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Economia de Gaza vestida para morrer

O que resta da fábrica de roupas de Rizk Al-Madhoun. Foto: Eva Bartlett/IPS

 

Jabaliya, Palestina, 13/9/2012 – “Começamos em 1992 com sete máquinas de costura. Em 2005, tínhamos 250 máquinas e igual quantidade de costureiras”, contou Rizik Al-Madhoun, de 41 anos, na fábrica de roupas que precisou fechar por causa do sítio israelense. “Em 2006, após a eleição do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica) e de Israel fechar as fronteiras, tivemos que fechar metade da fábrica. E paramos toda a produção em 2007, quando Israel intensificou o sítio”, acrescentou.

Localizada em Jabaliya, a fábrica de Madhoun faz parte dos 97% de instalações industriais da Faixa de Gaza que, em 2008, deixaram de produzir, pelo fechamento de fronteiras imposto por Israel, com apoio internacional. O sítio limitou as importações e praticamente interrompeu todas as exportações. Em dezembro de 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) já reportava que apenas 1% das 960 fábricas de roupas de Gaza permaneciam abertas. Hoje, 80% continuam fechadas ou operando com capacidade mínima.

“Até 2005, nosso trabalho ia bem. Fabricávamos camisetas, roupa íntima, jeans, vestidos, saias, uniformes escolares e tudo o que o mercado pedisse. Como nosso produto era de alta qualidade, 80% exportávamos para Israel e parte para a Europa”, disse Madhoun. Seus operários estavam entre os 40 mil costureiros e alfaiates de Gaza. “Antes de fechar, empregava 250 desses profissionais de alta qualidade e mais cem que trabalhavam em suas casas. Além disso, 50 famílias faziam o acabamento e retoques finais em suas casas”, detalhou.

Andar pelo amplo armazém que foi a fábrica de Madhoun permite ver quanto espaço está inutilizado, com pouca área ocupada por roupa barata importada. “Agora só temos uma grande área de armazenamento. Não há maneira de tocar nossa fábrica, por isso vendemos estes produtos importados nos mercados de Gaza”, afirmou. A ONU informou, em junho, que “a permanente proibição do transporte de mercadorias de Gaza para seus mercados tradicionais na Cisjordânia e em Israel, junto com as severas restrições ao acesso a terras agrícolas e a água onde pescar, impedem o crescimento sustentável e perpetuam os altos níveis de desemprego, insegurança alimentar e dependência de ajuda”.

Segundo a organização israelense de direitos humanos Gisha, 85% das exportações de Gaza seguiam tradicionalmente para Israel e Cisjordânia. A Gisha lembra que não tem base o argumento da segurança para proibir as exportações. “Há pouco foi instalado um novo escâner para examinar as mercadorias” no posto de controle fronteiriço, afirmou em junho um comunicado dessa organização. A organização acrescentou que, segundo oficiais militares israelenses, “a decisão de impedir a venda de mercadorias de Gaza em Israel e na Cisjordânia foi tomada na esfera política, onde deve ser resolvida”.

Segundo o Centro Palestino para os Direitos Humanos, as exportações de Gaza em março deste ano foram apenas “1,28% das anteriores ao sítio, e as de abril apenas 0,85%”. O desemprego afeta 35% da população adulta economicamente ativa de Gaza e 65% da população jovem, enquanto 80% da população depende da ajuda alimentar para levar comida à mesa. “Uma área urbana não pode sobreviver sem estar conectada”, disse, no dia 27 de agosto, Maxwell Gaylard, funcionário da ONU, reiterando a necessidade de abrir as fronteiras de Gaza ao comércio.

A região “está isolada desde 2005”, diz o comunicado das Nações Unidas, “ou seja, no longo prazo sua economia é inviável nas presentes circunstâncias. No momento, Gaza se mantém viva mediante financiamento externo e a economia dos túneis ilegais”. “Espera-se que a economia de Gaza cresça modestamente e que a população esteja pior em 2015 em comparação com meados da década de 1990”, dizia em agosto a declaração de imprensa anunciando a publicação do informe Gaza em 2020: um lugar habitável?.

Esse documento, publicado pela ONU, insiste que os palestinos da Faixa de Gaza “devem obter logo acesso ao mundo que está além da faixa com fins religiosos, educativos, médicos, culturais, comerciais e de outros tipos”. Rizik Al-Madhoun simplifica o pedido: deixem as exportações saírem. “Como temos tão poucas opções de trabalho, alfaiates e costureiras de Gaza nos aperfeiçoamos. Podemos confeccionar roupas de qualidade tão boa ou melhor do que as turcas importadas, mas, sem mercado, que sentido tem?”. Envolverde/IPS