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Uganda se ilude com venda de petróleo à China

O Estádio Nacional Nelson Mandela, conhecido como Namboole, foi construído pelos chineses a dez quilômetros de Kampala. Foto: Ronald Kabuubi/IPS

 

Kampala, Uganda, 20/9/2012 – Há oito anos que Uganda iniciou negociações com a China para vender em condições favoráveis seis grãos de café, e ainda não consegue um intercâmbio comercial proveitoso com a segunda maior economia do mundo. Mas este país africano pode aplainar o caminho se melhorar sua agricultura e vender petróleo ao gigante asiático, que está se convertendo em um jogador dominante da economia africana.

“Há desequilíbrio, mas a brecha se fechará na medida em que houver esforços para diversificar a base exportadora”, disse à IPS o diretor-executivo da consultoria financeira Alpha Partners, Stephen Kaboyo, com sede em Kampala. “A China é uma nação de grande consumo, com um mercado de massa, e os produtos agrícolas e o petróleo terão grandes nichos ali. A demanda chinesa por petróleo já é tão grande que determina o preço internacional”, destacou.

Em 2004, Uganda negociou um acordo comercial preferencial para colocar seu café na China, que levou à criação da Uganda Crane Coffee, uma empresa de risco compartilhado entre a Autoridade Ugandense para o Desenvolvimento do Café e o Beijing North Star Industrial Group, para promover os grãos ugandenses no país mais povoado do mundo. Entretanto, segundo dados da embaixada ugandesa na China, na primeira metade de 2010, entraram no mercado chinês apenas 2.200 toneladas de café em grão, no valor de US$ 7,6 milhões.

Uganda é o segundo maior produtor africano de café em grão, depois da Etiópia, e exporta anualmente 180 mil toneladas, a maior parte para o mercado europeu. A promoção de outros bens ugandenses na China, como cacau, algodão, madeira, concentrado de cobre, peles e couros, elevou as vendas de insignificantes US$ 15 mil, em 2003, para US$ 26,7 milhões em 2011, segundo o Escritório de Estatísticas de Uganda. Já Pequim tem outros números. O embaixador chinês neste país, Zhao Yali, estima que as compras de seu país em Uganda chegaram a US$ 40 milhões no ano passado.

No entanto, qualquer das duas cifras fica diminuta ao lado dos valores das exportações da China, que se converteu em 2011 no terceiro maior fornecedor de Uganda, com bens avaliados em US$ 522,5 milhões. Há nove anos, as vendas chinesas somavam US$ 70 milhões. Isto se deve “aos preços competitivos e a produtos que se adaptam” às necessidades, segundo Moses Kalule, diretor-executivo da Associação de Comerciantes de Kampala, em entrevista à IPS. Calçados esportivos, roupas, motocicletas, bicicletas e peças de reposição, artigos de borracha, produtos farmacêuticos e equipamentos para telecomunicações, eletrônica e medicina encabeçam a lista de vendas para Uganda, segundo o Ministério de Comércio da China.

A entrada chinesa no comércio varejista em Uganda foi muito favorável para eles, pois podiam obter produtos muito baratos em seu país, para desvantagem dos importadores ugandenses, que não conseguiam os mesmos preços, explicou Kalule. Porém, o controle exercido sobre os comerciantes chineses dedicados à venda no varejo eliminou essa competência desleal, acrescentou Kalule, sem se estender sobre o assunto. A Índia continua sendo o primeiro sócio comercial de Uganda, para quem vende US$ 928 milhões. O Quênia ocupa o segundo lugar, com exportações no valor de US$ 671 milhões.

Uganda quer elevar suas vendas para a China a uma média anual de 25%, indicou Kaboyo. Para isso, é preciso melhorar a produtividade agrícola, em particular a de produtos básicos com alta demanda, disse à IPS o acadêmico e economista Paul Mugerwa, da Bugema University. “O governo deveria traçar essa estratégia na medida em que aumentarmos nossa produtividade”, destacou.

A China também é origem importante de investimento estrangeiro direto. Entre 2009 e 2010, foi a primeira fonte de investimentos previstos para projetos autorizados. Pequim investiu US$ 246 milhões em 31 projetos de setores como curtume, alimentos processados, negócios imobiliários, tecnologia da informação e das telecomunicações, segundo a Autoridade de Investimentos de Uganda. Os investimentos chineses entre 1993 e 2011 somaram US$ 596 milhões. Neste país operam 265 empresas chineses, que empregam 280 mil pessoas, segundo declarações do embaixador Zhao ao jornal estatal New Vision, o mais importante de Uganda.

“Os investidores chineses podem melhorar e ampliar a reduzida base industrial de Uganda”, declarou à IPS o pesquisador Lawrence Bategeka, do Economic Policy Research Centre. Yanli Ren, segundo secretário da embaixada chinesa, concorda: “As empresas da China participam da construção e das fábricas porque há políticas que favorecem seus investimentos. Essas atividades ajudarão Uganda a reduzir suas importações”.

O recém-descoberto petróleo e vários minerais já atraem investimentos chineses. “A descoberta, em 2006, de petróleo e de abundantes recursos minerais certamente atrairá muitos jogadores, inclusive empresas chinesas”, afirmou à IPS o analista Arthur Nsiko, que trabalha no banco de investimentos African Alliance Uganda Ltd. “O petróleo permitirá abater o déficit comercial, pois absorve 8% das importações”, detalhou.

A corporação China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) já participa de atividades petroleiras, depois de adquirir, em fevereiro, um terço dos blocos da Tullow Oil Plc, com sede em Londres. A CNOOC e a francesa Total combinadas adquiriram US$ 2,9 bilhões em ações dos dois campos de petróleo. A produção ugandense de petróleo começaria em 2014, com cerca de dez mil barris por dia destinados à geração elétrica, segundo o governo. A primeira etapa de construção de uma refinaria está prevista para um ano mais tarde. Sua capacidade será de 60 mil barris. Envolverde/IPS