6% em 2012 para 7,8% da população economicamente ativa em 2017. Na Europa central e no sudeste cairá de 8,4% para 8,2%. Na Ásia meridional, o desemprego se manterá invariável em 3,8% até 2017, prevê a OIT, afirmando que o mesmo ocorrerá na América Latina e no Caribe, com uma taxa permanente de 7,2%. No Oriente Médio, o desemprego geral subirá de 10,1% em 2012 para 10,4% em 2017. Já no norte da África cairá de 10,8% para 10,5% dentro de cinco anos, enquanto na região subsaariana a contração projetada é de 7,8% para 7,7% em 2017.

Ernst atribui as debilidades dos mercados de trabalho ao fato de, apesar de a crise ter começado nos países ricos, atualmente ela se espalhar pelo mundo por meio de seus efeitos no comércio internacional e afetar principalmente o setor industrial. Além disso, segundo o especialista, desde meados de 2011 se registra uma queda dos preços dos produtos industrializados e alguns países grandes exportadores desses bens foram duramente golpeados pelo fenômeno. Ernst admitiu que nos próximos dois ou três anos serão vistas as consequências deste fenômeno nos mercados de trabalho. Envolverde/IPS